quarta-feira, 30 de abril de 2014

Com atrazo, mas as plantas floriram


Só agora, a primavera chegou à entrada do edificio onde moro. A chuva prolongada e a ausência do sol prejudicou as flores, que este ano são em menor quantidade. No entanto estão bonitas como sempre, e eu apressei-me a trazê-las para aqui.

domingo, 20 de abril de 2014

O Rosário

Quando à noite contemplo taciturno
Estas contas antigas, o rosário
Das minhas orações,
Vejo em minh'alma o poema legendário
Dos velhos tempos das lonjínquas eras
De santas devoções.

A cruz ebúrnea, onde agoniza o Cristo,
É de um lavor subtil, que nos revela
Um génio magistral,
Obra de monge em merencória cela,
Piedoso artista há muito adormecido
Em velha catedral.

Tem séculos; talvez que nestas contas
Passásse outrora suas mãos esguias
A castelã senil,
Pensando triste nos ditosos dias
Em que a seus pés um menestrel vibrava
O mimoso arrabil.

Talvez que este rosário minorásse
As saudades da noiva lacrimante,
Que debalde esperou
Em cada nau, que vinha do Levante,
O seu donzel amado que partira
E nunca mais voltou.

Sobre a cota de um jovem cavaleiro,
Que o beijava por noites estreladas
Pensando em sua mãe,
Ele assistiu às guerras das cruzadas,
Atravessou talvez a Terra Santa
E viu Jerusalém.

Talvez alguma freira, em triste claustro,
De seus anos na doce primavera,
Só dele confiou
Seus loucos sonhos de falaz quimera,
E, apertando o rosário ao peito ansioso,
Consolada expirou.

Isto, o que leio no rosário antigo;
E, quando melancólico lhe beijo
As contas de marfim,
No ar escuto indefinido harpejo,
E então a crença, a mística toada,
Murmura dentro em mim.

 (Gonçalves Crespo)



Para todos vós visitantes e amigos, os meus cumprimentos, com os desejos sinceros de que vivam o Domingo da Ressureição em Paz e Alegria. E que o vosso Ovo de Páscoa venha repleto de doçuras e surpresas boas.
Feliz Páscoa, e um abraço.
Dilita.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A minha ida à Bruxa em 1972

Hoje vou contar a história da minha ida à bruxa; - à bruxa, sim, não foi engano o que leram, foi isso exactamente. Desde muito novita que me interesso pelas ciências ocultas; mas elas de tão ocultas, nada se deixaram transparecer ainda. Recordo-me de em miúda ver na minha terra, quando acontecia a alguma pessoa desmaiar, na rua, logo aparecer "alguém entendido", e vai de falar ao espírito - eu muito curiosa logo me acercava, mas nada via ou ouvia que me parecesse extraordinário.
O tempo foi passando, e quando eu já era mãe de familia e a residir em Braga, ouvi a uma amiga minha, falar duma senhora, acerca dos seus atributos espíritas, pessoa formidável nessa arte. Pensei, pensei, sózinha, (pois estas coisas não se dizem) e decidi ir lá fazer uma consulta. Puz a ideia em prática, e lá fui para a paragem do autocarro, que me levaria do centro da cidade de Braga até ao sopé do Bom Jesus do Monte.
Lá chegada, tomei lugar no Funicular (elevador sobre carris) e aí vou eu monte acima. Devo dizer que apreciei imenso aquela pequena viagem; o elevador ia lotado, e subia lentamente entre arbustos verdejantes, e sensivelmente a meio cruzou com o "colega" que descia, pois funcionam em simultâneo, e a sua energia motora é a água: - quando parou, eu estava no alto, no Parque do Bom Jesus, um local lindíssimo já meu conhecido, mas não deixei de reparar uma vez mais naquela maravilha da Natureza, e que a mão do homem soube aproveitar e bem. As árvores frondosas, abrigavam do sol dezenas de passarinhos, que chilreavam sem parar, naquela tarde de verão; flores de várias côres sobressaíam da verdura dos canteiros, um socêgo enorme contrastava com o bulício da cidade cá em baixo, convidando até à meditação: atravessei o Parque e dirigi-me ao Bazar, propriedade da dita senhora. Tive de aguardar, pois dois táxis á porta, esperavam a saída de clientes, que tinham ido de Viseu a Braga, pois lá diz o ditado, que Santos de ao pé da porta, não fazem milagres... Finalmente saíram, e eu apressei-me a contactar a senhora: ela pareceu-me ter mêdo a principio, e até tentou escusar-se, mas depois lá acedeu e mandou-me entrar: foi a minha vez de ter mêdo - é que eu não receio os espíritos, mas tenho mêdo dos vivos, e na verdade eu estava ali sózinha; - mas desistir não era meu desejo, por isso fui em frente.
Depois de entrar e reparar na senhora mais de perto, e constatar que ali não estava mais ninguém, até me envergonhei por ter pensado mal. A casa era uma única sala grande, prolongamento da loja, e ela uma pessoa de estatura baixa, já decrépita, talvez à volta dos setenta anos, e a completar ainda tinha uma perna coberta por ligaduras, do pé até ao joelho, cuja causa seria uma entorse, ou pequena fractura. O aposento demasiado modesto estava em ordem e asseio, mas no ar pairava um forte odor a aguardente, e a dois passos de mim sobre um móvel, estava a respectiva garrafa;
- a pobre senhora de vez em quando regava as ligaduras com o bagaço, mas cedo constatei que ela não teria só regado as ligaduras, pois se encontrava um pouco embriagada. Contou-me a história da fractura várias vezes, mostrou-me as radiografias, disse-me os nomes dos médicos e enfermeiros que a trataram, enfim, um não mais acabar de pormenores repetidos vezes sem conta, característica típica do estado em que ela estava. Eu comecei a arrepender-me de ter ido ali...
Mas entretanto ela calou-se, e tratou então de invocar os espíritos, mas com aquele cheiro tão pronunciado a aguardente, não ouve espirito que se aventurásse...
Despedi-me, e retornei à cidade. Gostei do passeio. Quanto à minha curiosidade, também não foi desta que fiquei esclarecida.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A Resposta...

A GARRAFEIRA DE ANTÓNIO LOBO ANTUNES


"Perguntam-me muitas vezes por que motivo nunca falo do governo nestas crónicas e a pergunta surpreende-me sempre. Qual Governo? É que não existe governo nenhum. Existe um bando de meninos, a quem os pais vestiram casaco como para um baptizado ou um casamento.

Existe um Aguiar Branco e um Poiares Maduro. Porque não juntar-lhes um Colares Tinto ou um Mateus Rosé?

É que tenho a impressão de estar num jogo de índios e menos vinho não lhes fazia mal".

António Lobo Antunes

Passei no MARCHA DO VAPOR, gostei destas opiniões, e perguntei ao amigo Rogério se podia trazer para o meu blog. Ele sempre me autoriza, e desta vez nem disse nada.Portanto este silêncio diz tudo "quem cala consente." 

domingo, 6 de abril de 2014

Gato por lebre...

Ainda não me esqueci devidamente da hora de inverno. E como o tempo tem continuado chuvoso, nunca acordo a horas certas. Hoje foi igual, estava escuro, e eu sem vontade nenhuma de sair da cama. Fez-se tarde, de modo que adiámos a saída prevista, que além de se desejar agradável, seria  útil, porque iriamos passar numa feira para comprar uns artigos,que ali são mais baratos. Mas é bem verdade que a perguicite não dá resultados práticos; - não fui passear, não fiz as compras ( e terei de as fazer), o dia esteve bonito cheio de sol, e eu em casa. Em casa e a fazer o almôço. Aqui está no que dá ser mandriôna...
Bem, mas como nada disto me aborrece, tudo bem.
Quando estou na cozinha ligo o rádio, sou fã da antena 1. Assim fiz hoje; eu gosto de ouvir falar. Então ouvi, e ouvi com muita atenção, direi mesmo que ouvi e até respondi para mim própria, porque já me estava a assaltar uma certa indignação.
O tema era sobre o 25 de Abril que vai festejar 40 anos. Eu não consegui guardar os nomes dos entrevistados, mas o que garanto é que eram pessoas de categoria, e a exercerem trabalho no actual momento. O entrevistador pediu a comparação entre o antes do 25 de Abril e o agora... se o País e os Portugueses estão melhor?
O entrevistado principal foi pródigo em apontar só maravilhas. Quem tal ouvisse e não soubesse a verdade,desejaria ser português e aqui residente... Na afirmação dele, dantes é que não havia nada, e pormenorisou; que as mães não tinham água potável para ferver os biberons, e as crianças morriam. Também os nascimentos eram em casa e sem higiene. E que não havia hospitais... Não se vacinavam as crianças contra o tétano e a varíola... Eu páro por aqui, mas o rol de afirmações entre o mal antigo e o belo actual, não acabava mais. Valeu a aproximação do sinal horário...

Todos nós sabemos que o 25 de Abril era esperado, e em boa hora aconteceu. Bastava que com esta revolução só se tivesse conseguido acabar com a Guerra Colonial, essa triste desgraça de tantos anos, e também acabar com a Policia Hedionda que se chama Pide, para todos nós aplaudirmos a Revolta dos Cravos.
Agora não me venham com lérias, porque o bom é inimigo do ótimo... Nem dantes era tudo mau, nem agora é tudo bom.
Em 1967, eu fui pelo meu pé para a Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa, e ali nasceu a minha primeira filha. Não paguei nem um tostão. Antes já tinha sido acompanhada (eu e mais grávidas) pela médica “da caixa” era assim que lhe chamavam, e sem pagar nada. Depois tive prémio de nascimento, também comparticipação na alimentação da bébé até aos 8 meses, e abono de familia. Era pouco? Era, mas nunca foi suspenso.

Agora quanto ás vacinas; pois se até eu fui vacinada contra a varíola quando tinha um ano, e depois fui vacinada na escola.Eu e todas as crianças. Ia lá o Sr.Dr.António Afonso delegado de saúde em Montemor-o-Velho, médico pago pela Câmara, chamado o médico dos pobres porque não cobrava nada pelas consultas. Ia com um enfermeiro e vacinava as crianças uma a uma. E dava a ordem para irem na data marcada, ao hospital da Vila para as vacinas injetáveis (estavamos no ano de 1946) nestas estava incluida a do tétano. Lembro-me muito bem porque eram muito dolorosas.

Eu acho que sim, em relação aos quarenta anos passados, havia mais que razão para termos melhor sistema de saúde, e mais melhorias em muita coisa. Mas não temos. O que temos, é lérias.... enquanto os doentes aguardam durante dias em macas, nos corredores de  alguns hospitais. E outros morrem à espera duma ambulância. E as grávidas dão à luz na ambulância porque as maternidades próximas da sua residência foram anuladas. E aqui estão as melhorías tão propaladas que eu hoje ouvi.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O lindo azul do céu

O céu da minha rua ontem perto das vinte horas. Foi um dia de várias côres; muito frio, chuvoso, depois com intermitências apareceu o sol, e ficou menos frio, e a esta hora quase a promessa da chegada de tempo sêco. Puro engano, daí a algumas horas a chuva era intensa.
A foto não está famosa, está torta, a pressa traiu-me... Mas o azul conquistou-me o suficiente para a colocar aqui.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Poesia

Poesia brota do nada e traz tudo
Não se constrói, nem se arquitecta.
Para a criar, não é preciso ter“canudo”
É do sentir de cada um, não se projecta.
É como semente que se torna raiz,
Tronco ou folhagem.

O fruto é cada verso, com ou sem rima.
É o sentir que a palavra tem e o que nos diz.
É a teia que o poeta tece e que assina.
Uns poemas trazem mensagem, outros não.
Outros falam de lutas, vidas e amor.
Outros, ainda, de mitos, dor ou ilusão,
De sonhos, liberdade, campos em flor.
Dos cravos, das rosas, das papoilas
De tanta coisa falam, mas também
Das formas belas e suaves das moçoilas
Que nos “levam” nos sonhos para o além.
Ainda que alguns, sejam plenos de fantasias,
Trazem-nos a esperança nas palavras
E luz que ilumina os nossos dias.


ARFER


É de bom tom depois de se ter pedido permissão, dizer que o texto que aparece, foi cedido pelo autor do mesmo. Porém, eu não posso seguir esse bom costume, porque simplesmente apropriei-me sem mais nem menos. Gostei tanto desta poesia, que não resisti, e trouxe-a. Pertence ao blog ARFERLANDIA, e o seu autor assina ARFER. Quero no entanto afirmar que apagarei de imediato, caso o Sr. Arfer assim o entenda.


Mas entretanto caros visitantes, párem para apreciar esta Poesia, e estou certa que não me vão condenar por a ter "roubado."

terça-feira, 1 de abril de 2014

A almofada bordada

Quem diria que esta almofada tem mais de sessenta anos... Mas é verdade, eu era práticamente uma criança quando fui aprender a bordar à máquina, e queria fazer tudo. Assim, vi este desenho numa revista de modas e bordados que se publicava na época, e logo me entusiasmei. A professora de bordados acarinhou a minha pretensão, indicou as côres das linhas a utilizar, assim como a côr do cetim, e acompanhou o trabalho com os seus ensinamentos. A maior parte do bordado é o chamado granité;  as bolinhas e flores do xaile são a matiz, assim como o cabelo. É um motivo alusivo às festas de S.João em Lisboa, e a figura, uma varina com o lenço descaído, e o tradicional mangerico na mão...
Foram muitos dias a pedalar à máquina, e algum mêdo de não conseguir fazer bem feito. Mas consegui, e ainda me recordo quando concluí o trabalho, as meninas mais velhas a abraçarem-me, e eu toda contente por receber aqueles carinhos; eu só tinha treze anos. Estas "coisas" deixam marcas, marcas boas. O tempo já tirou algum brilho ao cetim, mas é natural, isto já é uma velharia, e eu também não a fechei numa mala...
Hoje olhei para a almofada e pensei, merece ser fotografada... e aqui está.