terça-feira, 30 de agosto de 2011

Castelo de Montemor-o-Velho - 1955




O castelo! A coroa da Vila! E pela encosta as casinhas de arquitetura simples, pequenas construções de pedra e cal, muito antigas.

Na foto superior, a rua principal do castelo dentro da cinta de muralhas. Várias torres, a maior e mais alta é a torre de menagem.

Na foto seguinte, uma entrada do castelo denominada Porta da Peste, sendo visivel de novo a torre de menagem.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Montemor-o-Velho na década de 50 - 8

Vala na Ponte Alagoa   

Como este arco e respectiva ponte existiam mais dois iguais sobre a vala, um curso de água que atravessava a Vila de norte a sul. Era interessante ver a água a correr encostada ás casas que a ladeavam,aos pequenos quintais que cultivados, dela recebiam a rega necessária, e até as lavadeiras que em locais adequados para o efeito ali lavavam as roupas. Hoje já nada disto existe, os arcos foram soterrados com a vala, dando lugar a mais uma rua, resta a fotografia.                                                     

Montemor-o-Velho na década de 50 - 7


Praça da República.
Esta era a sala de visitas de Montemor nos anos 50. No lado esquerdo o edificio dos Paços do Concelho (que a foto não mostra) conferia-lhe um ar de certa grandeza. Ainda hoje o respectivo estilo arquitetónico é digno de reparo. Porém esta praça que aqui pouco "diz", era bonita.Na foto superior,uma parede lateral dos Paços do Concelho numa rua de acésso ao Castelo.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 6

Ponte na Barca.

Esta ponte que atravessava o Mondego à entrada do Casal Novo do Rio,apesar de ter sido construida há muitos anos, e restaurada algumas vezes, na altura em que fiz a foto estava perfeitamente operacional.A sua estrutura era basicamente o ferro,e até os passeios laterais pedonais eram de ferro, com relevos para não se escorregar. Foi num dos seus passeios que eu me decidi a andar sósinha, era pouco mais que bébé, mas a minha mãe sempre fez questão de me repetir "o feito" ligado à ponte.
Há uns anos atrás uma inundação de enormes proporções, numa época em que mercê de grandes obras efectuadas, as cheias não existiam mais,surgiu este imprevisto que ninguém sequer sonhava. A água avançou monstruosa e rápida, levando tudo na sua força destruidora. Chamaram-lhe a cheia do século, nunca tinha havido nada assim. Para trás ficou um enorme rol de prejuísos e máguas. A ponte também desapareceu nesse dia. Parte dela no fundo do rio, enquanto o resto dos ferros torcidos, ainda presos aos pilares já tortos, baloiçavam ao sabor da corrente medonha como se de bóias se tratássem.
Passado algum tempo uma nova ponte foi inaugurada, construída sob técnicas modernas,uma obra virada para o futuro, mas usufruída no presente.
Da velha ponte resta apenas a recordação!

Montermor-o-Velho na década de 50 - 5


Ponte Alagoa
Este era o Largo Macedo Sotto Mayor. A Ponte de Alagoa ficava a dois passos,por isso a zona adotou também este nome. Mas na casa no lado esquerdo tem uma placa em pedra de feitio oval onde em letras talhadas em relevo o nome do dito Sr. identifica o Largo. Na outra foto uma ruela,umas casitas, um passado longinquo.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 4

As cheias do rio Mondego.

Este local coberto de água não era um rio ou lagoa,era sim fruto de mais uma cheia,facto repetido em todos os invernos.A zona baixa da Vila que era habitada, também ficava alagada. Só a parte situada na encosta do castelo era poupada. Nessa altura era bom morar no alto.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 3



Ladeira de S. Miguel e Largo dos Anjos

Montemor era terra de lavradores.De manhã seguiam para os campos tratar da lavoura com os animais que além do trabalho agrícola também puxavam o carro, rústico e forte, feito de madeira pelos carpinteiros residentes na Vila. Também o chafariz era importante.Tinha um tanque de pedra que duma bica recebia água,e sempre cheio era lugar de paragem para os animais sedentos.Há direita começava a ladeira de São Miguel,subida bastante acentuada até ao castelo.A foto de cima feita de sentido inverso,mostra as casinhas antigas,com respectivos degraus em pedra,património pouco valorisado na altura.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 2


Barcaça no rio Mondego.
Barcaça é um barco,é evidente. Porém este baseava-se num modelo antigo, que foi construido propositadamente para uma travessia, em que a passageira era sem mais nem menos uma raínha portuguesa, a rainha D. Maria I. Porém esta barcassa da foto, não transportava gente da realeza mas todos quantos iam trabalhar nos campos da outra margem. Iam as pessoas e os carros com os bois que os puxavam, as alfaias agricolas, e os produtos necessários.Era grande,chegava a levar tres carros. Era movido pela força de braços do barqueiro e da sua vara. Não tinha corda de segurança, e embora o rio tivesse um enorme caudal, perigoso por isso, nunca ouve acidente. Na foto de cima vê-se um carro e o gado já a passar no cais que era de madeira, e o lavrador à frente.Não muito longe da água, havia uma construção de pedras sobrepostas, um espaço reduzido, onde se recolhia o barqueiro, pois ali passava os dias e parte até das noites, ao serviço de quem o chamava duma ou doutra margem. Com a construção duma ponte sobre o rio, terminou este trabalho tão duro do barqueiro.E a barcaça também parou.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 1


Fotografias tiradas por mim na década de 50. Rua Dr. José Galvão.

Esta era na altura a rua principal de Montemor. Também por aqui passava todo o transito automóvel. Esta foto mostra o lado esquerdo da rua. A outra o lado direito,no sentido norte. Nesta vê-se parte do lagar de azeite que então laborava e bem. Na outra a bomba (vê-se mal) onde se ia buscar a água.
Ao fundo a Igreja de Sta. Maria dos Anjos, monumento nacional, património valioso.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ai caramba!




Veio da costa
Com o sorrir de quem chegava cedo
Trazia histórias
De baleias, de marés e medo
E aquela gente
Que nunca tinha visto o mar contado
Ouvia tudo
Como segredo que é revelado

E a filha do carpinteiro
Que era como uma sereia
Tão boa como água mansa
Fêmea como a lua cheia
De crescer água na boca
De sonhar a noite inteira
Ponham-me a pensar sozinho
Que ainda a deitava na areia

[Refrão]
Ai caramba!
Aquilo é que havia de ser caramba
Palavra de honra
Só me arrependia do que não fizesse
Ai se eu pudesse catraia
Levava-te a navegar
O teu lenço, a tua saia
Deitava os dois ao mar
E era o que Deus quisesse,
Ai catraia se eu pudesse...
E era o que Deus quisesse,
Ai catraia se eu pudesse...

Raio de moça
Que já me põe a falar sozinho
Ainda hei-de um dia
Aparecer-lhe à curva do caminho
Pode a nascente
Se levantar lá das terras da sorte
Hei-de dizer-lhe
Que é mais bravia que o vento norte

E um dia de manhazinha
O pescador perdeu o medo
Foi bater-lhe à porta e disse
Quero contar-te um segredo
E ela pior que as marés
Deu-lhe a resposta despachada
Vai mas é de volta ao mar
Que tu daqui não levas nada

[Refrão]

Ai se eu pudesse...

Ai caramba
Aquilo é que havia de ser caramba
Palavra de honra
Só me arrependia do que não fizesse

[Refrão]

Ai caramba!
Aquilo é que havia de ser caramba
Palavra de honra
Só me arrependia do que não fizesse
Ai se eu pudesse catraia
Levava-te a navegar
O teu lenço, a tua saia
Deitava os dois ao mar
E era o que Deus quisesse,
E era o que Deus quisesse,
Ai catraia se eu pudesse...

Um exemplo de música popular portuguesa. O grupo chama-se Quadrilha.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Portugal para descobrir!


Portugal mostrado pela TVE Espanhola

Um lindo documentário sobre Portugal. Está em espanhol mas a gente precebe.

domingo, 14 de agosto de 2011

Já era noite

Estavamos em Dezembro,altura em que a luminosidade do dia cede mais cedo o lugar ao escuro que antecede a noite. Não chuvia,mas também não se viam estrelas, só a iluminação pública permitia visibilidade a quem circulava a pé naquela avenida frente ao mar. Nós circulávamos de carro, não havia lugar a queixas.Tinha chegado ao fim mais um dia de trabalho e o meu marido e eu dirijiamo-nos para casa.Eu não sei já porque razão utilizámos aquela artéria,havia o caminho habitual que até era mais curto. Iamos devagar e o meu marido reparou num vulto que caminhava lento e com passo inseguro.Parou e perguntou: Quer vir Sr. Paulino? O homem acercou-se e respondeu: Mas por Deus!!!!! Quero, leva-me.Sabe onde moro? Bem,eu depois digo. Entrou no carro e lá foi repetindo o tal, "mas por Deus", que o caracterizava. Era um homem só,fazia uns trabalhitos,e como era educado e andava sempre asseado, toda a gente o estimava,apesar do seu gosto exagerado pela bebida.Quando regressava a casa alta noite cantava,elevava mesmo a voz,vinha sempre feliz. De carro depressa se chegou à azinhaga que dava acesso à casa do Paulino,e o meu marido aproximou o carro da berma e convidou-o a descer. Mas ele não quiz. Repetia, "mas por Deus", e continuava sentado, enquanto o meu marido argumentava que queria ir pra casa descançar,e insistia:"Vá lá, saia Sr.Paulino que já não é cedo".Mas ele queria lá saber!"Então Sr. Paulino, ora esta?! Eu meto-me em cada uma,"- já dizia o meu marido a meia voz -bem, tem de ser assim. Saiu do carro abriu a porta do lado dele, e puxou-lhe as pernas pra fora enquanto o aliciava com boas razões a sair do carro. Finalmente ele concordou,e lá caminhou para casa não sem antes agradecer a boleia, e repetir:"Mas por Deus!" E nós seguimos o nosso rumo algo sorridentes, convencidos de que não ia haver outra paragem. Convencidos,e errados!!! Uns metros adiante havia qualquer coisa na nossa faixa de rodagem,era um carro parado.Estavam também pessoas no passeio. Devagar aproximamo-nos,e quando o nosso carro parou sentimos algo a estilhaçar-se sob os pneus,e ouvimos também dispersos alguns insultos. Saímos do carro. À frente lá estava o carro avariado, mas isso era outra coisa, os insultos eram para nós, e agora mais intensos. Então o meu marido perguntou:"Mas o que é, homem,afinal o que é que eu tenho a ver com isto para ser assim tão mal tratado?" E o outro de imediato e com mau modo respondeu:"Então você partiu-me o triângulo e ainda está a perguntar-me o que é que fêz? Fez uma linda coisa! Não haja dúvida!"
Ainda não refeito da surpresa o meu marido como que falásse para si próprio, calmamente murmurou:"Ah,então foi isso..." O outro retorquiu:"Pois foi,foi! E agora estou sem triângulo a estas horas, e amanhã vou cedo para fora,acha bem,acha? Ora diga lá..." O meu marido respondeu:" Não, não acho,mas espere que se resolve já o assunto." E dito isto o meu marido abriu o porta-bagagem e tirou o triângulo do nosso carro,e acto continuo entregou-lho ao mesmo tempo que dizia em tom alegre:" Ora, se todas as guerras se pudessem resolver com esta facilidade,o mundo estaria melhor!" A assistência quase aplaudiu. Um dos presentes apanhou o triângulo partido e entregou-o ao meu marido,dizendo que mesmo partido ainda lhe podia vir a ser necessário... e até foi.
Aquilo acabou em sorrisos,ainda se trocaram cumprimentos e seguimos. Foi altura do meu marido desabafar em voz alta: "Depois dum dia inteiro a atender pessoas ainda me deu para trazer o Paulino alcoolisado,coitado, eu já me estava a aborrecer... depois livro-me dele e atropelo o triângulo..." Dizem que não há duas sem três, será que antes de chegar a casa ainda me envolvo noutro episódio?

(Felizmente tal não veio a suceder.)

Não existem só regras...Há também excepções!

Hoje volto à poesia. Apenas um soneto que guardo há muitos anos,é um pequeno recorte de jornal.Presumo que seja do Jornal Républica,actualmente desaparecido (infelizmente) e penso assim porque a autora foi redatora deste Jornal entre 1942 e 1945. O meu pai recebia o Républica entregue por correio diáriamente, e foi ele que me levou o papelinho,acrescentando que o soneto era muito bonito.Os anos passaram,mas não danificaram este mimo,que aconchegado nas páginas dum livro de poesia de vários autores, esperava pela minha visita.É da autoria de Manuela de Azevedo, a primeira mulher jornalista em Portugal.Escreveu poesia,conto,ensaio,foi uma lutadora contra o antigo regime,e uma incançável estudiosa relativamente à biografia de Luis de Camões,e à reconstrução da casa (à altura em ruínas) que se situa na Vila de Constância, e que teria sido propriedade da família do grande Poeta.
Ao folhear uma revista,fiquei a saber que no dia 31 de Agosto próximo,somam 100 anos sobre a data do nascimento em Lisboa,desta senhora que eu muito admiro, mas tenho de me penitenciar pelo facto de não saber se ainda está entre nós. De qualquer modo,os grandes vultos são eternos, porque jamais esquecidos.


Excepções


Entre o ouro da lei, há falsidade;
E entre as estrelas de maior grandeza
Há vultos sem fulgôr e sem beleza,
Como, até nas mentiras, há verdade!...


Entre as brumas da noite, há claridade,
Como surge, no riso, a subtileza
De uma lágrima cheia de tristeza
E, na bonança,surge a tempestade...


No antro do pecado, há criminosos
E há, na virtude, um vício insatisfeito
Como, em deserto, há bosques milagrosos...


E como em toda a regra há excepções,
Entre os homens há feras de respeito
E, entre as feras, há grandes corações!


( Manuela de Azevedo)

sábado, 13 de agosto de 2011

Num Domingo em Agosto

Por vezes dou comigo a reparar que situações que haviam sido postas de lado estão a ser novamente usadas, quase como novidade e decerto até são, porque o tempo passou e o passado, como o nome indica, é passado e não raro esquecido.
Vi num pequeno apontamento de reportagem, algo oferecido aos residentes duma terra alentejana; uma empresa disponibiliza aos Domingos um autocarro para que as pessoas possam ir à praia. São 40 lugares que são preenchidos entre adultos e crianças.Hora marcada, vão pela manhã, cedinho, e regressam ao fim do dia. Transporte directo,mesmo assim a viagem leva hora e meia. O custo do bilhete não fixei, prendi a atenção na satisfação que aquele grupo manifestava,e disse para mim própria "é preciso tão pouco para umas horas de felicidade."
Não são só as conversas que são como as cerejas, as recordações também se assemelham. E por isso cá estou a recordar.
Foi num Domingo de Agosto, época muito quente, e a praia da Figueira da Foz o lugar de eleição. Carro próprio era luxo de poucos, excepção apenas para quem o veículo era mesmo necessário.Assim, havia o autocarro, a carreira que aos Domingos se multiplicava para levar toda a gente que estivesse nas paragens à espera. A empresa tinha dois ou três autocarros novos, barulhentos que bastasse, e vários arrumados por velhice, mas aos Domingos vinha tudo para a estrada. Mesmo assim, não ficou para a história memória de acidente, mas também à velocidade a que seguiam nunca o perigo seria muito.
Eu com o meu pai,que ia para a pesca, e a minha mãe que me acompanhava, embarcámos em Montemor nossa terra,na primeira camionete, a tal mais nova,e connosco outros Montemorences,iamos todos para a praia. O autocarro ficou logo lotado, e, ao aproximar das paragens,o motorista afrouxava e com a mão fazia sinal aos passageiros que vinha outro autocarro a seguir. Só parámos para sair já na Figueira, encantadas com a rapidez da viagem. Até aqui tudo bem,na praia idem,enfim,um Domingo em beleza. O pior ainda estava para vir ao fim da tarde. Dirijimo-nos para o local da partida,era na rua, ainda não havia Terminal Rodoviário.Entretanto começavam a chegar os respectivos passageiros. Mas quais respectivos? Aquilo era um mar de gente que não parava de aparecer.Estava na hora de sair e a camionete  ainda não estava ali. Todos pensavam que não viria só uma mas várias. Puro engano, veio só uma, e das velhas...!Algumas pessoas precipitaram-se aos empurrões e entraram.O motorista fechou logo as portas e informou pela janela, que voltava depois de ir levar aqueles passageiros,e arrancou. Aborrecidas, as pessoas comentavam e manifestavam o desconforto. Já era noite fechada, não havia ali nenhum café,a borda do passeio servia de assento.Entretanto a camionete ia e vinha, ia e vinha, e os ânimos começaram a exaltar-se,e a certa altura num dos momentos de mais um embarque, ouvimos alguém que gritava "anda aqui bulha, andam à pancada dentro da camionete". Logo de seguida o motorista saiu e foi a correr chamar a polícia que ficava sediada ali perto.Regressou a calma e a resignação.
Não foram minutos,foram horas que ali estivemos à espera! Agora já falo de mim e dos meus,embarcámos era meia-noite na última camionete,já nem falávamos,nem sequer para nos lamentarmos ou recordarmos o bom da tarde.
Mas ficou a recordação deste regresso atribulado,que passado algum tempo já nos fazia sorrir!