segunda-feira, 30 de junho de 2014

Palavras minhas, para quê? Leiam estas...

A NAUSEA
Conhecem aquele tipo de beatas ou ratas de sacristia, essas matronas que se apoderam das igrejas católicas, mudam as dálias do altar, barricam o acesso aos padres e lhes engomam os paramentos em êxtases ambíguos, destratando os humildes e adiantando-se nas naves para serem as primeiras a comungar, de olhos em alvo e estendendo, papudas, as mãos à hóstia? Essas, precisamente! E sabem por que motivo me enervam mais do que qualquer pecador cristão? É simples: porque não pecam na casa delas, mas na de Jesus.Ora bem. É seguindo a mesma lógica que certos socialistas me revoltam mais do que qualquer burguesia exploradora, pelas mentiras, falcatruas e conspiratas que fazem, servindo-se dos clichês humanistas para depois se borrifarem nos pobres, aburguesando-se num crescendo assustador e apoderando-se, um a um, de todos os confortos dos ricos ou do que entendem por «alta sociedade»: o carrito de luxo, a casita com piscina, a contita na Suiça - tudo ambições humanas, mas anãs.Ao contrário, a Direita, sendo egoísta, comodista, diletante, individualista - tudo o que quiserem, reconheço - ao menos não mistifica as suas prioridades!Em suma: não há partidos, há pessoas, e a ambição é comum às duas margens, já o sabemos. Mas a de alguns socialistas é tão execravelmente hipócrita que acaba por enojar quem, como eu, neta de salazaristas, foi tão pronto a entender a bênção da democracia que chegou a dar-lhes, penitente e escrupuloso, o benefício da dúvida.O exemplo começou com o mais emblemático dos paladinos da liberdade e da justiça: El Rei Dom Mário Soares e os seus sucessivos citroëns de luxo, personalizados como um monograma, os tailleurs Chanel da Maria Barroso, talhados no Ayer, e as suas casinhas na cidade, serra e praia, para se aquecerem ou refrescarem consoante as estações do ano - e, finalmente, até uma Fundação para se distraírem na reforma; décadas depois, a coisa refinou: temos o Sócrates a vestir-se por estilistas da Rodeo Drive de Los Angeles, a ministrada anti-fascista a rolar em séries 5, e os quadros estratégicos das empresas públicas a ganharem salários que nem os banqueiros ganham - mete nojo!(Atenção: escreve-vos a sobrinha de um Director Geral do Turismo *, casado e com cinco filhos, de rendimento modestíssimo, que, em Abril de 74, foi enjaulado em Caxias como um vulgar delinquente por alegado crime de peculato, por gastar - segundo a grelha da (in)Justiça Revolucionária - «demasiada água do Luso»! Miseráveis: não lhe arranjaram mais nada! E agora digam-me: visitar um tio na prisão por servir garrafas de água, nas funções representativas que ocupava, e ter de encará-lo atrás das grades prostrado pela desonra, para agora ver esta maltosa arrivista em lugares-chave, alguns deles profundamente desconhecedores de maneiras ou protocolo, a jantarem no Eleven e a regarem-se a Chivas?)Palavra de honra: antes os políticos comunistas e bloquistas – autistas no seu radicalismo anacrónico e obviamente perigosos num cenário de poder – mas, apesar de tudo, com outra face, outra decência, outra coerência doutrinária!E digo-vos mais: nem deveria ser gente como eu, apenas crítica ou sangrando sobre os escombros de uma pátria pilhada e demolida, a revoltar-se, mas os próprios socialistas, honestos e convictos da consistência da sua ideologia, a demarcarem-se, exigindo o afastamento de quem tão gravemente os embaraça, compromete e, por associação, os arrasta para este lodo de troça e de descrédito!E só digo mais isto: coitados dos militares de Abril, analfabetos, que alinharam: foram usados! Cravos, sim, mas foi para lhes pregarem as mãos!
Texto de Rita Ferro

domingo, 15 de junho de 2014

Um sôco, em vez dum obrigado

Sofrer um fanico, um desmaio (os antigos diziam encobriu-se-lhe o coração) estamos todos sujeitos e por várias causas. É frequente acontecer, mas na maior parte das vezes nem chega ao domínio publico, há sempre alguém a acudir, e depois já passou. Porém no passado dia dez de junho, a vítima foi o Presidente da Républica de Portugal, que no momento em que estava a usar da palavra, fanicou. Não é nada agradável, inesperadamente vermos uma pessoa vergar os joelhos e cair ao chão, há que ajudar e evitar a queda, e assim aconteceu felizmente, e o facto em parte desagradável, já ficou para trás e sem consequências.
Vi parte deste episódio pela televisão, e mesmo sem procurar, acabei por  recordar algo que tem a ver com situações idênticas, vividas há alguns anos atrás.
Como já tenho "dito" sou de Montemor-o-Velho, e só deixei a minha terra quando casei. Ali vivi a meninice, a adolescência e a juventude. Aos Domingos, eu e a minha mãe iamos à Missa das onze horas. Aliás ia toda a gente, desde que o seu estado de saúde o permitisse.
Nunca sube a razão, mas não era raro acontecerem desmaios durante as celebrações, tanto em pessoas adultas como também nas jovens. Eu também sofri desse percalço mas nunca caí, porque assim que sentia algo esquisito, saía apressadamente da Igreja. No Adro havia sempre vento, e eu ficava logo bem, mas já não voltava a entrar.
Mas havia quem tombásse mesmo no chão, e quem estava perto ia logo levantar e acompanhar a pessoa.
A Igreja de São Martinho só tinha umas filas de bancos  logo à entrada, destinados exclusivamente aos homens, e de modo igual perto da capela-mor para as meninas mais novas. No resto havia cadeiras, propriedade das próprias utentes mas só para o sexo feminino (nós também tínhamos duas cadeiras, e até duas almofaditas para nos ajoelharmos) porque os homens ficavam sempre separados das senhoras.
Um casal já bem maduro que estava em férias em casa de familiares, foi à Missa naquele Domingo, aliás eles já tinham ido no Domingo anterior. Ele tinha o cabelo farto, ondulado e todo branquinho, contrastava com o fato azul escuro, aparentemente era mesmo um senhor. Impossível não se reparar nele, até porque ele foi com a esposa lá pra cima para o meio das senhoras, e assim era o único homem ali.
Aconteceu que durante a celebração da Missa, a esposa desmaiou, e malhou no chão. Houve assim um pequeno reboliço, e a minha mãe que era nova e saudável, e prestável, aproximou-se rápidamente e pegou nela, enquanto outras senhoras ajudavam também. Mas nisto aconteceu o insólito; ao mesmo tempo o homem disse - não faça barulho, não faça barulho, e no mesmo instante préga um sôco no lado esquerdo da testa da minha mãe. Naquela altura só o Padre falava na Igreja, os fiéis nunca falávam. Mas a minha mãe ignorou o lugar onde estava, olhou pra ele e disse-lhe em voz audível - o Sr. é muito estupido! Grande estupido! Voltou-lhe as costas e como entretanto tinha acabado a Missa viémos embora. O assunto "correu mundo"... comentários e censuras não faltaram sobre o Dr. Mexía, que devia estar parvo... Mas a minha mãe é que ficou com o sôco, que até nem foi leve, pois no dia seguinte estava marcado de negro. Depois disso ela perguntava a si própria, e dizia, se alguma vez voltaria a socorrer mais alguém...     

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Foi há 12 anos

Aquele pequeno Jornal foi como se fora um filho, nascido e criado por nós. Chamámos-lhe Terras de Montemor e Região Centro. E nasceu a 20 de Maio de 2002.
Era bonitinho...



Começou com uma festa no Restaurante Moagem, todo para nós naquela tarde, com um convivio e uma merenda onde não faltou sopa da pedra e churrásco.
Palavras de apresentação da nossa parte, palavras de incitamento de alguns dos convidados presentes, cumprimentos, abraços, (flores para mim) histórias pitorescas, anedotas, e fados de Coimbra.

O meu marido, quando fazia a apresentação do Jornal. É visível o seu entusiasmo... lamento mas não guardei o seu discurso; ou o guardei bem guardado e não sei onde.

 E eu falei assim;
-Caros amigos,
Perdoem a familiaridade, mas a vossa presença vindo junto a nós comemorar este "nascimento" dá-me a natural ousadia. - Terras de Montemor, nasceu, um jornal criação do Olímpio... admiração? Nem por isso, não é o Olímpio um sonhador? E como sabem o Homem sonha, Deus quer, a Obra nasce...  nasce  por vezes imperfeita, mas nasce; e esse facto é já uma realização pessoal. Urge burilá-la e torná-la mais adequada a todos os gostos. Embora na sombra, também eu estou ligada a este jornal, como sempre estive a todas as iniciativas em que o Olímpio ao longo dos anos sempre se envolveu, referentes às Associações de Montemor, e tantas foram, culminando agora na maior de todas, a construção dum jornal embora pequeno; poderá chamar-se a isto arrôjo? leviandade? ou sonho demasiado, dado a sua conhecida limitação cultural ? Só o futuro o dirá... o futuro, e todos vós, porque o jornal não é nosso, é dos Montemorences. Por isso atrevo-me a fazer dois pedidos: o primeiro, é que o leiam... O segundo, que manifestem as vossas opiniões; sujiram, critiquem,digam o que considerarem menos bom ou mesmo errado, pois só assim poderemos melhorar.
Obrigada a todos pela atenção.

Depois das palmas o Dr. David Coutinho usou da palavra e respondeu-me... e eu ouvi com atenção, mas o meu marido sem dar por isso escondeu-me completamente; azar para quem é pequena, que sou eu.

Na sequência, muitos dos presentes usaram da palavra, e por fim (por vezes os ultimos serão os primeiros) falou o Dr. Luís Leal, Presidente da Câmara Municipal de Montemor (estava acompanhado por um Vereador ligado ao Pelouro da Cultura)
que entre palavras de estímulo, reafirmou o apoio Camarário préviamente prometido.

Os estômagos começavam a mostrar queixas, era altura de merendar; e assim aconteceu. A seguir foram as histórias, os fados, as guitarradas, as conversas, e a tarde a chegar ao fim.
Regressámos à Figueira, e entrámos em casa sobraçando as flores e a esperança, mas sentindo já o pêso das responsabilidades. A festa já ficara para trás...

Tinha havido um certo planeamento, a Câmara fizera promessas monetárias, que cumpriu com vista ao inicio do jornal, e iria comparticipar de futuro mensalmente; o meu marido arranjava publicidade, e por certo seria possível saldarmos as despezas inerentes. Tinhamos um grupo de amigos que escrevia as suas crónicas e noticias, a minha filha que práticamente fazia o jornal, eu administrava os dinheiros e os contactos escritos, e escrevia também umas croniquêlhas, e ninguém auferia qualquer vencimento.
Passaram dois meses, o Terras de Montemor era mensal, tinham saído dois e tinham agradado.
Mas, em tudo ou quase tudo há sempre "um mas..." - Numa reunião na Câmara naquelas em que se verificam despesas e contas, um funcionário que ali tinha assento nessa altura, manifestou-se calorosamente, afirmando que se havia dinheiro para este jornal, também tinha de haver para o dele que estava em preparação. Era um amigo nosso, de nome Victor, que eu tantas vezes peguei ao colo quando ele era pequenino, e tantas vezes mimei quando já era rapazinho; e até foi à festa do nosso jornal; - com amigos como este, não preciso de inimigos...
O resto adivinha-se, a Câmara não deu para o jornal dele, mas cortou imediatamente todo o apoio que nos tinha prometido. Ficámos entregues a nós próprios. Confesso que desejei desistir nesse momento. Perdi toda a força inicial, mas o meu marido não, e decidiu continuar. Mudou de tipografia para outra onde o trabalho de impressão e distribuição era  mais barato, pediu mais publicidade, as assinaturas foram aumentando, e embora com dificuldades aguentámo-nos durante um ano. Não podémos ir mais além.  Quando os assinantes pensavam renovar a assinatura, despedimo-nos. Costumo dizer que o Jornal Terras de Montemor, nasceu, viveu, e morreu com dignidade.
São 12 jornais que mandei encadernar e guardo como recordação, e junto com eles guardo também os meus agradecimentos e estima, a quem connosco colaborou, e assim tornou possível a realidade dum sonho, que foi curto é certo, mas bonito enquanto durou.