segunda-feira, 30 de maio de 2011

Monsanto e as suas pedras

Actualmente todas as conversas vão desaguar na crise,nos politicos,na miséria que já grassa no nosso Portugal. Mas eu não quero falar nisso,prefiro voltar a recordar outros tempos. Também não quero fazer comparações,nem afirmar que dantes é que estava tudo bem, porque na realidade também não estava.Mas eu quero é falar de coisas boas. Eu era ainda muito novinha andava na escola, quando ouvi uma alusão a uma pequena localidade mais própriamente uma aldeia, alcandorada numa alta montanha situada na beira baixa.Utilisando a linguagem adequada para um bando de crianças que ela carinhosamente ensinava, a professora contou quase em geito duma estória,o facto acontecido alguns anos atrás dum concurso entre algumas aldeias e que a dita cuja tinha sido a escolhida, recebendo um prémio e um título. O prémio foi um galinho de prata. O título, Aldeia mais portuguesa de Portugal.
Esta aldeia ainda se chama Monsanto.
Eu nunca esqueci esta aula, e muitos anos mais tarde eu perguntava-me, sem ter resposta,o porquê, de ser mais portuguesa... E pensava,um dia vou lá ver! Pensamento positivo é um bem, quando se concretiza, e assim aconteceu.
Num sábado de primavera, pelo meio dia saímos de casa eu e o meu marido com destino a Monsanto. Eu ainda não sei o porquê de tal "rótulo" nem o acho necessário. O que sei é que esta terra (actualmente Vila) é diferente de tudo o que eu conheço, mercê da Natureza que lhe atribuiu pormenores que aproveitados em parte (pelo Homem) a tornaram única.
Socorro-me duma quadra da autoria de Cardoso Marta:

"Nunca se sabe em Monsanto
(Que as águias roçam com a asa)
Se a casa nasce da rocha
Se a rocha nasce da casa"

Assim é realmente,ali reinam as pedras! Por todo o lado gigantescos barrocos (assim lhes chamam) meio enterrados,outros iguais, ou maiores ainda, sobrepostos, equilibrados, alguns partes de casa,outros até casa duma só porta.... Impossível descrever tal grandiosidade ...
Todo o casario da Vila é de granito,e as ruas e ruelas em calçada irregular são igualmente de pedra.
Antiquissima,tem monumentos,entre eles a Torrre de Lucano,aonde brilha uma réplica do galo de prata, e é coroada pelo castelo que encrostado na penedia se ergue a 758 metros de altitude.
Ainda um louvor para a sua gastronomia!
Chegada a noite um sono reparador naquela envolvência de socego,faz bem ao corpo e à alma,é inesquecivel.
Prometemos voltar!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O Prato do Sr. Dr.

Hoje ao verificar se havia pó em dois pratos que guardo como se dum tesouro se tratasse, apenas pelo facto de terem pertencido à minha avó, e eu ser conservadora,retornei ao passado e ao meu Montemor. Montemor-o-Velho,que naquela altura era mesmo velhinho,e pobresinho. Sistema de saúde ainda não tinha nascido, havia um hospital e um médico. Era o médico municipal pois a Câmara custeava o seu vencimento. Chamavam ao médico que ocupava este cargo o Médico dos Pobres,pelo facto deles não pagarem consulta,e os menos pobres pagavam uma vez por ano umas medidas de milho. Recordo-me de ele ir com um pseudo-enfermeiro à escola-primária vacinar-nos contra a varíola; nós em fila,aterradas,e ele a falar grosso,mas com bom modo. Ainda o vejo sentado no automóvel pequeno,com a bengala nas mãos,e o Sr José ao lado a conduzir devagarinho,se calhar a alguns 30 km à hora a caminho do hospital onde ia diáriamente. Quando o chamavam das freguesias limítrofes cujo acesso eram caminhos de lama,ele aceitava a oferta dum burro e cavalgava até à casa do doente. Este Senhor embora fosse de boa compleição fisica,cedo perdeu a saúde; algo no coração funcionava mal,e começou a ser-lhe difícil ir a casas na encosta do castelo,e onde tivesse de subir escadas ou ladeiras; também o frio lhe era prejudicial,de modo que alguns doentes passaram a ter uma assistência diminuta.Em terras pequenas os pensamentos voam, e um dia surgiu um médico jovem,saudável e decidido a estabelecer os seus serviços em Montemor. Foi o primeiro médico particular. Chegou cheio de esperança e de ideais, instalou radioscopia (que era novidade),e logo que teve o seu consultório pronto,foi cumprimentar o Colega veterano como mandam os preceitos de boa vizinhança. Este como cavalheiro que era, recebeu-o bem e apreciou o gesto,mas à despedida não deixou de mostrar um pouquinho de azedume encoberto,ao dizer que não lhe augurava um futuro promissor em Montemor.O outro não ligou à profecia,despediu-se alegre como chegou, e daí a alguns dias iniciou o seu trabalho,e em boa hora o fez.Há um tempo para tudo, e o novo Dr.estava no auge,de tal modo que não tardou que a inimizade se instalásse entre os dois. Ali não eram os lucros que imperavam,era o amor próprio do "velho" Dr. que não aceitava o facto de ser ultrapassado.
Estava a Vila em festa em Setembro por ocasião da feira-anual, e numa das noites em que actuavam ranchos folclóricos,e havia baile e muita gente estava a assistir,procedeu-se a um leilão de ofertas; e chegou a vez de leiloar um prato que nem era bonito,mas era antigo (genuino) . Oferta do Sr. Dr. (mais velho), que apreciador de arte e objectos antigos os adquiria a qualquer preço. Assim ofereceu este para a festa, mas com o intuito de o comprar e de novo o guardar. Só que o novo Dr. quis arreliá-lo,e vai de licitar. Foi hilariante! Um e outro alternando, subiram o valor do prato para uma soma enorme,uma exorbitância mesmo! Até onde chegou a guerrilha, e à vista de todos... E o novo Dr.conseguiu a arrelia completa,pois foi ele que levou o prato para casa!

domingo, 8 de maio de 2011

As Catedrais do descontentamento

Eu também gosto muito de fotografia. Não ando pelas ruas feita turista de máquina na mão, longe vai o tempo em que aos Domingos eu, não como turista, mas como aprendiz de fotografia amadora, calcorreava as ruelas do centro histórico e do castelo do meu Montemor,com o meu pai, que me indicava o melhor ângulo para fixar alguns pormenores em fotografias a preto e branco. Ainda menina pequena tive a minha primeira máquina,um caixotito quadrado que eu adorava, e do qual mais tarde tive muita pena quando da troca por outra de melhor qualidade. Uns anitos depois a nova aquisição que já não me afectou, pelo contrário fiquei contente,esta fazia fotos maiores e com melhor nitidez,e eu também já tinha outro modo de pensar, dando valor ao que era melhor.
Tudo isto ficou há muito para trás,restam as fotografias, a recordação desse tempo e as máquinas, agora velharias, que para mim são relíquias que guardo com estima.
Hoje ao vir aqui ver o correio encontrei um anexo com fotos extraordinárias. Este anexo foi o responsável pelas minhas "viagens ao passado". Mas retomando o assunto, trata-se de fotografias de Catedrais grandiosas ,lindíssimas,magníficas obras de arquitectura, verdadeiros tesouros de arte e beleza. Porém nenhuma delas se situa em Portugal,embora no nosso país também existam muitas e valiosas obras de arquitectura do género, mas de menor dimensão.
Como estou numa de recordar, lembrei-me duma amiga e da histórinha que o avô lhe havia contado, e que ela anos mais tarde me contou,quando eu regressada de Santiago de Compostela lhe confessei o meu pasmo perante a extensão,grandiosidade e beleza da respectiva Catedral de São Tiago.
Era uma vez...
Um espanhol que veio pela primeira vez a Portugal.
Durante o jantar,à conversa com o dono da casa onde ficou, o espanhol falou dos monumentos do seu país com tanta insistência que ao outro até lhe pareceu exagero. Sentiu-se agastado mas disfarçou, e começou também a falar dos monumentos portugueses, tecendo igualmente elogios e fazendo questão que ele fosse ver, que ele mesmo o levaria na visita, visitariam apenas três (era o bastante). O espanhol aceitou e no dia seguinte lá foram até à Torre de Belém. O espanhol observou todos os detalhes devagar e com interesse, e o nosso português cheio de entusiasmo interrogou:- Então o que me diz? . O espanhol respondeu que era muito interessante,muito bonita mas pequenina. Nós temos maior, disse ele. O nosso português não desanimou e disse:-Nós também temos,amanhã vai ver. Cumprindo o propósito levou-o ao Mosteiro da Batalha - e nova opinião similar:- Muito bonito sim,lindíssimo mesmo,mas nós lá em Espanha temos maior. Ainda assim o nosso português não desistiu,e desta vez levou-o ao Mosteiro dos Jerónimos. O espanhol observou,elogiou e até fotografou. O nosso português já não tinha dúvidas (assim pensava) e perguntou:-Então? Que me diz? Este é belo, e enorme... E o outro sorridente murmurou, muito bonito sim,uma grande e bela obra! Magnifica! Mas, nós lá em Espanha temos maior,muito maior,muito maior... Então o nosso português disfarçou,mas alguma revolta lhe povoou o espírito.E como a vingança é prazer, não só dos Deuses, disse à esposa (em segredo) que fosse ao mercado e trouxesse duas dúzias de caranguejos vivos, miúdos. Há noite enquanto o espanhol ceava ele foi ao quarto dele e colocou os caranguejos dentro da cama. Na manhã seguinte o espanhol queixou-se e perguntou que bichos eram aqueles,ao que o outro calmamente respondeu que eram piolhos, se ele não sabia o que são piolhos?! O espanhol respondeu: - Piolhos? Sei,mas lá em Espanha são pequeninos! E o portugues respondeu: - Pois isso é lá em Espanha! Nós cá em Portugal só temos piolhos assim grandes!!!
E no íntimo pensava (com alguma tristeza) afinal aqui, grandes, grandes só mesmo "estes"piolhos...