sábado, 4 de setembro de 2021

Foi há um mês, em principio de Agosto...

 Adeus Amiga,

No ano passado e neste, tenho visto partir na viagem sem regresso quase todas as minhas amigas. Agora foi a Lurdes, a Lurdes Caiado, foi há uns dias... porém, não é com a cortina de terra que cai sobre o corpo, que se me apaga da memória todo um passado longo de amizade recíproca; e por isso escrevo mesmo com atraso. Eu sou mais nova do que ela, mas cêdo as brincadeiras na rua nos aproximaram. Mais tarde na juventude todos os dias nos víamos, todos os dias falávamos. A Lourdes era empregada no Posto Sezonático e eu no Stand Oliva perto da Praça da República. Dia após dia pela hora do almoço a Lurdes aparecia, nós tínhamos sempre o que dizer. Ela já namorava o Zeca, um rapaz bonito (como ela era também) que toda a gente estimava. E naquele sábado depois de falarmos doutras coisas, ela disse para mim, "amanhã vais ao Baile, não vais?! É que eu não vou não posso ir. Mas tu vais?" respondi afirmativo. "então vê se o Zeca vai dançar e já agora com quem e depois na segunda - feira dizes-me..."
E na segunda lá aparece a Lurdes ansiosa... "E então? O Zéca dançou?
Respondi, que sim, dançou. "E foi mais do que uma vez?" - Foi várias vezes e sempre com a mesma. "A sério ?" (a Lurdes perdeu o sorriso) "e quem é ela? " - E a rir respondi-lhe, EU !
Rimos as duas abraçadas enquanto ela murmurava "contigo não faz mal."
Depois a Lurdes casou, com o Zeca, e foi viver perto de mim, nasceram os meninos uns amores de crianças... entretanto eu casei, deixei Montemor, mas assiduamente lá estavam as saudações da Lurdes para mim, nas cartas que a minha amiga Arminda me escrevia. Anos depois passei a residir na Figueira perto de Montemor e voltámos a encontrar-nos, tantas, tantas vezes... e nas procissões era de certeza e sempre. Depois da procissão recolher, e o Padre dizer que podiam levar os cravos do andor, ela acercava-se apanhava alguns e dividia - os por mim, dizendo leva este três prá tua mãe.
A ultima vez que vi a minha amiga foi na última Procissão em que eu estive e por isso, eu nunca a vi doente. Foi com grande mágoa que vi a sua fotografia actual nas redes sociais. É a realidade eu sei, ninguém a pode alterar.
Contudo, e perdoem-me a teimosia, eu quero continuar a ver a Lurdes Caiado uma linda jovem, uma linda noiva, uma linda mamã, uma linda avó, e mais tarde uma bonita senhora sempre de sorriso nos lábios e simpatia eterna. Ela foi tudo isto, incluindo os valores morais e familiares que sempre nela habitaram.
Foi uma vida linda como ela era, chegou ao fim e está em paz!
Licínio Cadima Rosa Carreiro, Mário Silva e 15 outras pessoas
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