segunda-feira, 29 de setembro de 2014

De passagem por Grândola

Disse adeus até breve, e felizmente aqui estou de novo. Eu sempre digo que gosto de sair para férias, mas também gosto muito de regressar, e regressei contente.
Foi tudo agradável, desde a viagem à estadia, e daqui a pouco até vou sentir saudades...
Naquele sábado ensolarado, saímos de casa de manhãzinha rumo "à nossa" Armação de Pêra, mas com a perspectiva de ficarmos no Alentejo, e só no Domingo seguirmos para o Algarve. E assim aconteceu, ficámos em Grândola. Outrora esquecida envolvida na planície, hoje ninguém ignora a existência da Grândola Vila Morena, mercê da canção criada por Zeca Afonso, e esta imortalizada por ter sido escolhida como a Senha que marcou o inicio da revolução de Abril.
Como diria o Carlos Malato, " já fui muito feliz em Grândola."
Permanecemos largo tempo no Jardim, muito arborizado, cheio de frescura, e depois fomos à procura de algo que recordásse o Zeca Afonso, e encontrámos.



Esta foto saiu errada, mais chão que céu; "pró ano eu rectifico..."

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Até breve...

Caras amigas e amigos que aqui me visitam e deixam a vossa estima, traduzida em palavras simpáticas com que me mimam, e também a todos os outros que não dizem nada, mas que têm a paciência de ler o que eu rabisco, quero dizer que vou dar férias ao blog.
Vou até ao Algarve, na expectativa de encontrar sol e mar de água tépida. Deixo a nossa linda Praia da Claridade apenas porque a água é fria, mas no dia em que este video foi feito, (na passada semana) ela rivalizava com qualquer praia do sul do País. Mas diz o provérbio "que Santos de ao pé da porta não fazem milagres" e mudar de ambiente também nos agrada, e faz bem ao espírito. Espero regressar no fim do mês. Aceitem os meus cumprimentos, e um abraço do tamanho do mundo. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Eram amigos, mas...

As duas ambulâncias estacionaram em frente à entrada para as urgências do hospital. Tratava-se de casos graves, e os maqueiros apressaram-se a  entrar pedindo passagem livre, e sem parar desapareceram através da porta de vai e vem.
Um casal idoso que aguardava sentado, comentou em jeito de lamento - dois feridos graves, que terá sido? decerto um acidente de carro, está sempre a acontecer...

Sem coragem para mais, as esposas dos feridos ficaram junto duma das ambulâncias, com o coração a baloiçar entre o mêdo e a esperança.
Passou algum tempo, e entretanto os maqueiros reapareceram com as macas vazias, e encaminharam-se para as viaturas.
Não foi necessário eles falarem; a Luísa e a  Rosa abraçaram-se e confundiram entre ambas, os gritos e as lágrimas durante alguns minutos. Quando se acalmaram, ouviram que os maridos estavam em perigo de vida, e que ficavam internados.
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 Era um dia de primavera; tempo ameno, propício ao inicio das sementeiras. O Zé acordou cedinho como havia planeado, vestiu a roupa de trabalho,tratou do gado, foi almoçar, e de seguida pôs as vacas ao carro, (carro de madeira) neste colocou o arado, e outras alfaias agrícolas que lhe pareceram necessárias, e rumou ao campo onde tinha uma boa tira de terreno que havia herdado dos pais, e que ele cultivava com enorme gosto e esmero.
Antes olhou para a porta e chamou - Luísa! Luísa!  Ela apareceu:   - então não desces esses degraus para vires aqui  dizer-me até logo? Que é como quem diz, para me vires dar uma beijoca... Ela sorriu e desceu lésta. - Claro que não te deixava ir embora sem um agrado! Tu é que estás sempre cheio de pressa...
-Sou assim, tu já sabes. -Sei, claro que sei; logo vou lá ter contigo ao campo com o almoço, e olha que até levo broa mole, deve ficar cosida a tempo, já pus o lume ao forno. - Que bom, disse ele, já estou a ansiar por isso... bem, são horas de ir andando. E lá se pôs a caminho.

Agarrado ao arado que fundo sulcava a terra, o Zé nunca parou em toda a manhã, trabalhava animado, sempre a assobiar, musicas alegres, ele gostava mesmo do campo.
Agora que o sol estava a pino, a Luísa já não devia demorar... Desatrelou o gado, levou-o para a sombra e pôs-lhe alimento verde. Depois sentou-se ele também, à sombra.

Aguardando a sua Luísa e o almoço prometido, ele só tinha olhos para a serventia que antecedia as terras de cultivo. Reparou que outro carro de bois se dirigia para o campo, e cedo percebeu que o homem que conduzia o gado era o seu compadre Tibúrcio. Pôs-se de pé e esperou que ele se aproximásse. Ainda antes dos habituais cumprimentos, o Zé antecipou-se: - Ora ainda bem que veio, compadre! Estive toda a manhã sózinho! Não é que eu tenha mêdo; é que  um homem também gosta de falar!  - Tem razão  compadre Zé, respondeu o outro. Sabe, eu queria vir descarregar o fertilizante de manhã, mas não pude, assim,vim agora. Encaminhou-se para a sua nesga de terra, não sem antes ainda lhe perguntar pela comadre Luísa...

Estava tudo na paz de Deus, ou assim parecia, quando o Zé vê o Tiburcio a caminhar na sua direção e a praguejar- Admirado, e sem perceber a razão daquela atitude tão estranha, perguntou: - O que é isso compadre Tibúrcio?
- O que é isso, ainda me pergunta?
- Pois se não sei, pergunto, pois claro...
- Não se faça de anjinho, sabe muito bem que me anda a roubar.
- A roubar? Você está a brincar, ou a ofender-me? Eu ando a  roubar-lhe o quê?
-Quer que eu diga, pois eu digo. Desde há três anos que na altura das lavras, você me rouba sempre uma leiva de terra.É dali daquele lado. Já são três que você juntou ao seu terreno.Não tem vergonha? Ande diga lá se é mentira...
-Claro que é mentira. Eu não lhe admito, ouviu? Que disparate; as terras até estão sinalizadas com marcos.
E o Tibúrcio repisa; tem marcos mas de nada valem.
-Aqui o Zé perdeu a calma. -Sabe, eu não estou para lhe aturar tal difamação, ouviu? - Olhe que eu perco a cabeça e ainda lhe vou às fussas... e dito isto puxou dum foeiro do carro das vacas, e correu para ele. O Tibúrcio  por seu turno recuou, mas para ir buscar a forquilha, e logo de seguida investiu contra o compadre. Os dois envolveram-se em agressão mútua, uma agressão raivosa que só parou quando ambos caíram  por terra sem sentidos, e a esvaírem-se em sangue.

A Luísa chegou com o almoço e ainda os viu cair. Sentiu-se vacilar, mas tinha de ser forte. Correu, a gritar por socorro, e alguém a ouviu...
                                     
                                       
Os homens estavam muito maltratados. O Zé a contas com perfurações no intestino, foi operado de urgência, e o Tibúrcio com fraturas e traumatismos, também não se livrou de várias intervenções cirúrgicas.
Estiveram com prognóstico reservado, permaneceram no hospital durante três meses, mas escaparam.
Passado o período crítico, foram colocados na enfermaria, cada um em sua cama, mas ao lado um do outro. (seria por castigo? )  Mesmo assim, continuavam enraivecidos, não se falavam, nem se olhavam sequer, e assim viveram quase até ao fim do internamento.

A Rosa e a Luísa iam juntas ao hospital diáriamente, alhearam-se das zangas deles, só queriam que ambos se curássem. Visitavam os dois, e para ambos tinham boas palavras.

Uma semana antes de receberem alta, o Tibúrcio logo de manhã pouco depois de acordar, soergueu-se na cama e chamou,     - compadre Zé, está acordado?  -  Estarei a sonhar, interrogou-se o Zé... mas respondeu que sim.
Então ouça; - quero pedir-lhe que me perdôe pelos males que lhe causei. Eramos tão amigos! Tornei-me um obsecado avarento, e vi o mal onde ele não existia, andei cego de olhos abertos...
Foi preciso estar na eminência de me juntar à terra, e fundir-me com ela, para ver como estava errado, e arrepender-me.  Repito, perdoa-me?
-O Zé surpreendido, achou que também lhe devia pedir perdão, por o ter agredido tão brutalmente, porém, não lhe ocorreram as palavras adequadas para isso; chegou-se para a beira da cama, e em silêncio estendeu-lhe a mão.

E enquanto permaneciam de mãos apertadas, murmurou; - curaram-nos o corpo, mas não só, também a alma ficou mais sã!