terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

A Natureza também capricha...

Entre muitas e da mesma árvore esta laranja nasceu diferente. Achei interessante e fotografei-a. E a origem? Daqui perto, duma aldeia bonita de nome Ereira.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

A brincadeira

Hoje acordei cedo. O sol muito descorado já me espreitava por entre as pregas dos cortinados do quarto incitando-me a deixar a cama. Porém aquele aconchego da roupa ainda quente, era por de mais agradável e sem mesmo me mexer deixei-me ficar a olhar o teto. Naquele silêncio um breve trinado fez-se ouvir - a minha vizinha do andar superior deixou que um casal de passarinhos fizesse o ninho na sua varanda, e são os seus pios que de vez em quando eu ouço com verdadeira delicia. Fazem-me lembrar a infância vivida de perto com a Natureza. Com outras meninas eu ia para a Cêrca, assim chamada porque eram as terras envolventes dum antigo Convento, nesta época já totalmente descaracterizado. Os pais da minha amiga Alice residiam nele, à época casa de lavoura, cultivavam as terras, e aturavam a invasão das meninas companheiras de brincadeiras da filha. Acercávamo-nos das pereiras e roíamos as pêras maduras ou verdes e as amêndoas duma única amendoeira raquitica que ainda subsistia. Entre duas pedras partíamos as cascas e comíamos o miolo ainda leitoso. Nada nos fazia mal, chapinhávamos na pequena regueira que corria em chão de areia entre a terra de semeadura e a estrada, e onde cresciam desordenados os "gordos" agriões na fresquidão da água nascida não sei onde. Mesmo com os pés molhados calçávamos os sapatos e reatávamos a brincadeira.  Uns pequenos salgueiros que se erguiam acima, na pequena encosta, também eram tentação, agarradas a eles saltávamos a pequena valeta de cá para lá e vice-versa, vangloriando-nos depois pelo feito, quando pela quantidade de vezes sem cair era apontada a vencedora. Quando eu conheci a Alice ela morava numa casa em frente à minha, e se a memória não me falha foi uma estadia transitória enquanto eram feitas umas obras no convento aonde ela e a família já residiam. Eu e algumas companheiras da escola, brincávamos na casa dela e na minha, mas a dela tinha um grande quintal e por isso era preferida. E saltavámos à corda na rua, que era uma via com trânsito mas chegava também para nós. Nesse verão a rua foi alcatroada de novo, um trabalho que durou semanas e nos aborrecia sobretudo pelo cheiro do alcatrão. Finalizaram a obra com uma camada de areia normal, e outra de areia grossa. Os automóveis ao passar afastavam essa areia grossa para os lados da estrada. E naquele fim de tarde em vêz de saltarmos à corda começámos a juntar a areia e a atirá-la para o meio da rua. Eu até era bem comportada e sossegada, mas deu-me para a asneira - agarrei duas mãos cheias de areia grossa e atirei-a propositadamente contra um automóvel que vinha em andamento. O Sr. falou alto, e parou adiante, e logo começou a recuar. Fugimos todas cada uma para seu lado, e eu e a Alice ignorando as nossas portas de casa ali mesmo em frente, fugimos esquina acima e entrámos na casa dela por uma porta do quintal ás escondidas da mãe, e fomos meter-nos de baixo da cama. Passado algum  tempo deixámos o esconderijo e eu regressei a casa cheia de mêdo, mas a fazer fé no nosso segredo. Mas qual?  Não me livrei da sova no dia imediato, porque a minha mãe teve conhecimento da "minha proeza" e, caiu das nuvens, como sói dizer-se. E ainda me prescreveu uma semana sem saltar à corda. E assim aconteceu sem lamentos nem queixas.
( as crianças não avaliam o mal e por vezes erram, e foi o meu caso, mas hoje ao recordar não fui alheia a um sorriso "ao ver" a cena da fuga...)