quarta-feira, 2 de maio de 2018

Aniversário

Mais um ano passou sobre aquele dia 25 de Abril de 1974. Recordo-me  bem; estava um dia cinzento com pouca luz, não a prometer chuva, contudo o sol estava ausente.
Pelo meio da manhã na Cidade de Braga muitas pessoas corriam para o aparelho de televisão alertadas por outras para o facto de que algo estava a acontecer em Lisboa. Pouco se sabia ainda e daí a curiosidade natural. Eu também passei muito tempo a fazer igual, num alvoroço que contagiava sem nos apercebermos. Foi um dia enorme... a T.V. a pedir aos médicos que estavam em casa, para se dirigirem aos seus locais de trabalho, às pessoas de Lisboa para se manterem em casa, a espaços liam comunicados curtos com alguma informação, e por fim transmitiram em directo o ponto mais alto da revolução que já seria dos cravos. Era quase noite quando os altos magistrados da Nação se renderam pondo fim a uma Ditadura obsoleta, negra e trágica.
A palavra Ditadura só por si assusta, quanto mais o que o seu miôlo encerra, e encerrava no nosso Portugal. Os militares conquistaram a Liberdade chamados por isso os Capitães de Abril, com o valoroso Salgueiro Maia na frente, de peito aberto e arma no chão, desprezando a própria vida.
Que se festeje eternamente, e nunca seja esquecida esta data, nem os valores que ela encerra.


A 25 de Abril de 1974
Festejou-se a liberdade e o sonho,
Com hinos nos lábios,
Com votos renovados de esperança.
Com o País aberto à verdade,
E os braços estendidos aos Heróis,
Às promessas e à confiança.
Foi dia de luta, de lágrimas,
De adeus às armas, de acolhimento.
De um sorriso para uma certeza.
As prisões e as torturas
Queriam-se longe da lembrança,
Pois agora reforçavam-se os desejos
De uma Pátria nova, Renascida,
De uma Pátria nova Portuguesa!

Porém,
O tempo passou,
E um cravo rubro, solitário,
Ficou na estrada tombado.
As desilusões esmagaram-no
E o Homem Novo ignorou-o,
Tomando-o por vinho entornado.

E hoje,
É recordado com brindes e discursos de glória
Esse dia que ninguém esqueceu.
Mas há novos pés, no silêncio, a pisarem
Aquele cravo de sangue exaltado e vitória
Que no auge da festa alguém perdeu!..

No futuro,
Uma criança,
Brincando na areia da estrada,
Encontrará o cravo,
Que à Revolução foi ceifado.
Ao romper de uma aurora,
Em vigor, plantá-lo-á de novo,
Para que a fé não se apague.
E crente nas razões do povo,
Na sua justiça, na sua dor,
Estará a plantar, sem o saber,
A mais doce força da Saudade,
E o mais intenso poema de Amor.

Helena de Sousa Freitas, Setúbal, Portugal