terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Sobre a vaidade

A vaidade prega partidas terríveis à nossa memória.
Joseph Conrad

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sexta-feira negra

Ontem o calendário marcava dia 13 e era sexta-feira.Embora a maioria da população não adira à superstição,é como aquela máxima acerca das bruxas:eu não acredito mas que as há,há. Penso que esta afirmação vem dos nossos irmãos espanhóis, mas nós também nos identificamos com ela. Porém é mais comum utilizarmos a palavra azar,(sexta -feira é dia de azar),e se for dia 13 pior ainda. Mas reparem,desta vez o azar foi mesmo facto! Então alguém contava com aquele "presente" que o Ministro das finanças nos proporcionou através da T.V. ? Só mesmo numa sexta 13,haveria tal brinde... E preparemo-nos porque em Março temos outra sexta-feira 13, e em Novembro quando estas já estiverem esquecidas,nova sexta -feira 13. É o ano dos azares? Eu não quero acreditar,mas contra factos,onde estarão os argumentos?

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Serenata


Volto a falar do Montemor do meu tempo,pequenino,bonito sem dúvida,mas pobre,com caracteristicas de aldeia.Viam-se cães pelas ruas, galinhas,e até ninhadas de pintainhos: passavam o dia na rua de trás e na feira da madeira,e só à noite recolhiam a casa.Também era um modo de produzir algum dinheiro,pois as carências eram mais que muitas,e não havia subsídios.Assim as pessoas viam na possibilidade de ter "criação"um bem a aproveitar.(Tempos difíceis)
Existia a vala,curso de água que atravessava a vila,e que além de lavadouro,nela nadavam patos e gansos propriedade de vários residentes naquela zona; só vinham a terra quando o característico "liro,liro,liro"pronunciado em voz alta pela dona,e conhecido pelo grupo como sendo comida à vista, os fazia correr para ela; comiam com sofreguidão,para logo depois regressar ao seu paraíso aquático: à noite recolhiam a casa de livre vontade;excepção apenas em ocasiões de cheias quando a vala desaparecia, engolida por um estuário de alguns kilómetros;então ouviam-se ao longe os seus estridentes "quá,quá,quá, no silêncio da noite,e por lá ficavam assim como também os ovos "graúdos" das patas. Numa dessas cheias (grandes) em que a água cobriu toda a rua principal e também o muro que ladeava a vala,as bateiras (barcos de madeira) entraram ao serviço para a entrega de pão,artigos de mercearia, ou comprimidos para atenuar sofrimento.As casas do lado direito da rua,tinham saída para a encosta do castelo;as do outro lado tinham a rua de trás com mais água ainda,pois o pavimento era ligeiramente mais fundo. Havia a vala,separada pelo muro,e a paisagem das terras de cultivo divididas por vegetação alta e algumas árvores,mas agora só a água predominava.Estávamos numa ilha,e digo estavamos porque eu estava lá...e assim me sentia bloqueada,e até apreensiva.Os homens que assim vogavam naquelas "cascas de noz" para ajudar,nada cobravam,era um auxílio expontâneo fruto da situação; certamente que haveria alguma gratificação por parte de quem vivia melhor,mas o que era isso em relação ao bem que faziam... Aconteceu numa dessas noites estar um luar maravilhoso,(eu não sei se seria o luar de Janeiro),que se projectava nas águas e inspirou um grupo de rapazes a agir; no meio do silêncio só quebrado pela vara que impulsionava os barcos,elevaram-se vozes,cantando fados de Coimbra.Todos nós corremos para as janelas; os barcos avançavam lentos pelas águas ao largo, frente à Vila, e os fados sucederam-se um após outro, melodiosos como só a balada Coimbrã sabe ser.Durou bastante tempo a serenata,foi bonito o gesto daqueles jovens,ficou a recordação e posteriormente a saudade.
No dia seguinte a água tinha baixado um pouco,já estava a descoberto o cimo do muro (de suporte da vala),mas ainda impossível sair de casa,viriam de novo os barcos.Talvez"atraídos pelos fados," os patos acercaram-se das casas nessa noite e as patas poedeiras,colocaram os ovos em cima do muro,frente à minha casa;dois aqui, três além,ao todo eram 14;que rica fritada em prespectiva!Ainda era cedo e já vinha o nosso vizinho sr.Joaquim Ferreira num barco e perguntou:-É preciso alguma coisa? A minha mãe respondeu:-É sim; é preciso ir buscar aqueles ovos,são 14, metade para mim e metade para o sr.Joaquim levar p’ra casa. Ele logo efectuou a manobra, e ainda colocou os referidos num cesto,que preso por um cordão os içou para a minha janela.Durante alguns anos,quando a água subia,ele, a esposa e a minha mãe,entre sorrisos recordavam o facto,(único) pois jamais se repetiu.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O livro de receitas

Em Dezembro cozinhei uma lampreia e o facto teve honras de livro.Não sei bem os detalhes mas acho que foi uma iniciativa colectiva que reuniu receitas de diversas pessoas que têm blogs.Um dia a minha filha mais velha que não gosta de cozinhar,veio perguntar-me como se cozinhava o bicho feio,como ela lhe chama.Queria saber tudo,e até tomou notas.Depois é que me disse que era para um livro,que ia ser publicado na internet.Até telefonei à minha amiga Arminda para confirmar um pormenor.Depois ela traduziu para inglês.E no dia da preparação apareceu com a máquina fotográfica e fez a reportagem.O livro tem 38 receitas,e está à venda na internet.O produto da venda reverte para a caridade.Também vão sortear 1o livros,é ver aqui.E entre tantas receitas está a minha receita da lampreia!

Pode ser encontrado aqui:http://www.blurb.com/bookstore/detail/485233

A solução da adivinha"complicada"

Esperei,mas concluo que não querem dizer a solução. Refiro-me à ultima adivinha.
Não gostaram? Acharam mórbida? Pois é o inverso,querem saber?
Poderíamos chamar-lhe até, elementos necessários para variações... em dó, ou ré, ou...
Pois: são as 12 cordas da guitarra e os 5 dedos da mão.

Um conselho

Reflexão
Para conseguir efeitos grandes,e para levar a cabo empresas dificultosas,
mais segura é uma ignorância bem aconselhada, que uma ciência presumida,
(Padre António Vieira)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Terrivel mania

Hoje voltei às rimas,simples, coitadinhas,apenas para falar das minhas manias,que são muitas,mas por agora só conto esta:

Mas que terrivel mania
Eu fui encaixar na tóla,
De vir a acertar um dia
Nos treze do totobola.

E assim presa à quimera,
Lá fui jogando,jogando,
Mas acertar,quem me dera...
Será que acerto,mas quando?

Decerto nunca: que esperava?
A esperança me vai fugindo,
Mas que gostava,gostava...
O dinheirinho é tão lindo!

Mas não quero abandonar,
Tentar está-me no gôto...
Como este me está a falhar,
Vou mudar p’ró totolôto.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A paciência

A paciência faz contra as ofensas o mesmo que as roupas fazem contra o frio; pois, se vestires mais roupas conforme o inverno aumenta, tal frio não te poderá afectar. De modo semelhante, a paciência deve crescer em relação às grandes ofensas; tais injúrias não poderão afectar a tua mente.

Leonardo da Vinci

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Adivinha

Hoje não estou bem de saúde,por isso não vou escrever sobre recordações ou sonhos... Mas quero dizer que gostei dos comentários que deixaram para mim. Continuem,agradeço. Para a Lenita que comunga comigo as recordações do Montemor antigo, um beijinho.

A adivinha anterior refere-se aos livros,a resposta são as respectivas folhas.

E de novo outra adivinha:

Doze mortos estendidos
E cinco vivos lhes dão
Os mortos soltam gemidos
E os vivos calados estão.

O que é ?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Não há bela sem senão


Hoje é Domingo e, embora o sol já tenha feito uma aparição fugaz,nesta altura a chuva cai forte, mas é natural que faça frio e chova porque é Inverno.
Agora eu "não gosto"deste tempo escuro,torna-me mais melancólica ainda, mas há muitos anos atrás eu recebia o Inverno com boa disposição, e a chuva com alegria. E porquê ? Porque havia a perspectiva das cheias.A neve acumulava-se na serra e por vezes a chuva a seguir (que os mais velhos diziam ser morna)derretia a neve ,e aí vinha a água engrossar o Mondego que por sua vez alagava não só os campos,mas também alguns bocados da rua que atravessa ainda Montemor,e entrava no rés do chão da minha casa e nas outras.Não era muita água,por isso é que eu gostava,porque podia sair e andar descalça naquela água tão fria.Os adultos desejavam que ela fosse embora e quando eu ouvia dizer "já está a baixar",então é que eu ficava com pena.O tempo passou,apurou a mentalidade,e as enchentes deixaram de me fascinar,até porque ganharam maior volume,cobriam a rua inteira (do princípio ao fim),e impediam as pessoas de sair de casa.Instalava-se até uma certa apreensão e tristeza,especialmente quando a noite chegava. Tentava-se minorar fazendo um pouco de serão à janela conversando com as visinhas olhando a àgua e falando dela... uma a uma iam-se despedindo,ali ficava o silêncio,e dentro de casa um sono pouco tranquilo.E foi assim igual durante muitos anos,até ser possível alterar o curso do rio,e então acabaram as cheias.Não há bela sem senão,perdeu-se a beleza do rio,(sempre tão cantado por onde passa) perdeu-se a paisagem envolvente do Casal Novo do Rio,e a Vala que tão maltratada era,mas sendo um fio d´agua que atravessava a Vila podería ter sido aproveitada. Acabaram as cheias,na verdade não se pode ter tudo.

Sonhos politicos


Ainda não sei se sou ou não supersticiosa. Por vezes estamos convencidas que estamos acima disso e quando reparamos já não temos a certeza... mas a verdade é que nunca dei valor aos sonhos como sendo premonições.É raro lembrar-me do que sonhei,mas quando consigo, e o caso é fora de propósito, descabido,dá para sorrir...
Há uns dias atrás sonhei que caminhava para uma festa (não sei qual),mas devia ser importante a avaliar pela minha "indumentária".Vestido comprido de seda de côr clarinha,lindo,e pasme-se, quem me levava pelo braço? O dr. Ferro Rodrigues! Mas acordei durante o percurso... Ontem voltei a sonhar; os pintores tinham acabado de me pintar uma sala e eu fui ver como estava a obra; e quem é que eu encontro todo atarefado a colocar as sanefas de madeira? O engenheiro Sócrates... e ansioso pela minha aprovação, em relação à qualidade do trabalho...desta vez até ri alto!
(Querem ver que nalguma outra vida anterior eu era mulher de algum ministro ? )

Bordado à máquina


Desta vez um naperon bordado à máquina...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O Carnaval dos anos 50


No Domingo e Terça-Feira Gorda as raparigas evitavam sair à rua porque os rapazes empoavam-nas.Esfregavam-lhe a cabeça com farinha deixando o cabelo fortemente empoado, a necessitar lavagem imediata.Eles entravam mesmo nas residências,era permitido,era tradição.As raparigas trancavam as portas,e gozavam-nos das janelas,mas por vezes os mais ousados iam buscar uma escada de mão,subiam, entravam e empoavam.Elas barafustavam e eles saíam triunfantes dum acto que só o Carnaval permitia.Animação na rua,era nada... apareciam uns mascarados desgarrados,agora dois,mais tarde outros tantos,um grupito,vestidos de andrajos,casacos d´homem voltados do avesso, abrigados com um chapéu de chuva todo deformado,a cara escondida por uma renda branca,e na cabeça um chapéu de feltro velho,ou um lenço já transformado em trapo.Percorriam as ruas proferindo uns sons guturais,acenando para as pessoas que se encontravam nas janelas.Ficavam felizes por não serem reconhecidos,e assim se divertiam.A nota mais graciosa eram as crianças,vestidas com trajes de fantasia; Nazarena,Gandareza,Minhota,
Lavadeira,Madeirense,Holandeza,Boneca,Tricana de Coimbra,e outros.Os meninos vestiam-se de Palhaço ou Campino.Passeavam-se em grupinhos e dançavam,danças de roda,tudo expontâneo como só as crianças sabem ser. E o Carnaval era isto ou pouco mais.Mas o ponto alto era o baile à noite,no Teatro Ester de Carvalho.Não era possível dançar bem porque o espaço era curto,mas entre encontrões e pedidos de desculpa,todos se divertiam, sob o olhar atento das mães que acompanhavam as filhas, e aguentavam penosamente até ao fim do baile sentadas,o barulho da orquestra e o calor,porque a afluência era muita e não havia ventilação.Num desses bailes no Domingo Gordo,depois da Orquestra Serra e Moura ter tocado e os pares dançado várias vezes,estando tudo animado,um membro da orquestra acercou-se do microfone e pediu silêncio,porque queria fazer uma comunicação importante.
Alguns dos presentes pensaram numa má noticia. Queria informar que tinha sido encontrado ali um objecto de valor e seria entregue a quem o reclamasse,provando que lhe pertencia.As raparigas afagaram de imediato o seu fio ou alfinete d´ouro,certificando-se da sua existência: os rapazes além do relógio de pulso nada mais usavam.O baile continuou e instalou-se a expectativa:o que seria que tinham encontrado? Pelo modo era coisa de valor,dizia-se em voz baixa...
Mais apelos iam sendo ouvidos,e agora já com mais pormenor: "Queremos entregá-lo ao legítimo dono,só terá de provar que é mesmo seu.Eu penso que nenhum de vós vai dizer que é vosso sem ser,até porque está aqui a Autoridade,a Guarda Republicana..."E os guardas deram dois passos em frente ! (Gostaram da referência.) O baile aproximava-se do fim,chegou o momento tão ansiosamente esperado: "Como até agora ninguém veio reclamar o objecto,que é de valor,eu vou mostrar.O dono vai aparecer porque ao vê-lo conhece logo que é seu,mas não se esqueça,tem de provar que realmente é. (Quem assim falava era o Germano.)
O espaço entre ele e o público era cada vez mais diminuto,todos ansiosos empurrando-se para verem bem de perto.Então ele com uma expressão muito séria,exclamou:O objecto é este! E erguendo bem alto o braço mostrou na mão uma enorme pinha de pinheiro bravo. Ouviu-se um "oh" de espanto e decepção,e toda a multidão masculina que hà pouco se acotovelava,recuou subitamente em silêncio...As espectadoras sentadas soltaram em uníssono gargalhada geral ! Ele mantinha-se firme no palanque da sua Orquestra com a pinha na mão,e sem se rir ainda perguntou:Então não pertence a ninguém? Têm vergonha de a vir buscar? Então aí vai ela...e atirou-a para o meio da sala. Alguém a apanhou. A dança recomeçou com o habitual passo-doble que finalizou aquele baile, que hoje gostei de recordar.