quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

2017 está a chegar

Mesmo sentindo pouco interesse na comemoração do Ano-Novo, não sou alheia a uma vaga expectativa de que alguma melhoria avance neste 2017 para beneficio de todos em geral. Ultimamente temos sido informados de tantas desgraças acontecidas, que não raro nos perguntamos: - mas para onde caminha este mundo?! Claro que este mundo somos todos nós que habitamos na Terra. E é de vários pontos do globo que nos chegam tantas noticias trágicas e penosas. Mas nós não as queremos mais. Elas nos incomodam e por isso inventámos a palavra basta! Queremos que o mundo melhore, o mundo são as pessoas, e na nossa alienação afirmamos para nós próprios que sim, que vai melhorar, exactamente porque já basta de tantos males. E porque queremos ouvir, dizemos de viva voz: - os altos responsáveis pelos países maiores ou menores de todo o mundo, já aprenderam muito com os azares que sofreram e que ficaram para trás. E no limiar de 2017 ainda envolvidos pela ternura do espirito Natalício que torna os humanos mais bondosos, vão esforçar-se  por esconjurar as péssimas decisões, e caprichar a favor do correcto, do certo, do fraterno. E assim o Novo Ano será mesmo rotulado de Bom Ano! Estou a sonhar, um sonho lindo, não quero acordar...
Na verdade o facto de ser Bom Ano ou Mau Ano não é da responsabilidade do dito cujo.  É certo que por vezes o planeta se enfurece e mostra a sua força deixando rastos de destruição e morte, e aí o homem é ultrapassado e reduzido à sua pequenez perante a grandiosidade ilimitada do Universo. Mas são os homens, especialmente aqueles que comandam os destinos dos povos, os maiores destruidores. Ainda não criaram capacidade suficiente para se entenderem, e após teimas em que cada um quer fazer valer a sua vontade, vão para a guerra. Vão, não!   Mandam os mais novos, enquanto eles de farda limpa, ficam a consultar os mapas. E decretam todo o tipo de guerras e com elas o conhecido cortejo de sofrimento desolação e morte.
Naquelas guerras com metralha à vista vão ao ponto de a interromper só por um dia, no dia de Natal, e no dia seguinte recomeça o morticínio. Que estupidês! Perdoem mas não me ocorre outro significado. E outros modos de guerra são escolhidos actualmente, em que uma só pessoa geralmente um jovem, é suficiente para matar dezenas de incautos cidadãos, fazendo-se explodir em local pré escolhido, de preferência onde haja numero considerável de pessoas. E passadas horas os mandantes comunicam a dar conta da proeza que fizeram. Por enquanto isto acontece longe de nós, mas até quando?!
Que tristeza em que se vive actualmente sem amor a nada, nem a ninguém. E nós continuamos a gritar basta! Basta! Mas ninguém ouve ninguém.
E aquela guerra silenciosa que afecta as florestas, as águas dos ribeiros, os mares, os rios, as plantas, os animais da selva e as aves do céu, e até o ar que se respira?!
E a guerra do lucro?! Essa é também pavorosa porque corrói a vergonha e a honra.
Aos cristãos com fé, eu peço as vossas orações ao Ente Supremo para que ilumine a mente dos responsáveis pela vida dos povos. Para que não se limitem ao superficial das saudações habituais nesta época, que são lindas e agradáveis de ouvir, mas demasiado gastas de tão repetidas e ao comodismo de deixarem aos doze meses que compõem o ano o livre arbítrio de ser Bom ou Mau, ou a esperança de que o Novo Ano seja melhor, só porque a maioria o deseja.
Muito mais se torna necessário para que de 2017, possamos esperar que seja na verdade um Ano-Bom.


terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O Menino Jesus

Caras amigas, amigos e visitantes que passam por este meu espaço, agradeço a vossa preferência e apresento desculpas pelo meu silêncio um tanto fora do habitual. Razões para tal ausência? Não existem, apenas alguma dose de preguiça seguida do inevitável adiamento. Hoje também ainda nada escrevo, mas passei no blog da minha amiga Viviana e roubei-lhe um lindo trabalho de poesia. Tão bonito que não me perdoaria se não o colocásse aqui também para vós.

Natal de Quem?

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do perú, das rabanadas.
-Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
-Está bem, eu sei!
-E as garrafas de vinho?
-Já vão a caminho!
-Oh mãe, estou pra ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
-Não sei, não sei...

Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:

-Então e Eu,
Toda a gente me esqueceu?

Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!

Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:

-Então e Eu,
Toda a gente me esqueceu?

Rasgam-se os embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papéis
Sem regras nem leis

E Cristo Menino
A fazer beicinho:

-Então e Eu,
Toda a gente me esqueceu?

O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar

E o menino quase a chorar:

Então e Eu,
Toda a gente me esqueceu?
Foi a festa do meu Natal
E, do principio ao fim,
Quem se lembrou de mim?
Não tive teto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:

Foi este o Natal de Jesus?!!!


(João Coelho Santos - Em - Lágrima do Mar - 1996)