terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Confissão...

Há uns anos,

Mudei-me para o novo quinto andar
E passei a viver cá nas alturas,
Custou-me mesmo muito a habituar;
Olhar pela janela fazia-me tonturas...
O sêr humano a tudo se habitua
E a minha pessoa não será excepção-
Já não fico perturbada ao ver a rua,
Nem ao pensar a que distância estou do chão.
Mas recordo o desânimo e o mêdo,
Que me assaltavam na noite e madrugada,
Tudo se conjugava pra meu desassossego;
Até no elevador fiquei trancada!
Aos poucos vi então tantas belezas
Que só do alto os olhos podem vêr;
Mas que saudade das casas portuguesas
Que nas aldeias ainda hão-de haver!
Sem grandes escadas, sem elevadores,
Com amigos que lá são os vizinhos;
Canteiros ás portas, muitas flores,
Pássaros trinando; e nos beirais, os ninhos.
(Dília Brandão Fernandes)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Ainda acerca das Rádios pirata...

 - Terminados os esclarecimentos sobre o desaparecimento das morcelas, o nosso amigo Santiago Pinto ainda um tanto irado pelo acontecido, encaminhou-se para o espaço fechado onde se situava o Estúdio da Rádio Montemor. O meu marido como colaborador seguiu-o de perto, e eu preparava-me para ficar na salita ao lado (levei um livro para ler) enquanto durasse aquele tempo de emissão do qual o Santiago Pinto era o produtor e que o havia baptizado de "Uma Hora há Beira do Mondego." Mas logo o ouvi dizer para eu entrar e já, porque estava a aproximar-se a hora. Fiquei contente, eu desejava tanto conhecer um estúdio radiofónico. Eles ocuparam os seus lugares e eu sentei-me na cadeira que me indicou, ao seu lado, e caladinha comecei a observar enquanto ele separava uns papeis e trocava palavras com o meu marido. Há hora certa deu inicio à transmissão e cada um deles ia apresentando o que havia préviamente programado. Aquilo era novidade para mim e eu estava a gostar, quando para surpresa minha ele me estende uma folha de papel A4 e me diz assim em jeito de ordem; "leia isso para ficar a conhecer, porque daqui a pouco vai ler esses versos para os nossos ouvintes; - vá, leia, vá treinando, que quando eu abrir o microfone tem de ler mesmo." Eu fiquei aflita, nem sabia o que dizer, e, não disse nada. Com o papel nas mãos que tremiam, li para mim em jeito de breve ensaio, as quadras da sua autoria dedicadas a Santa Ana, mãe da Virgem Maria, Santa que era venerada na sua Terra Natal. (Vila Nova da Barca) Na devida altura e obedecendo ao seu sinal, eu li para os ouvintes os bonitos e ternos versos, que me pareceram maiores do que toda a escrita do Jornal de Noticias... (passe o exagero) Ele gostou, mas eu não. E quando ouvi a gravação ainda fiquei mais desiludida e afirmava, a minha voz é baixinha, sem corpo, nada radiofónica. Uma vergonha, repetia eu sem parar. E prometi não voltar "nunca mais" ao Estúdio. Porém, nunca digas nunca... No sábado seguinte lá estava eu de novo...