segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Na feira - mentira e violência...

Na Vila,cheia de história e belezas naturais, a vida era demasiado pacata, mas à quarta feira de quinze em quinze dias, acontecia a feira. Era centenária, tinha lugar cativo, e como mercado era deveras importante. Ali se vendia de tudo; - desde o simples mólho de erva (escalrrácho) para o gado cavalar, até aos finos objectos do mais puro ouro. Tudo o que era necessário se comprava na feira. Neste dia a Vila transbordava de gente, das freguesias e terras ao redor, e mesmo de algumas situadas a alguns kilómetros de distância.
Os feirantes vinham de lugares distantes, de furgoneta velha mas grande, outros menos abastados tinham carroça e cavalo, outros de carro de bois, ou burro, dependia dos géneros que vinham vender. Tinham lugar marcado no chão de terra batida, e bancada de madeira, e em local perto mas afastado, estacionavam os animais, e mais ao lado as viaturas.
A feira estendia-se por todo o grande  Largo da Feira, frente à estrada, e seguindo por ela e andando uns bons metros chegava-se à feira da sardinha. Sardinha e carapaus maiores e menores, fresquinhos ou salgados, era o peixe que nunca faltava.
Neste bocado de estrada que separava relativamente as feiras, na espécie de valeta que ladeava a via, e observando algum espaço entre si, estavam os mendigos. Também eles vinham de longe, não eram da Vila. Era um espectáculo triste, deprimente, desolador... Sentados no chão, todos tinham mazelas;  braço empanado, perna coberta de ligaduras, grandes chagas, sujos, ali exibiam as suas desgraças e pediam ajuda com lamentos em alta voz. As pessoas (eram muitas neste dia) condoíam-se e davam...
E nada mudava, e na feira seguinte, era igual...
Neste grupo, estava um pedinte diferente: tinha um pedaço de manta no chão, e nele uma criança que aparentava uns oito anos, e tinha umas proteções de borracha nos joelhos e nos cotovelos. A criança rastejava no pequeno espaço. E ele de pé chamava a atenção e pedia nestes termos: - olhem para esta desimfeliz!  Não se levanta, é como um gato. Tenham pena da minha Xiquinha!  A miúda gritava a dizer - eu não sou isso! Sou Zulmira! - Não és nada!  Vêem? ela também é maluquinha da cabecinha dela, tenham pena!
Sobretudo as mulheres comoviam-se com a triste sorte da menina, e deitavam na "bandeja" uma moeda, ou alguns géneros que retiravam do que haviam comprado. E assim passou muito tempo, a menina até estava maior, e mais pena dava a quem a olhava, e ouviam-se comentários;- coitadinha está a tornar-se uma mulhersinha, e nesta desgraça.

Um dia a menina não veio, mas o pai estava no mesmo local, agora sentado no bocado de manta, e de camisa prêta. Na mesma estendia a mão à caridade, e às perguntas sucessivas que lhe faziam, respondia pesaroso que a sua Xiquinha tinha morrido num desastre, onde ele também ficara ferido, e ainda trazia a perna com talas.
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Era verão. Estava um sol bonito, mas sobretudo muito calor. Na fonte à beira da estrada no lado norte da Vila, a Nazaré e a Anita aguardavam que a água lhe enchesse  os cântaros, para regressarem a casa. Conversavam sobre a séca que neste ano estava a dar prejuísos enormes, e nem repararam que um pequeno automóvel havia parado do outro lado da rua. Só quando ouviram falar é que o viram, e se aperceberam de que no seu interior estava um casal. A senhora era nova (viram depois) e saiu rápida do carro dirigindo-se logo para a fonte. Sorridente, saudou as duas mulheres com um sonoro Boa Tarde! Depois acrecentou:
-Está  tanto calor, que eu estava desejando chegar aqui para beber água...
- Beba beba, que é fresquinha e não custa dinheiro... Mas diga-me uma coisa, disse a Anita  - então já sabia que havia aqui uma fonte? Mas a senhora não é daqui...  Querem ver que adivinha?
-Ela sorriu agradada com aquela quase familiaridade, e respondeu.
- Ah, quem me dera ter esse predicado, de adivinhar...Também eu, retorquiu a Anita; sobretudo se adivinhásse o numero da sorte grande; olhe, não andava mais a acartar a água, pagava a quem ma viesse buscar. A Nazaré que até aí tinha estado calada, resolveu também meter palavra; - não querias mais nada, ora esta? Só querias ficar rica, para te dares à molenguísse... ora, morrias logo, tu sabes lá estar quieta.
Riram-se em coro. O marido que entretanto saiu do carro juntou-se ao grupo, e também entrou na risada; depois olhou o relógio e disse, temos de ir andando.
Vinham do Pôrto e iam para Fátima, queriam chegar cedo, e já se despediam quando a Anita se lembrou ;- então, mas afinal não satisfez a minha curiosidade; - não disse ainda como sabia que havia aqui esta fonte....
Não é de cá, e agora já sei que vive no Norte...

Súbitamente o riso desapareceu completamente do rosto da senhora bonita, que ficou calada um momento como que a ganhar  coragem, mas depois respondeu:
- eu quase fui criada por aqui, as senhoras secalhar até me conheceram... E os olhos encheram-se-lhe de lágrimas, e o peito estremeceu-lhe em soluços que não conseguia evitar.
A Nazaré ficou sem palavras, e a  Anita muito aflita por ter sido a causadora, com a sua insistência, daquela reação, da qual não entendia o porquê. Quis manifestar-se, dizer algo que trouxesse de volta a boa disposição anterior, mas só lhe ocorreu perguntar:
- Então, e está a chorar só por isso? Por ter sido criada por aqui? Não é razão...
-Por um momento ela reprimiu as lágrimas teimosas e respondeu:
-Eu sou aquela menina, que rastejava na feira. Sou a Zulmira.
-Nunca fui deficiente, nem tolinha...

domingo, 26 de outubro de 2014

Pela Cidade de Tomar

 A tarde estava no fim, já não havia sol, e o Parque ficou deserto.
 Acho o Corêto engraçado; - páro sempre a apreciá-lo quando aqui venho. Parece-me um bolo de noiva; - só lhe falta ser branquinho...
A paisagem habitual do Outono, as folhas caídas fazendo tapete sobre a relva. A Natureza marcando seu ciclo, sem precisar de relógio.

sábado, 25 de outubro de 2014

Na Cidade dos Templários...

 As águas calmas do rio Nabão, numa tarde quentinha de Outono.
 A ponte a convidar-nos a atravessá-la e a entrarmos para um passeio no Parque.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Isto é Portugal

Subimos até ao alto e entrámos no Castelo Mourisco. Fotografei ao acaso, e na segunda foto sobressai um edificio de grandes dimensões, é o Hotel dos Templários. Qual é o nome desta cidade?
Eu sei que sabem, querem dizer-me?

sábado, 18 de outubro de 2014

Já fez cem anos

O sino da Igreja começou a repicar alegremente, e as pessoas que no adro esperavam para ver sair os noivos repetiam: - já está casada! Já está casada!  Umas quatro raparigas aproximaram-se da porta da Igreja, cada uma com um prato de pétalas de flores na mão, para as atirar ao casal assim que ali chegásse. A aldeia era pequena, todos se conheciam, e todos participavam das alegrias uns dos outros.
A comida para a boda estava decerto a esfriar, porque os abraços não acabavam mais, e retinham os noivos ainda no Adro da Igreja.

Uma familia em perspectiva, dizia um dos acompanhantes, ambos sabem bem tratar da lavoura, irão ter casa farta com o produto do seu trabalho. E assim aconteceu, fizeram as sementeiras, as  sachas e as mondas, e viram as searas crescer, porém o Zé já não fez as colheitas.
Num dia que foi demasiado triste para a Rita, o Zé recebeu ordem para se apresentar no Quartel, que ele já conhecia, porque iria ser mobilizado para seguir para França; a guerra  havia começado, e Portugal como aliado de Inglaterra ia participar.

A Rita gritou, e depois desfez-se em lágrimas. O Zé  fazia-se forte e repetia;- tem coragem mulher, nem todos que vão prá guerra lá ficam.- Eu hei-de voltar! - Eu volto, vais ver...  - Sei lá se voltas, dizia em lágrimas a Rita. - Estou cheia de maus presságios, tenho o coração negro como a noite...

Passados dois dias, o Zé lá partiu, e com ele também outros homens dos lugares próximos. Na aldeia só se ouviam lamentos, não se falava noutra coisa.

Entretanto o tempo foi passando, a Rita tomou coragem, e deitou mãos ao trabalho; a lavoura ocupava-lhe o tempo de sol a sol.
Começou a ter esperança, e pensava - talvez Deus o proteja... E à noite na cama sózinha, rezava e pedia a almejada proteção. Era crente, e a fé uma enorme força, agora já não queria pensar no pior, o seu Zé iria voltar, dizia em pensamento.

Mas não... numa manhã de céu enevoado, inesperadamente alguém bateu à porta:
- quem é? inquiriu a Rita antes de abrir...
A voz de fora respondeu - carteiro! Sobressaltada correu a abrir a porta, ansiosa...
- trago uma carta, é do exército; disse o Sr. João, o carteiro, com ar apreensivo.
- eu não sei ler, abra se faz favor, e diga-me o que é que aí vem... disse a Rita já de lágrimas nos olhos.

Choraram os dois, o Zé não voltaria mais, ficara naquela batalha maldita.

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A Rita vestiu o luto das viúvas, chorou a sua mágoa, viveu a desilusão e a tristeza, maldizendo aquela guerra estúpida e má, que tanto mal lhe tinha causado. As amigas davam coragem, com opiniões repetidas, que ela só tinha era de procurar conformar-se, porque já nada havia a fazer...

O tempo ia passando, a Rita continuava a trabalhar, e quantas vezes com as lágrimas a cairem na terra que cavava.

E um dia um primo do Zé, o Jorge, fez por se encontrar com ela no caminho para a mercearia. Falaram pouco tempo, ela tinha sempre pressa. A situação repetiu-se algumas vezes, sempre de modo igual. Mas um dia depois de muito pensar, ela decidiu dar crédito ao que ele lhe andava a propôr, e aceitou recebe-lo em casa para acertarem pormenores.

O Jorge todo palavroso, fazia-lhe referência favorável, dizendo que se sentia com sorte, pois ela até já tinha a casa posta, era um bom principio para ele. Começou o namoro... Combinaram casar daí a tres meses.
A Rita voltou a sonhar!
Mas o sonho acabou em pesadelo, quando um dia por uma questão fútil o Jorge se mostrou agastado e deixou de aparecer.

Ela deixou-se ficar "nas suas tamanquinhas" como sói dizer-se, mas daí a uma semana as lágrimas voltaram aos seus olhos. O Jorge ia casar com uma vizinha que já esperava um filho dele, e até a data para o casamento estava marcada.

No dia do casamento, a Rita, pela janela entreaberta viu o cortejo com os noivos todos sorridentes.
Também ela esperava um filho do Jorge... Em lágrimas ajoelhou-se no chão da cozinha,  e desta vez não pediu ao seu Deus qualquer proteção. Pediu para aquela mulher que hoje era noiva, que se gozásse tanto do marido, como ela, que foi enganada na sua boa fé, e estava só.


Um mês depois, também o Jorge foi mobilizado, e mandado para a guerra. Morreu no campo de batalha em França.
Não chegou a conhecer o filho legitimo, nem a filha da Rita, ambos da mesma idade.

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( Estamos em 2014.  100 anos sobre o inicio da primeira Guerra Mundial )
Escrevi este texto, simples, baseado em factos verídicos)

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Presentes da Natureza

Não sei qual será o nome destas flores, mas atrevo-me a chamar-lhes sorrisos.
                     E a estas chamaria esperança e prosperidade...
Quem pela hera passou, e uma folhinha não apanhou, dos seus amores não se lembrou...
                                       Eu lembrei-me....

Na varanda

Hoje amanheceu enevoado, a anunciar que a chuva não tardaria a cair. Estamos assim numa espécie de inverno antecipado; mas sem frio.
Abri a janela, e tinha uma visita na varanda, uma pombinha.Tenho de dizer que me  esperava, pois se até ficou à espera que eu fôsse buscar a máquina para a fotografar...
Só depois sem pressa ou qualquer susto, voou ao encontro das companheiras,

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Adeus Algarve

 
O tempo magnifico, quentinho, o mar em que eu vejo sempre beleza, e a ausência de  tarefas de que ainda não me divorciei e que na Figueira me aguardavam, fez-me sentir pena de me ausentar sem termo, deste Paraíso. Um tanto penalizada, fotografei, e disse adeus...  

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A Natureza em paz

       As pedras que parecem restos de animais mumificados...
                                    O anoitecer à beira mar.

Sem mêdo da água...

 O Cão dos vizinhos, do chapéu ao lado do nosso, só queria brincar e ser simpático.

Ainda o mar

Pela manhã cedinho, com sol pouco intenso e pouca gente também.
Caprichos da água no chão rochoso.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Milagres da Natureza

Duas flores bonitas que eu trouxe de Armação de Pêra para a minha amiga Nouredini, com um beijinho e um lamento, por não conseguir colocar comentário no seu Café e Bolinho.
Mesmo sem culpas, eu me sinto em falta com esta anomalía prolongada.


Abraços apertados para você amiguinha Nouredini.
Daqui, deste Portugal, da Dilita.

domingo, 5 de outubro de 2014

Mesmo na praia...

Olá amigas e amigos!

Neste momento em minha casa,a T.V. está a apresentar um jogo de Futebol entre o Benfica e o Arouca. O meu marido que entre nós se tem confessado "curado" ( o que não é verdade) está ali caladinho a roer a unha, porque o Benfica ainda não marcou.
Assim, benfiquista sofre.....

Um dia depois de chegarmos ao Algarve ele somou mais um aniversário. Já sabemos que a boa disposição tem de vir de nós, principalmente quando não há mais ninguém por perto que ajude à festa.
Então eu sósinha, cantei-lhe os parabéns, com os versos todos,como cantam os Brasileiros. E ofereci uma prenda que tinha comprado cá, e levei escondida.
Ele gostou muito, usou logo nesse dia, e em muitos mais. Vou colocar a foto, ela diz tudo...

 Só lhe falta a coroa de louros para parecer um romano, mas fora de tempo, pois  os dedos em V de vitória, referem-se ao Benfica.
Coloquei também esta, afinal "o velhote" ainda tem boa perna...

Outras escadas...


Seriam estas a meu gosto?
 São um pouco mais agradáveis, por serem de madeira e divididas em  patamares...
Mas são quarenta degraus... Mesmo assim tiveram a minha preferência, e como recordação a foto.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Há que descer, ou subir; para ler 4 versos.

Devo andar demasiado ocupada e distraída, pois nem dou pelo tempo passar. Confesso que acho desagradável, mas não há nada a fazer; isto é a realidade nua e crua. Mas pelo que me apercebi não sou só eu, porque quando estavamos a almoçar o meu marido fez alusão igual, ao lembrar  que já faz hoje oito dias que deixámos Armação. Pois, as férias deste ano já são passado, resta-nos a recordação e as fotos.
 As escadas do meu descontentamento... São vinte degraus, detestei descê-los.
Mas gostei da obra; simples, com as cores tradicionais e das piteiras quais sentinelas sempre firmes.
E onde houver poesia eu paro... E parei, e gostei desta quadra que nunca tinha lido, embora guarde em casa alguns versos deste autor.

Uma amostra de chuva...

Algarve é sobretudo praia;  com céu azul, sol muito luminoso e mar agradável.
Bandeira amarela, não estava nos planos, mas, o mar estava um pouco zangado...
 Daí a pouco uns pingos de chuva caíram do céu com alguma intensidade...
 Depois parou de chover e um arco-íris se formou rápidamente,
E logo após, o sol voltou para ficar, primeiro desmaiado, mas depois em todo o seu esplendor.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Chegámos a Armação de Pêra

O sol ergueu-se cêdo naquele Domingo, ultrapassou o rendado dos cortinados do quarto, e indiscreto acordou-nos. Belo despertar sem dúvida.
Breve dissemos adeus à linda Grândola, e fizemo-nos à estrada rumo a Armação. Foi práticamente um passeio, não tinhamos pressa; chegámos com tempo para nos acomodarmos, e depois ir almoçar ao restaurante de sempre. Como já para ali vamos há muitos anos, nada é novo, é tudo habitual, contudo gostamos de rever as pessoas de quem nos despedimos no ano anterior.


E de rever o jardim onde gostamos de voltar. Estar aqui é estar na praia, é só descer a escada e temos a areia aos pés. As palmeiras não param de crescer...