Hoje é um dos Lares da Terceira Idade que existe em Montemor-o-Velho, mas há uns anos era um hospital, e o seu nome Hospital de Nossa Senhora de Campos. Era um óptimo edifício com boas instalações para a época, com enfermarias arejadas e bem iluminadas pela luz do sol, e no seu interior albergava o necessário para o fim a que era destinado, devolver a saúde a quem se via privado desse bem. E eram muitas as pessoas que por ali passavam. O Sr. Dr. Afonso mandava-as para o hospital porque ali ele as observava todos os dias, quando pela manhã ia ao hospital com esse fim. E outras morriam, mas ele também sabia que ali tinham carinho e amparo até aos últimos momentos, proporcionados pelas Irmãs de Caridade duma Ordem Religiosa que ali habitavam em semi-clausura e que, dia e noite cuidavam dos doentes, só pelo amor a Deus. Algumas nunca esquecidas, a Irmã Maria de Jesus, um tanto mais tarde a Irmã Nazaré e outras que deixaram saudades.Eram as Irmãzinhas... Faziam serviço de enfermagem porque eram enfermeiras, mas também eram elas que piedosamente fechavam os olhos e vestiam os que ali terminavam os seus dias, e depois rezavam em sua memória.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2022
A Boneca
terça-feira, 18 de janeiro de 2022
Diálogo
A Lua já não era visível.As estrelas confundiam-se com a claridade do alvorecer, amanhecia. O sol subia no horizonte e afagava os ornatos superiores do maior edifício de Montemor-o-Velho - os Paços do Concelho. O sol chamou-lhe Palácio e enquanto o acariciava com o seu calor e despertava para mais um dia, disse-lhe:
- Não, diz-me...
- Porque és bonito! És um Palácio soberbo!
- Gosto do galanteio - retorquiu - eu já tenho muitos anos, estou de pé desde 1892. Já vivi muito, tenho muitas recordações, boas, menos boas e, saudades. Mas os teus elogios não apagam as minhas mágoas...
- Mágoas? Tu?! - inquiriu o sol - queres desabafar?
O grande palácio, um tanto austero, tomou então da palavra com uma calma triste:
- Esta Praça, que se chama da Républica, está mais desolada que um largo duma pequena aldeia remota. E no entanto, tem um desenho tão belo, dela até se vê o Castelo, que é a coroa da Vila ! Mas tão árida, nem uma flor, ou folha verde, nem uns jactos d’água que a enfeitem, nem população, é apenas um Largo, que tristeza...
- Ora, Palácio, são os efeitos da crise, que há-de terminar... Não! O que te digo é anterior à crise. Sou velho mas ainda consigo destrinçar. Aos domingos e dias feriados esta Praça é sinistra de tão vazia. Nem calculas a tristeza que me invade nesses dias. Nem um restaurante, nem um café aberto...Lembra um suicídio colectivo, um êxodo total! É então que na minha solidão recordo o passado, quando os bancos à minha porta eram poucos para os trabalhadores que aí se sentavam para descansar e conversar, nas tardes de domingo! Nos passeios que me contornam, acomodavam-se também as mulheres que vendiam tremoços e castanhas, e os engraxadores com a respectiva caixa para o seu trabalho. Formavam-se grupos, que falavam, havia vida... No café Girão, pequeno mas acolhedor, os homens preguiçavam na explanada sobre o passeio, enquanto o empregado, (o Manel do Café) impecável no seu casaco branco e no seu trato, os servia incansável. Mesmo na minha frente, o Café Mondego, pequenino, o Café do Henrique, o inventor das Espigas Doces, essa delicia!
- Um inventor? Em Montemor?
- Há! Sim, ele devia ter lido o Fernando Pessoa - "quando Deus quer, o homem sonha, a obra nasce!" Sonhou e tornou realidade um doce para Montemor, como era então conhecido. Que saudades desses tempos. O meu coração de velho não esquece, e agora nada me alegra...
- Queria animar-te, meu amigo. Mas as minhas histórias são iguais às tuas. Como sabes, eu, um amigo dos turistas, vi há tempos um carro cheio deles quedar-se à entrada da Vila para as fotografias da praxe ao magnífico Castelo. Depois dirigiram-se para o centro da Vila. Era Domingo e tudo estava fechado. Deram meia volta. Segui-os num dos meus raios até Tentúgal, onde se sentaram a uma mesa de café a saborear pastéis e queijadas.
- Não digas mais...
- Voltas amanhã?
- Claro, todos os dias!
- Mas promete-me uma história mais feliz....
quarta-feira, 29 de dezembro de 2021
A bofetada, e os óculos no chão
Guardo na memória a festa que era para mim fazer anos, quando era menina e depois na juventude. Era tudo tão pouco, tão modesto, e no entanto era enorme no meu conceito. Resumia-se ao jantar que nessa noite era na sala. E a comida era sempre igual ano após ano, canja, arroz escuro dos miúdos do frango, e o dito cujo com batatinhas à volta, assado no forno. Como sobremesa arroz-doce. Prendas? Não me recordo. Apenas uns postais ilustrados enviados por algumas amigas. Mais tarde algumas prendas então, mas já com vista ao enxoval, jámais de carácter superflúo. Gosto de recordar, faz-me sorrir.
Foi há muitos anos, neste dia em setembro. Fui a Coimbra, e viajei no autocarro da carreira. No regresso vinha "o meu autocarro" e mais outro igual que era o do desdobramento, este por acaso vinha à nossa frente. Numa curva travou bruscamente para evitar bater numa camioneta que lhe surgiu de frente, e como a estrada estava molhada, atravessou-se na via. O outro também parou e não ouve consequências, porém quando o motorista se dirijiu ao da camionete de carga este começou a barafustar, e pregou-lhe uma bofetada. Os óculos voaram e claro partiram-se. Quando segundos depois ali chegámos não havia espaço para passármos. Com aquela atitude maluca, tornou-se necessário chamar a polícia, e sem telefone a demora era evidente. (estávamos nos anos sessenta) Ficámos ali retidos no meio dos campos. Então a alternativa era entrar numa azinhaga ir passar por uns pequenos povoados, para voltar à estrada um pouco mais adiante. E lá seguimos por caminhos tortuosos e estreitos de terra esbranquiçada, aos solavancos sobre o piso irregular. As pessoas surgiam ás portas, admiradas porque ali não passavam carros. Iamos muito devagar, a camionete quase entalada entre barreiras de terra e silvas e a espaços curtos havia uma pedra enorme no chão. Então o colega do motorista descia e ia tirar a pedra. Daí a pouco, de novo -" ó Isaías lá está outra, vai tirar." Nós riamo-nos, e parodiávamos o facto, chamávamos-lhe excursão sem aumento no preço do bilhete. E mais pedras se sucederam e o Isaías sempre as foi retirar, até finalmente voltarmos à estrada normal, verificando que tínhamos andado tanto mas na realidade estávamos a poucos metros das camionetes imobilizadas. Sucedeu-se um brado de espanto, estávamos quase no mesmo sítio, mas agora de estrada livre era seguir em frente. À boa disposição inicial sucedeu a saturação, estávamos "fartas" de solavancos, e do pó que as rodas da camionete levantavam e mesmo fechando as janelas não era possível evitá-lo, e agora tudo calado só queríamos era chegar a casa depressa, pois foram horas nesta aventura e já era quase noite.Em Montemor a noticia tinha corrido mas da pior forma, dizia-se que a camionete da carreira tinha sofrido um acidente, falava-se num choque ; eu tinha por hábito e gosto, ocupar o lugar da frente (aquele que era reservado ao fiscal) por isso em minha casa foi o caos. Quando a camionete entrou no inicio da minha rua onde passava e não parava, eu vi logo um aglomerado considerável de pessoas à minha porta. Preocupadas esperavam, e acompanhavam a minha mãe que em lágrimas só pensava o pior.
Finalmente cheguei a casa, sã e salva! Pois, não nos tinha acontecido nada, mas neste dia de aniversário, o jantar que já tinha arrefecido, não soube como de costume.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2021
Outros tempos
Naquele Setembro no fim dos anos cinquenta, as festas da Feira Anual só terminaram no dia vinte cinco, dia do aniversário da Filarmónica. Havia um espaço no Largo da Feira delimitado para as festas, por uma estrutura de madeira pintada e decorada com balões e pares a dançar de braços no ar. Tinha duas bilheteiras, porque era necessário pagar um bilhete para entrar.
sábado, 11 de dezembro de 2021
Os Mêdos
As pessoas cultivavam a superstição, toda a gente tinha algo de sobrenatural para contar, que alguém tinha visto. Falavam sem evitar que as crianças ouvissem, e assim eram elas (mais tarde) o veículo transmissor desses episódios então já apontados como verdadeiros. Estamos em Montemor em anos bastante recuados.
terça-feira, 16 de novembro de 2021
O Ti Tóino
sábado, 30 de outubro de 2021
Regresso por de mais tardio
Não só as conversas são como as cerejas, com as recordações também é um pouco assim.
Foi num Domingo de Agosto. O sol começava a despontar, o dia ia estar quente e ir á praia era o sonho acalentado durante toda a semana. Carro próprio era um luxo de poucos, excepção apenas para quem o veículo era mesmo necessário por motivo profissional; mas havia a camionete da carreira. A Empresa de camionagem Moisés Correia de Oliveira sediada na Carapinheira, assegurava a ligação diária de ida e volta entre Tentúgal e Figueira da Foz.Mas ficou a recordação deste regresso atribulado, que passado algum tempo já nos fazia sorrir!
Água-Benta falsificada
O Domingo de Páscoa em Montemor-o-Velho era um pouco diferente dos outros Domingos, no que refere às práticas religiosas. A Missa era celebrada mais cêdo, para que o Padre figura principal da comitiva, iniciásse a visita Pascal logo após, ganhando tempo para visitar todas as casa da Vila até à noite.
sábado, 2 de outubro de 2021
O desejo do peixe...
Foi há muito tempo. Fim dos anos trinta.
sábado, 4 de setembro de 2021
Foi há um mês, em principio de Agosto...
Adeus Amiga,
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
Já passou um ano. 25 . 8 . 2020 / 25 . 8 . 2021
Foi há vinte cinco anos, mas é assim que eu quero recordar a minha amiga Arminda. Ela sempre esteve comigo nos maus e nos bons momentos. Este foi de alegria, a festa de casamento da minha filha. Num video que guardo, tenho a Arminda a dançar com o marido, e bem, porque ambos eram exímios na dança. E enormes no trato, na educação e na amizade que sempre me dedicaram. Hoje recordo tudo de lágrimas nos olhos. Perdi a minha maior amiga, a minha irmã mais velha como eu lhe chamava, e não é de ânimo leve que aceito esta triste realidade.
sexta-feira, 6 de agosto de 2021
Os Mêdos
As pessoas cultivavam a superstição, toda a gente tinha algo de sobrenatural para contar, que alguém tinha visto. Falavam sem evitar que as crianças ouvissem, e assim eram elas (mais tarde) o veículo transmissor desses episódios então já apontados como verdadeiros. Estamos em Montemor em anos bastante recuados.
quinta-feira, 25 de março de 2021
Versos lindos!
Poema à Mãe
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe
Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
Confissão...
Há uns anos,