quinta-feira, 25 de março de 2021

Versos lindos!

 Poema à Mãe


No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...

Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade

1 comentário:

Anónimo disse...

Minha adora amiga e parente portuguesa Dilita, moras pra sempre em meu coração, jamais te esquecerei. Sim, ando muito afastado do bloguinho que tanto amo, mas perdi o acesso para postagem, e como sou velho demais, nasci bem antes da internet, isso me dificulta pra voltar hehehe, mas não faz esquecer os seres amados e maravilhosos que por aqui conheci. Andei muito feliz depois dessa postagem, mas existe outro poema que encerra esta fase, mas não consigo postar por aqui...fui bem feliz sim, mas passou, sofri, sofri pra caramba, mas aprendi e hoje tou novamente em uma caminhada de consciência, de alegria, de evolução e busca da felicidade. Muito feliz fico em saber de ti. Nossa amizade, esse amor que construímos nessa blogosfera é eterno minha amiga. Muito, muito feliz em saber de ti. Grande abraço. Jair Machado Rodrigues