sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Inocentes, a pagar pelos erros dos sabidos

Hoje o dia amanheceu escuro. Pelo barulho dos automóveis a deslizar no piso molhado, apercebi-me de que tinha chuvido durante a noite. Talvez estivesse ainda a chuver... Eu sei como a chuva é valiosa, os lavradores da minha terra diziam quando chuvia " isto é ouro que está a cair."- Mas este tempo escuro deprime-me, fico ainda mais triste do que em geral estou. Eu era alegre, cantava, e qualquer coisa ou facto mais animado me fazia rir. Agora, e de há um tempo para cá estou diferente, nem os actuais cómicos que aparecem na TV me fazem sequer sorrir.
Mas estou a falar de hoje: como é hábito antes de preparar o pequeno almoço ligo o rádio. Sou fã da antena um, que também nem sempre me agrada inteiramente, mas algo me satisfaz. Hoje porém o tema era pesado, pelo menos para mim. Falava-se da pobreza instalada no nosso País, mais própriamente nas crianças que chegam ás escolas em jejum. E naquelas que por não terem 73 centimos para pagar o almoço não comem na cantina . (nem em parte nenhuma.) Mas em que ano estamos nós? Em 1950?  Nessa altura é que era assim, nem aquecimento nem pão as escolas tinham para confortar as crianças, que ali entravam ás 9 da manhã descalças e embrulhadas num xalito fino, quantas vezes todo molhado. Eu lembro-me bem de como era, e até recordo o nome dessas vitimas. Vitimas sim, duma sociedade insensível e hipócrita, onde havia a Mocidade Portuguesa, como que a alardear um País em franco progresso; e na reta-guarda a pobreza calada, se possivel escondida, porque ser pobre, era ser diminuido.
O tempo passou, esse mal foi esquecido porque o progresso proporcionou bem estar. E não é o bem estar, regrado é certo, um direito do ser humano, e em especial para uma criança, uma vida em flor, que se acha no mundo sem perceber porquê...
Então nasce para sofrer ? Logo na infância! Quando ainda nem sequer sabe o que é o pecado ou a maldade... Voltámos aos anos 50? -Senti que sim, e fiquei mais triste ainda. Eu sei, todos sabemos, que no nosso País uns mais do que outros, todos estamos mal, salvo excepções para aqueles que acumularam teres e haveres, e agora dão palpites, lérias, e vivem fartos e felizes. Gostaria de perguntar (aos próprios) a estes, e aos responsáveis atuais, se quando tomam conhecimento destas noticias tristes e verdadeiras, se não sentem remorsos... Dizia Padre Américo - " Mãe, como podes dormir tranquila, sabendo que enquanto os teus filhos dormem alimentados e quentes, outros iguais a eles, sofrem com fome e com frio..."

Esta frase dum Santo, dita por ele há muitos anos, devia ser ouvida e sentida, por quem está ao leme desta barca cheia de rombos, que se chama Portugal.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ainda haverá esperança?


Depois de ter postado aquele texto de assunto triste, eu encontrei este poema de esperança, e não resisti a colocá-lo aqui. Tenho a certeza que todos vós amigas e amigos, que gentilmente me visitam passando pelo meu birras, terão como eu a mesma opinião da autora. Um mundo sem guerra, só de amor....


E porque não...

Eu quero crer num mundo sem fome
eu quero crer num mundo sem guerra
eu quero crer na dignidade e na paz
eu quero ver justiça na terra

Quero ver crianças brincando
quero ver o mundo se desarmando
quero crer na liberdade
quero ver a humanidade se amando

Eu quero crer e quero ver
um mundo mais justo com cada cidadão
eu quero crer e quero ver
apenas um mundo mais irmão

Quero crer na justiça do homem
porque creio na justiça divina
quero crer num mundo melhor
porque creio num mundo que ensina

Quero ver um sorriso num rosto sem fome
quero ver sempre uma bandeira branca hasteando
não quero muito, apenas um pouco
apenas cada um se conscientizando

Conscientizando que o mundo é de todos
mesmo obedecendo à hierarquia
governantes respeitando seus governados
para que haja paz e harmonia

Só é preciso que todos creiam como eu
que o mundo não está perdido
só é preciso que todos queiram como eu
um tempo melhor para ser vivido

Não combater a violência com mais violência
não mendigar migalhas pra fome matar
não levantar armas, mas os braços para abraçar
não criar mendigos, mas oportunidade para trabalhar

Um só mundo, uma grande familia
em harmonia como o céu que vemos
assim deve ser o Universo terreno
se cada um de nós crêrmos mais

Naquele, que não vemos.

 

( Célia Jardim)

 


As pedras que magôam a alma

Ainda sobre o que se passou ao cair da noite anteontem em Lisboa, e que só não viu quem não estava a ver. Eu vi tudo pela televisão; espetáculo triste!
Aproximavam-se as cinco horas, e decidi ligar a t.v. para ver "a opinião pública", rubrica habitual aquela hora, e da qual sou fã.
Mas a imagem que me apareceu em suficiente plano, foi um grupo de gente crescida (não eram miúdos) a carregar e a levar não sei para onde, as cancelas que sempre são colocadas para limitar a passagem para determinado local; neste caso era a Assembleia da Républica. Lembrei-me então que havia a manifestação préviamente anunciada, mas percebi também que a mesma já tinha terminado. No entanto uma multidão enorme ainda continuava ali.
Continuei a observar e comecei a ouvir rebentar qualquer coisa, eram petardos, percebi depois. Porém, não tardou que eu visse a tristeza maior: a cambada dos malandros a atirar pedras (que ao mesmo tempo arrancavam da calçada.) Atiravam-nas furiosamente contra os policias, e a turba ululava... Feliz! - Que vergonha!
Toda a gente viu que não eram só pedras; estão sem dinheiro "os coitaditos" mas ainda lhes sobrou para comprarem os petardos, os tomates, os limões e as embalagens com tinta, e as cervejas para fazerem aquele espetáculo degradante!!!
Os policias durante quase duas horas,aguentaram alinhados e quêdos, o ataque daquelas bestas.
Eu estava tão longe e em casa, mas senti-me aflita, ao lembrar-me que os policias estavam no seu trabalho,são homens, têm familia, também sofrem com os cortes no seu vencimento, e estavam ali a ser maltratados a que propósito?
Como isto acabou já todos sabemos, e sabemos também que assim tinha de ser.
E eu pergunto: - É com esta gente que ficou a atirar pedras, e também com os que ficaram a apoiar e a aplaudir, que vamos ter um país novo ???

Pobre Portugal ! Se para tal estás guardado...
E pobres de todos os portugueses decentes!

Poucos serão os portugueses que actualmente não terão motivo para se lamentar, e dar opiniões no sentido da situação melhorar. - Pois que se manifestem, sim! Que se queixem! Que exijam! Que gritem! Que se imponham! Mas que o façam com a força da dignidade e do respeito que a todos é devido.

 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Uma amorosa poesia

Olá amigas e amigos!

Eu sei que passam aqui pelo meu "Birras" e nada de novo encontram. Apresento desculpas pelo facto, e peço mesmo que as aceitem, embora eu sinta que mereço criticas. Sinto, porque as faço a mim própria e sem dó nem piedade. Até me pergunto baixinho; -mas o que é isto? Malandrice? Desinteresse? Eu quero rejeitar estas duas palavras e seus correspondentes significados. Mas a verdade é que não tenho conseguido. Hoje também não vou escrever nada, o que prova que ainda não alcancei "a cura", mas haja esperança ! Digo em voz alta para eu própria ouvir,e agir.

Na sequência do que já aqui escrevi acerca do nosso Poeta João de Deus, natural de Messines, vou colocar uma poesia da sua autoria.  Atrêvo-me mesmo a dizer que seria dedicada às crianças, é tão simples, tão leve, tão graciosa, um mimo de sensibilidade...

Todas as pessoas da minha idade a recordam certamente, vinha num dos livros de leitura do ensino primário dessa época longínqua, e agora alcunhado (esse género de ensino) de obsolêto e sem préstimo.

Não sou a pessoa indicada para conjecturar ou afirmar sobre essa crítica, só quero lembrar esta poesia que nunca esqueci.



"Minha mãe, quem é aquele
Pregado naquela cruz?
- Aquele, filho, é Jesus...
É a santa imagem dele!

                   "E quem é Jesus? - É Deus!
                   "E quem é Deus? - Quem nos cria,
                   Quem nos manda a luz do dia
                    E fez a Terra e os Céus;

E veio ensinar à gente
Que todos somos irmãos,
E devemos dar as mãos
Uns aos outros irmãmente.

                     Todo amor, todo bondade!
                     " E morreu? - Para mostrar
                     Que a gente pela Verdade
                     Se deve deixar matar.



(João de Deus)