quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Os Presépios

Estamos em tempo de Natal, tempo de festa familiar, se não para todos, pelo menos para a maioria dos cristãos. Diz o poeta que o melhor da vida são as crianças, e eu acrescento que o Natal é, ou devia ser, dedicado sobremaneira ás crianças. Há algo de comum porque é celebrado um nascimento,uma criança nasceu, foi o menino Jesus.E no presépio, ali está Jesus bébé, uma ternura, como todos os bébés são.
Decidimos levar o nosso neto até Montemor-o-Velho (nossa Terra) para ver o presépio, erguido numa das salas do 1º andar da Igreja da Misericórdia.No rés do chão logo à entrada, damos de caras com um Pai-Natal que ao som duma musica alegre se bamboleia todo divertido. Subimos a escada de pedra ao encontro do presépio, este só diferente do tradicional porque tem movimento: as ovelhas circulam, a água que corre numa levada aciona a roda da azenha, no Castelo a porta abre e fecha, as luzes acendem, e até a sagrada familia se movimenta também. O Gabriel nos seus 9 anitos irrequietos, gostou de ver e tudo serviu para brincar. Dançou com o Pai-Natal lado a lado, e o avô fotografou. O dia era para ele, de modo que almoçámos num restaurante ali ao lado, e a seguir fomos ao castelo porque ele queria repetir a visita do ano passado. Estava um sol magnifico, e era ainda muito cedo para vir para casa. Por isso seguimos por estradas secundárias e atalhando, rumámos a uma localidade denominada Tocha, a dois passos da praia do mesmo nome, para vermos um presépio de rua,que estava situado numa praça ajardinada a dois passos da Igreja. Embora estático, gostei muito, pelo facto duma maior aproximação à realidade. Não recria Belém, mas não perde por isso, porque tudo ali está representado em tamanho natural, inclusivé o estábulo, as figuras humanas, os anjos, e os animais.Lá estão também os pastores e as ovelhas, os Reis Magos com os seus cofres dourados, e os respectivos camelos.
Resumindo, um dia agradável para recordar.
Desta vez não foi o Gabriel a fazer as fotos da ordem, foi o avô, que não teve mãos a medir quanto à exigência do neto, que gostava de ser fotografado em todo o sitio, e para isso juntou-se à Sagrada Familia no Presépio da Tocha.


Na segunda foto, um bocadinho do Presépio de Montemor-o-Velho.

                                      



segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

No Parlamento Europeu este deputado diz o que pensa



No Parlamento Europeu, o sr. Bloom diz que os países que estão endividados o estão porque os seus políticos foram estúpidos, ridiculamente ineficazes e incompetentes e que é imoral pedir aos contribuintes honestos que agora paguem o que eles gastaram, muitas vezes ineficazmente, que gastaram sempre a mais do que cobraram em impostos ou até do que aquilo que podiam cobrar. Mas estes políticos, digo eu, não são penalizados, basta ver que o sr. Sócrates fez o que fez, toda a gente já sabe, e agora está em Paris a estudar filosofia e a comer do bom e do melhor. Mas as coisas estão a mudar pois até Chirac já foi condenado por má gestão. Só que por ca´ainda vai demorar até se fazer Justiça e esta gente aprender que um país tem de ser governado e que eles são nossos funcionários, devendo prestar contas do que fazem, se bem, muito bem, se mal, então devem ser penalizados por isso, como acontece a qualquer empregado ou funcionário...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A minha árvore de Natal para todos vós

Paz
União
Alegria
Esperança
Amor . Sucesso
Realizações . Luz
Respeito . Harmonia
Saúde . Solidariedade
Felicidade . Humildade
Confraternização . Pureza
Amizade . Sabedoria . Perdão
Igualdade . Liberdade . Boa - Sorte
Sinceridade . Abundância . Fraternidade
Equilíbrio . Dignidade . Benevolência
Fé . Bondade . Paciência . Gratidão
Força
Jesus

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Recordar Ary dos Santos

Passei na avenida e vi o mar, grandioso e bonito,mas enfurecido, pronto a tornar-se
cruel, e lembrei-me dos pescadores. Heróis todos os dias, e nunca medalhados.
Ainda envolvida por estes pensamentos, hoje vou colocar aqui uma poesia.

A Pesca

O bafio o safio a enguia o atum
Um para todos todos para um
Mas nenhum por todos
E todos por nenhum.
Ai a raia ai a raiva
De pescar em jejum.

Amadores da fala das marés
Cicatrizes da faina amadises da gala
Duma cauda de renda duma onda de espuma
Este mar aprendiz da vossa força
Aprende a ser o vosso
Ou de coisa nenhuma.

Obrigai-o a dar-vos o que a vós
Deve em suor e choro.
Quando dizeis em coro
À uma à uma à uma
Se não for vosso o barco
Há-de ser vossa a voz
Ou de coisa nenhuma.

Uma lua uma vela uma lula uma estrela
Que lindo e mole é tudo
Mas quem dará por elas
Mais do que um pão de silêncio uma pedra de vinho.
Ah não!
Deveis vencê-las
Às vagas que vos saem ao caminho.

Garanhões das correntes
Campeões
Dos músculos da água
Ide
Ide e voltai contentes
Com vossas redes cheias dos latentes
Peixes da nossa mágoa.
Trazei monstros marinhos e ancestrais
Piranhas tubarões moreias e serpentes
Mas sobretudo os peixes canibais
Que se nutrem de gente.
Despejai-os na lota como ao ódio
Escamado que vos cobre:

Durante a luta
Haveis de ver quem morre.


(José Carlos Ary dos Santos)

domingo, 11 de dezembro de 2011

A Lenda do Pintarroxo

A minha amiga Anita que vive na Ilha da Madeira, aquela senhora que gosta de receber correio porque vive sózinha, e a quem eu escrevo ás vezes, e outras telefono, (aquela que me mandou as plantas) não se crusou com a felicidade, caminharam sempre em caminhos opostos, e assim o tempo passou por ambas, e elas sempre distantes. Tinha e tem sonhos como todos nós, mas parece que se ficam por aí sonhos apenas. Nem de saúde que é um bem próprio, ela usufrui. Há pessoas assim, que parecem destinadas a prescindir, sem que elas o desejem. Porém não se manifesta desesperada, por vezes lá vem um pequeno lamento, mas pouco consistente, ela está por tudo com boa vontade. É cristã, e possivelmente a fé lhe dará a força necessária.Tem a fé que a mim me falta, eu nem sei se já lho confessei, mas em todas as cartas que me envia, sempre junta umas pagelas com orações.Com os bolinhos e as plantas, que recebi na passada semana, vinha a cartinha que não fujiu à regra em relação ás orações, mas desta vez trazia também uma folha que ela tirou dum livro,e nesta uma Lenda cheia de ternura, que logo decidi aqui colocar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

As 10 coisas que mais gosto

A minha filha indicou-me para dar continuidade a um MEME no blogue dela, o Palavras-Cruzadas. Ela explicou-me que é uma corrente que os blogs fazem- as pessoas escrevem sobre um tema, ou colocam fotos. Passaram-lho a ela e ela a mim e eu vou responder e depois passar a algumas das minhas visitantes: 10 pessoas. Depois essas 10 pessoas podem fazer também o MEME: responder e indicar mais 10 pessoas. Não é obrigatório, mas é engraçado.Assim, as 10 coisas que mais gosto são:
  1. Gosto de lombo assado com batatas à volta, e arroz com passinhas e pinhões, é fácil de executar, e sai sempre bem.
  2. Gosto de ouvir dizer poesia: gostava do Mário Viegas, do Manuel Lereno, do Pedro Homem de Melo, e actualmente do Manuel Alegre.
  3. Gosto de ler,tenho sempre um livro à minha espera. Acabei há pouco Diz Adeus,de Lisa Garden. Não gostei muito, embora o tema forte da história seja sobremaneira actual. As aranhas são também ali parte importante. Tarântulas e outros tipos, tem até explicação interessante para quem goste.
  4. Gosto do belo Canto,voz a solo, aquelas áreas deliciam-me. Não sei porque gosto.
  5. Gosto do fado de Coimbra, daquele estilo único, e as guitarradas prendem-me, gosto das serenatas nesta cidade.
  6. Gosto de estar à janela quando o dia finda e anoitece, gosto do escuro da noite cortado pelas luzes dos faróis dos automóveis, gosto de ver cá do alto.
  7. Gosto de visitar museus onde haja pintura, ourivesaria, louça. (coisas bonitas)
  8. Gosto de estar na praia com pouca gente, sentada a contar as ondas que se vão formando ao longe, e sentir a brisa morna á sombra do chapéu colorido. 
  9. Gosto dos espectáculos de equitação com os cavalos executando provas de saltos.Acho vistoso todo o ambiente que embora preparado é Natureza há verdura e flores,e cavalo e cavaleiro são conjunto elegante. Também a arte de conduzir o cavalo, acho bonito.
  10. Gosto de conversar, gosto de escrever e de interpretar as cartas de Tarot.
E agora passo o desafio às seguintes senhoras:

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

Excesso de zêlo?

Ainda influenciada pela desigualdade que grassa entre os povos, nomeadamente na Europa, e claro no nosso torrão à beira mar plantado, que dela faz parte não sei se pra bem se pra mal. Mas enfim também os países não escolhem o local de nascimento, penso eu. Achei-me a recordar o tempo em que às crianças era incutido desde cedo, que era necessário trabalhar. Não se esperava nada do Estado.
Quem é que ia pedir uma casa ou algum subsídio a alguém do Governo? Nem sabiam como o fazer, mesmo que fosse possível. Daí que os homens naquela época (salvo excepções ) quando assumiam um trabalho aplicavam-se, observavam aquela máxima do "não deixes para amanhã o que podes fazer hoje", trabalhavam com gosto e assim viveram.
Bem, nós casal Fernandes, vimos dessas gerações, e naturalmente também nos ensinaram que o trabalho é honra, e o certo é que nós acreditámos, e temo-nos dado bem com esse conselho dos mais velhos.
Mas eu quero falar duma situação, que igualmente tem a ver com trabalho, e sempre me tem feito sorrir.
Foi há uns 30 anos atrás, aqui na Figueira. Estavamos na quadra da Páscoa, e a Sexta-Feira-Santa era considerada feriado. Porém, os cabeleireiros tinham-se entendido com o sindicato, e com as próprias empregadas, no sentido de trabalharem nesse dia. Depois na segunda era o habitual descanço, e na terça também seria, correspondendo assim ao dia de sexta, a que tinham direito. Isto já acontecia há alguns anos, e elas até gostavam porque eram dias seguidos em que paravam a respectiva actividade.
Mas neste ano gerou-se alguma confusão, o sindicato ora era favorável, ora pedia que esperassem pela confirmação. Sem novas do sindicato, subentendeu-se que iria ser como nos anos anteriores, e na dita sexta feira foi um dia normal de trabalho.
Daí a dias vem a surpresa, processados os responsáveis dos maiores salões que existiam na Figueira naquela altura. E no dia marcado, depois das inevitáveis (chatices) formalidades inerentes, lá foram sentar-se no banco dos réus os três homens. O senhor Mourinha (já na casa dos 50), o Mário Bertô, e o Olímpio, mais novos (ainda nos 40). Foram absolvidos, claro.
Mas não deixa de ser hilariante,

" TRÊS HOMENS NO BANCO DO RÉUS
POR ESTAREM A TRABALHAR! "

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Os cães, nossos amigos!

O Chiquinho acompanhou a dona ao Centro de Saúde de Rio de Mouro. Doente, a senhora saíu dali de ambulância e não mais regressou a casa. O cão nunca mais deixou as imediações do Centro de Saúde, continuou à espera que saísse, fizesse sol ou chuva. A televisão mostrou a reportagem e este homem de Queluz foi buscar o animal. Na altura todos se lembraram de Hatchi!




A história de Hachiko - A dog's story tornou-se popular no Ocidente depois do filme com Richard Gere ter estreado em 2009. Pela manhã o cão acompanhava o dono, um professor, até à estação de comboios, e no final do dia ia de novo à estação esperá-lo. Essa rotina terá durado um ano, findo o qual o professor sofrei um AVC, morrendo. Durante os 10 anos seguintes o cão continuou a ir esperar o seu amigo ao comboio. Custa até a acreditar, verdade?
Mas já antes, em 1987, existia Hachico Monogatari, filme japonês que relatava a história verídica do cão mais famoso do Japão. Eu não vi nenhum dos dois filmes.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

A planta que viajou de avião

Foi há mais ou menos quatro anos. Num dia em que eu estava particularmente deprimida por um luto que me fazia sofrer muito. O correio trouxe-me uma revista da qual eu era assinante, e que na maior parte das vezes eu folheava quase a êsmo.
Mas desta vez fui lendo com algum interesse,e encontrei um apelo duma senhora que pedia correspondencia de alguém. Residia na Ilha da Madeira, vivia muito só, e uma cartinha com uma palavra simpática ia fazer-lhe bem (dizia ela). Como disse, eu estava muito triste e decidi, vou escrever, talvez me faça bem a mim também. Recordo que escrevi pouco, e fui franca disse-lhe que não estava nada animada, e que por isso talvez nem fosse a pessoa indicada para lhe minimisar com as minhas palavras a sua solidão. Mas eu estava errada, porque sem nunca nos vermos, até já somos amigas. O nome dela é Ana, mas como tem menos 10 anos do que eu, para mim é a Anita. E a Anita ainda não perdeu a esperança de nos ver na Madeira, e impossível não é, só que ainda não se proporcionou. Ela é muito doente, já passou por intervenções cirurgicas, e actualmente prefere medicamentos naturais, para lhe acalmar o sofrimento que não raro a atormenta. Nós contactamos por mensagens e telefone. Numa das conversas habituais, fiquei a saber que o medicamento de que ela mais precisava, não estava à venda na farmácia de lá. Eu disse que ia procurar aqui e que mandava. Ela aceitou, claro, as amigas são para as ocasiões digo eu, e assim aconteceu, a própria firma o enviou para a Madeira. Fiquei contente, eu penso que aquele que oferece algo, é o primeiro a sentir alegria. O que recebe já está em segundo lugar.
Hoje, logo de manhã o correio trouxe-me uma encomendinha. De onde vinha? Da Anita, da Madeira. Curiosa abri, e o que tinha? Bolinhos regionais, e um outro maravilhoso, o tradicional bolo da Madeira. Mas ainda não é tudo, num saquinho aconchegadas 3 plantinhas da Ilha. Valentes, viajaram de avião, e chegaram em boas condições. Logo,logo, a minha filha foi tratar da plantação, e como nada acontece por acaso, até havia na marquise um vaso com terra, pronto a acolhê-las.
E que dizer mais? Que gostei! Gostei de tudo, ( eu até sou gulosa por estes doces da bela Ilha). E sobremaneira gostei do gesto simpático e amigo da Anita.

Deixámos de ver sorrisos...

Actualmente vivemos a era do desassossego. Ele está instalado e parece que para ficar. Penso que nesta altura não há ninguém que não tenha uma queixa, um problema maior ou menor, aflições, desânimo, infelicidade. Na maioria é a falta de dinheiro a causa, e depois por acréscimo vem a pouca saude e outros males. Deixámos de ver sorrisos expontaneos no rosto dos simples.
Felismente parece que ainda há ricos, oxalá triplicássem, haveria menos pobres.
Eu venho do tempo em que a vida era identica à actual. Na minha terra aos sábados, um grupo de pobres, idosos, homens e mulheres que já não podiam trabalhar, percorriam as ruas recebendo de casa em casa uns poucos tostões. Andavam em fila pela beira da estrada, parecia a procissão. Aqui e ali paravam, juntavam-se, e um deles dirijia-se á porta e recebia para todos, e de seguida fazia logo a distribuição. Entendiam-se muito bem, é triste dizer, mas parece que a pobreza une as pessoas.
E nem iam infelizes, aquela situação tornou-se natural, tanto para eles como para quem dava. Mas é triste, o ser humano ser assim castigado. Não desejo voltar a ver o mesmo quadro,ao vivo, pois na minha imaginação ele ainda está bem nítido apesar dos muitos anos passados.
O carrocel do tempo foi girando, girando, e melhores dias vieram. As residências aos poucos foram-se alindando, as pessoas passaram a viver melhor, e a usufruir de bens que eram necessários há muito, mas como os desconheciam, não lhes sentiam a falta. Os pobres também um a um, foram para o céu. Porque, do inferno iam eles.
Penso que durante anos as pessoas viveram desafogadas.
Felizes? Oxalá que sim!!!
Porque afinal ainda as esperava o reverso da medalha.
Ele aí está, instalado, e parece que para ficar.

domingo, 27 de novembro de 2011

O padre polémico a refletir sobre a Greve Geral




Jornalista e escritor, ex-pároco de Macieira da Lixa, conhecido pelas suas polémicas, sobre a última Greve Geral.
Mais coisas sobre o Padre Mário: http://mailx.fe.up.pt/~ec91137/index.htm
O jornal do Padre: http://www.jornalfraternizar.pt.vu/

sábado, 26 de novembro de 2011

Será Montemorense a primeira Dama de Portugal?

Subimos de carro a ladeira de São Miguel, e estacionámos no largo em frente à entrada do castelo. Caminhámos em direção à porta denominada Arco da Traição, ou Arco da Peste, e entrámos. Eu e o Olímpio fomos rever, mas o Gabriel foi conhecer, era a primeira vez que entrava num castelo, e assim tudo era novidade. Espreitar pelas ameias das muralhas e ver a vila cá em baixo, ver as pessoas que pareciam pequenas, subir e descer escadinhas, correr, rolar na relva, ele gostou de tudo, só não gostou muito de vir embora quando o momento chegou, mas não ficou amuado nem triste, ele não é mimalho.
Encaminhámo-nos para a saída. No Arco da Traição encostada ao grande portão de madeira, estava uma rapariga que nos cumprimentou. Muito simples, fininha, simpática talvez em demasia, caraterística de quem precisa de ajuda monetária, que era até a razão da sua permanência ali.Era casada (disse) mas antes não fosse, pois de pouco lhe valia ser.
Dava informações a quem delas precisava e aceitava umas moedas.Quando soube que era de Montemor perguntei-lhe quem era a mãe, pois eu devia conhecê-la dos meus tempos de solteira, quando também ali residia. Ao que ela respondeu, com certa firmeza, que era sobrinha do Dr. Cavaco Silva, porque a mãe dela, é irmã da esposa dele. Para além da surpresa a identificação saíu curta, mas daí a pouco eu estava elucidada, e de facto eu recordo-me bem da família dela. Dissemos adeus e regressámos à Figueira. O Gabriel todo animado, manteve-me tão distraída durante todo o percurso, que praticamente esqueci aquela afirmação por de mais espontânea. Mas no dia seguinte ela voltou, e eu procurei lembrar-me de algo a este respeito. Eu até conheço a história por a ouvir contar, pois na altura eu devia ser muito menina ainda, e quando mais tarde eu começo a entender, já os factos estavam consumados.
Era um casal muito pobre, com muitos filhos, seis; ele era pescador no rio, e a esposa trabalhava no campo, e no que aparecia para fazer, porque a vida era muito difícil nos anos 40. Outro nascimento aconteceu, mais uma menina,que seria a última, pois a mãe não resistiu a uma patologia infeciosa muito grave, que só a penicilina poderia debelar, mas ela não tinha dinheiro para esse medicamento que era muito caro, e nem mesmo o hospital da vila lho concedeu, apesar de ela lá estar internada. Ampararam-na na morte, mas pouco na vida. Ficou a bébé, que a Conferência de São Vicente de Paulo, integrada por algumas senhoras que se dedicavam a ajudar quem de ajuda carecia em situações extremas,colocou em local adequado dizia-se que em Coimbra no Ninho dos Pequeninos. Os outros filhos, três meninas, ficaram com a tia, mulher já madura igualmente de recursos limitados, gente de trabalho que com ele subsistia, e os rapazes também três, continuaram a viver com o pai. Nestes estava o mais novo o Carlinhos, assim o pai o tratava por ser ainda tão pequenito. Imaginemos as privações por que passaram todos, mas os rapazes mais, tendo em conta que o pai também se tornou alcoólico. Porém, a fatalidade que os atingiu logo na infância, não interferiu na sua dignidade, venceram na vida com trabalho e honra, merecendo por eles próprios a estima de toda gente.

Se esta bébé, que foi a sétima filha deste casal tão pobre, é a esposa do actual Presidente da República de Portugal, só ela o saberá. Há contudo uma coincidência relevante, a D. Maria Cavaco Silva foi adotada, ela mesmo o diz. E também diz, que lamenta não ter conhecido a mãe. (li numa revista).

Ninguém sabe quando nasce, pra que nasce uma pessoa... Assim escreveu o poeta, assim alguém o disse cantando. E também se diz que há males que vêm por bem...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Passeio no Zoo em Montemor-o- Velho

Foi num Domingo em Setembro que voltei ao Paradise em Montemor. E voltei porque prometemos ao Gabriel levá-lo a passar um dia connosco fora de casa.
Estavam iniciados os festejos da Feira Anual, mas preferimos levá-lo ao parque zoológico, ver os animais ao perto, e usufruir daquele ambiente tão natural que o homem não destruiu. As árvores de várias espécies que ali existiam há muito, lá ficaram, os arbustos, as plantas expontaneas, toda a rusticidade de outrora do Monte da Gardôa foi mantida, e os animais ali vivem práticamente em liberdade, e tantos e de tão variadas espécies que ali estão, aquilo é um encanto.
O Gabriel queria fotografar todos. Os cisnes que deslisavam elegantes nas lagoas, as araras e os papagaios que empoleirados nas árvores pareciam espreitar-nos, os macacos que saltitavam de ramo em ramo, e no restôlho no chão as zêbras preguiçavam, enquanto os veados ensaiavam algumas corridas. Com toda esta vida em movimento não era fácil captar imagens, mas com a ajuda do avô a entreter os cisnes, o Gabriel lá foi disparando a máquina, e algo ficou para recordar.
Subindo aqui, descendo ali e caminhando muito, esquecemos o tempo, e só quando o estomago começou a reclamar é que olhámos o relógio, era hora de partir em busca de almoço. Fomos a Tentúgal, a Vila dos pastéis do mesmo nome,ótima delicia, mas não era o que procuravamos, mas sim almoço que encontrámos a nosso gosto. Ainda descançámos à sombra das árvores perto da estrada, e depois sem pressa regressámos a Montemor e fomos ao Castelo...
Sobre o resto do passeio falarei a seguir.
 
E como avó vaidosa que sou, decidi colocar aqui estas duas fotos feitas pelo nosso neto,
recordação do passeio no Zoo Paradise em Montemor.
 
 

 

terça-feira, 8 de novembro de 2011

sábado, 5 de novembro de 2011

As Três Peneiras de Sócrates



Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
- Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
- Espera um momento – disse Sócrates – Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
- Três peneiras? Que queres dizer?
- Vamos peneirar aquilo que quer me dizer. Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
- Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
- A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu
- Devo confessar que não.
- A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
- Útil? Na verdade, não.
- Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.

O texto de filipenses 4:8, nos fala de tudo que é verdadeiro ,honesto, justo ,puro, amável, de boa fama, nisto pensai. Amados isso é as três peneiras. Use e você evitará grandes problemas para sua vida. Como pouparemos magoas se aplicarmos esses princípios.

Diz-se que nada acontece por acaso, mas foi assim que encontrei este blog do Sr. Pastor, Figueiredo de seu nome.Gostei do que li, os textos que ali coloca trazem-nos alguma mensagem, nomeadamente do bem, sempre em primeiro plano. Pedi -lhe permissão para trazer para aqui As Três Peneiras, com gentileza ele acedeu, o que eu agradeço.
Tenho a certeza que vão gostar, como eu gostei. 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Rio - desenhos animados mesmo animados




A minha filha mais velha e o meu netinho adoram desenhos animados. O Gabriel é capaz de ver o mesmo filme 6 vezes seguidas! Ela anda sempre a mostrar-me os últimos filmes que viu. Não há dúvida que até os adultos gostam destes passarinhos do Rio!

domingo, 30 de outubro de 2011

As Reguadas

Hoje lembrei-me dela, nem sei porquê. Da professora de quem fui aluna durante pouco tempo, na então Instrução Primária, na minha infância.
E recordei-me não com saudade. Saudade tenho sim da D. Lourdes, a professora que me aturou nos 4 anos dos primeiros estudos,que ensinava e acarinhava todas as crianças nas suas aulas.
Recordei-me daquela professora, ainda consigo vê-la de bata cor de rosa, e sapatos de camurça prêta. Era de baixa estatura e um pouco forte. Nas aulas usava óculos, uns óculos redondos. E do lado direito na secretária também um objecto que ela usava diáriamente, uma régua grossa.
Nesta época as aulas começavam a 7 de Outubro e a idade escolar era aos 7 anos.
Como eu já sabia as letras, e já lia, entrei com 6 anos, favor da D. Lurdes, só para andar na escola, mas no fim do ano lectivo passei de classe e no seguinte passei de novo,e fui frequentar a 3ª classe com a tal professora da bata rosa. Já sabia que não faria exame no fim do ano,(não tinha idade) poderia, se pagásse uma licença de vários escudos, mas o meu pai não quis.
Ficaria dois anos na terceira classe, era novinha, não fazia mal. Todas nós alunas tinhamos de fazer diáriamente uma cópia em casa, e todas nós faziamos erros na dita. Aquilo irritava sobremaneira a professora, uma vez que nos ditados tal não acontecia. Ela marcava a lápis todos os erros, e eram muitos, contava-os... e então quando pouco faltava para acabar a aula chamava-nos uma a uma, e fazia a contabilidade com a régua nas nossas duas mãos. Assim, duas ou tres reguadas por cada erro, o que somava sempre para cima de vinte. Apesar da distância, eu ainda hoje me lembro muito bem como ficavam as mãos, e eu nunca apanhei muitas.
Chegou o dia de quinta-feira da Ascenção, o dia da Espiga. Era dia Santo, mas ela não deu feriado, disse que havia escola de manhã, só para marcar passo no átrio, e cantar.
Este dia era muito respeitado na época, até se dizia - SE OS PASSARINHOS SOUBESSEM QUANDO ERA DIA DA ASCENÇÃO,NÃO TIRAVAM PÉ DO NINHO PRA PÔR O BICO NO CHÃO -
Era costume a minha mãe e eu, irmos à missa das 11, e fomos. (não fui à escola).
Como eu iria andar dois anos na 3ª classe, não tinha importância faltar.
De tarde fui com as minhas amigas apanhar o ramo da Espiga, o ramo da Hora como então se dizia.
Tudo bonito até ao dia seguinte, à hora de ir à escola. Eu que sempre fui de boa vontade, desta vez sabendo o que me esperava não queria ir, e dizia porquê. Então a minha mãe foi comigo,ficou cá fora e disse para eu dizer à Sra. que queria falar com ela. Também agora eu a estou a ver, encostada à secretária do lado de fora, braços cruzados à espera que chegássem todas as alunas faltosas, para depois distribuir as reguadas da praxe. Estarrecida, não dei o recado, foi outra menina que chegou daí a pouco que disse à professora que a minha mãe estava à espera.
Ela encaminhou-se calmamente para a porta, enquanto eu fiquei com o coração apertado. Mas a falar é que as pessoas se entendem, não é? Às vezes nem tanto, mas aqui entenderam-se, e naquele dia não ouve reguadas para ninguém.
Passado algum tempo,esta Sra. sofreu uma perda irreparável,um desgosto terrivel, e deixou o ensino.
Entretanto eu voltei prá D. Lurdes.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Fazer arte com o lixo não é para todos!


A minha filha criou um blogue há um par de meses. Começou por ser para vender roupa em 2º mão, mas ela não tem muita. Então lembrou-se de alargar o âmbito das matérias e tem lá de tudo sobre reciclagem e artesanato feito com lixos. Esse rapaz é do Brasil e faz coisas tão fantásticas que o meu neto Gabriel quando viu já queria ter! Dêem um salto lá que vão gostar de conhecer.

domingo, 16 de outubro de 2011

A casinha da colina - música para recordar



Você sabe de onde eu venho
Duma casinha que eu tenho
Fica dentro dum pomar,
É uma casa pequenina
Lá no alto da colina, 
De onde se ouve longe o mar

Entre as palmeiras bizarras, 
Cantam todas as cigarras
Sob o pôr, de ouro, do sol, 
Do beiral vê-se o horizonte
No jardim canta uma fonte, 
E na fonte um rouxinol

Do jasmineiro tão branco 
Tomba de leve no banco
A flor que ninguém colheu, 
No canteiro há uma rosinha
No aprisco uma ovelhinha, 
E em casa, meu cão e eu.

Junto à minha cabeceira 
Minha santa padroeira
Que está sempre em seu altar, 
Cuida de mim, se adoeço,
Vela por mim se adormeço, 
E me acorda devagar . . . .

Quando eu desço pela estrada 
E olho a casa abandonada
Sinto ao vê-la, não sei o quê . . .
Anda em tudo uma tristeza
Como é triste a natureza 
Com saudade de você.

Se você  minha amiguinha
Quiser ver minha casinha
Minha santa e meu pomar, 
O meu cavalo é ligeiro
É uma légua só do outeiro 
Chega a tempo de voltar.

Mas, se acaso anoitecer 
Tudo pode acontecer
Que será de mim depois? 
A casinha é pequenina,
Lá no alto da colina 
Chega bem, para nós dois . . . .

Não sei porquê, mas hoje após o jantar dei por mim a dizer estes versos.Com o meu marido a dar-me atenção interessado até, eu procurava lembrar-me de todos, o que foi dificil. Comecei por ouvi-los cantados pela minha mãe que tinha uma voz linda, e foi com ela que eu os aprendi. Mais tarde quando chegou a Portugal a Televisão a preto e branco, vi algumas vezes e commuito agrado, a grande artista e cançonetista brasileira Mara Abrantes interpretar como só ela sabia A Casinha da Colina. Decidi colocar aqui esta bonita recordação (o video não tem muita qualidade) mas creio que as minhas amigas vão gostar de ver e ouvir a Mara Abrantes daqueles tempos.

Indignação...

Ontem foi o dia dedicado à indignação. Mas indignadas andam as pessoas todos os dias e já há muito tempo. Ontem sairam à rua e desabafaram... mas de que vale?
Os nossos governantes nascidos do 25 de Abril deram cabo deste país, deram cabo de tudo até das mentalidades.Levaram 30 anos "na demolição" e claro não é agora em meia dúzia de meses que vão refazer o que está em " escombros." Isto é muito triste, principalmente para quem vibrou com o 25 de Abril, que foi uma revolução bonita, que ficou conhecida como a revolução dos cravos, porque ao fim daquele dia, de cada cano de espingarda saia um cravo, um cravo vermelho, e não as balas que ferem e matam. Mereceu até elogios de vários países.
Estava instalada a liberdade, e a esperança de melhores dias. E muita coisa boa aconteceu, mas algum bem estar proporcionado sem conta e medida, foi prejudicial.
Não tem conta as vezes que tenho ouvido a terrivel frase "andámos a gastar mais do que podiamos"... Eu recuso-me a entrar nessa fila. Não! Eu não estou nessa lista! Mas não duvido que muitos estejam. Eu ainda não me livrei do mêdo do "papão do futuro" que meus pais me apontaram desde a adolescência. E não me fez mal nenhum tê-lo sempre presente, em conjunto com a velha e talvez esquecida máxima de "não dar o passo mais largo que a perna". No entanto agora também sou chamada a pagar as asneiras que não fiz.
Os governantes deste país não vieram de familias de recursos reduzidos, e então tomaram o lago pelo oceano, e toca a gastar, não sabiam que donde se tira e não se repõe faz falta... mas na verdade a eles nada fez falta, mesmo agora são outros que estão a sofrer, enquanto os responsáveis pelo descalabro, estão recolhidos e aconchegados.
Fiquei triste ao ver o desfile dos muitos indignados. E acredito que não estavam lá todos. Nunca esperei ver isto acontecer no meu país. E sei lá o que mais nos espera...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um passeio a Belém


( A rota do passeio!)
Eu tinha 22 anos quando fui a Lisboa pela primeira vez. No Barreiro que se situa do outro lado do Tejo, e que na altura era vila próspera, com as muitas fábricas ali sediadas, a C.U.F como era designada, empregava grande parte da população residente, e nesse número estavam familiares meus, mais própriamente a minha meia irmã e os filhos. Ela tinha a idade da minha mãe, e o filho mais novo (meu sobrinho) ainda era mais velho do que eu. Ele casou-se e veio com a esposa visitar Coimbra e Figueira da Foz, e estacionou em nossa casa em Montemor. Quando regressou ao Barreiro, ficou assente que iriamos lá passar uns dias. Ele residia com os sogros, mas isso não era obstáculo, porque eles até já estavam a contar. E assim na data combinada eu e a minha mãe, lá fomos no combóio até Lisboa. Ele e a esposa esperaram-nos na estação de Sta. Apolónia, saímos apanhámos um táxi para o cais e aí entrámos no barco. Após 45 minutos de viagem na travessia do Tejo chegámos ao Barreiro. Daí a pouco estavamos na fase dos cumprimentos, e depois ao jantar a fase de encantamentos, com os projectos de passeios para os dias seguintes.

E assim no Domingo logo de manhãsinha, saiu toda a família de casa, fomos a pé até ao cais e de barco para Lisboa. O Sr. Correia que era o sogro do meu sobrinho e também o mais velho do grupo, tomou conta das operações, e nem genro nem ninguém o contrariou, até porque o senhor era o que se chama um companheirão. Pois, mas para além disso, ele não conhecia Lisboa, mas pensava que sim, como vivia relativamente perto.

Eu queria ir a Belém visitar o Mosteiro dos Jerónimos, o Museu dos Coches, o Monumento aos Descobrimentos, enfim eu tinha as minhas ideias e desejos, e ele colaborou, só que de forma péssima. Chegados a Lisboa saímos do barco e demos meia dúzia de passos pela beira do rio. Então ele alvitrou que fôssemos a pé por ali abaixo para vermos tudo bem. E sem sabermos a distância que nos esperava, lá "embarcámos" todos naquela penitência dolorosa,que o foi de verdade. Quando finalmente eu entrei no Museu dos Coches só desejava poder sentar-me nas Cadeirinhas dos Infantes que ali estavam expostas. Eu já não controlava o movimento dos joelhos, só sentia a perna a baloiçar quando mudava o pé, tinha a noção de que dentro em pouco não poderia continuar a andar. Não me queixava para não preocupar a minha mãe, mas estava muito aflita. Entretanto o tempo tinha passado e já eram horas de almoçar. No restaurante num plano superior onde ficámos só nós, eu olhava o chão de madeira lavada e pensava, "depois do almoço eu deito-me aqui"! Mas não foi necessário, a comida fez efeito e eu reagi. Como consolação fiquei com a boa recordação do prato saboroso de lulas guizadas e arroz branco. Retemperadas as forças, e apesar da enorme distância percorrida a pé,que deixou marcas, retomámos o passeio,demorámo-nos no Mosteiro dos Jerónimos, e voltámos a apanhar o barco para Almada para visitar o Cristo Rei, santuário inaugurado havia pouco tempo. Ali por perto ainda estavam grandes pedras espalhadas no solo, restos da construção, que para mim foram confortáveis maples por alguns minutos. A tarde estava no fim, embarcámos num Cacilheiro para Lisboa e fomos jantar. Jantar? Mas jantar como? Eu não jantei nada, e não fui só eu. Eram horas de voltar ao Barreiro. Deixámos o restaurante e caminhámos até ao cais, seriam mais 45 minutos de barco, e depois de autocarro mais uns minutos e estariamos em casa. Sentada no barco eu repetia para mim," já falta pouco!!!" Porém a odisseia não tinha terminado, esperava-nos ainda mais um resto. Os passageiros do barco que eram bastantes, aguardavam como nós o autocarro que já estava atrasado e ainda ia demorar, segundo informação de alguém no local. Contas feitas, chegou-se à conclusão de que era melhor não esperar, valia mais ir a pé, e fomos! O Sr. Correia e a esposa não quiseram e ficaram à espera.Tinhamos andado talvez uns quinhentos metros, passa por nós o autocarro, e dentro, eles a acenar-nos...!Choveram os lamentos entre nós, mas não havia escolha, havia que caminhar.
E lá seguimos penosamente, na noite escura, enquanto a mulher do meu sobrinho um tanto mimada, não parava de chorar d'alto, agarrada ao braço do marido,que sem paciência a repreendia sem parar.
Passado um ano voltei,e então sem sofrimento, visitei vários locais bonitos da nossa Capital, esta foto feita no Castelo de Lisboa, recorda um desses dias. E no ano seguinte de novo nos Jerónimos, na fonte frente ao Mosteiro.
Um ano depois casámos e passámos a residir na área de Lisboa. Iamos muitas vezes até Belém passear, e ao futebol no Estádio do Restelo, mas de eléctrico, e eu sempre recordava aquela primeira ida a Belém e os quilómetros que percorri a pé. Hoje de novo recordei com sorrisos e... saudades.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Recordando Monsenhor Nunes Pereira

 A Voz dos Castelos


Á meia noite,quando dorme a terra,
os castelos, de monte em monte olhando,
lembram histórias doutras eras, quando
serviam de defesa em dura guerra.

E cada qual a bôca então descerra,
e parece-me ouvi-los conversando.
cada palavra ou frase o vento brando
leva de vale em vale, de serra em serra.

Alerta' diz o vento de Leiria,
e estende-se do norte ao meio dia,
fazendo ouvir o eco em Montemor.

Alerta' e vão à Igreja escura e fria
pedir à Virgem Mãe Santa Maria
que faça breve um Portugal Maior.

(Monsenhor Augusto Nunes Pereira)

Acho esta poesia interessante, pois refere-se aos castelos de Leiria e de Montemor, e à Igreja de Santa Maria de Alcáçova situada dentro do castelo. Um templo de estilo gótico edificado em 1090, e restaurado no século xv. Considerado de há muito Monumento Nacional, é uma jóia que a vila preserva e de que até se orgulha.

(Monsenhor Augusto Nunes Pereira, foi pároco em Montemor à muitos anos.)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Castelo de brincar feito de cartão

A minha filha - que gosta de fazer toda a espécie de colagens - fez este castelo com cartão de caixote, cola e tinta, e mais umas anilhas de latas de feijão, uns cordéis e palitos. Foi para oferecer ao meu neto, que gostou muito. Ela antes fez uma pesquisa para se inspirar e mostrou-me um site cheio de castelos das mais variadas formas. Achei interessante partilhar. O link para lá ir ver é o seguinte:
http://www.topcastles.com/topkastelen.php?Language=en

É só clicar em cada uma dos quadrados e aparecem fotos grandes e informação. Está em inglês e não percebo. Mas as fotos são muito interessantes, vale a pena ver tantos castelos diferentes para ver o engenho desses arquitectos antigos!

domingo, 11 de setembro de 2011

Sorrisos

Eu não consigo entender por mais que pense, a razão porque grande parte do nosso povo vê os políticos como seres altamente superiores. Não sei se são reminiscências do passado, no tempo do decrépito Estado Novo. Nessa altura os chefes de Estado e do Governo eram intocáveis, aureolados como se de Santos se tratásse, muito perto do exagero. Actualmente as coisas não mudaram muito, daí eu falar em reminiscências, que parece ainda povoarem a imaginação de muitos portugueses. E porquê? No passado mês de Agosto, altura em que muitas pessoas procuram as nossas praias, ao encontro do sol e do merecido descanço, também o nosso Presidente da Républica fez igual. Numa das praias do Algarve assentou arraiais. Então todas as manhãs chegava ao areal com a familia, inclusivé os netinhos. Nada de mais natural, o Sr. antes de ser Presidente é esposo e avô,adora os netos, gosta do mar, do sol, da praia.
Ora eu li num jornal diário que as pessoas ali a banhos,todos os dias ansiavam pelachegada do Sr.,à espera dum sorriso,que ele pródigamente distribuia. Posteriormente enalteciam a simpatia do Presidente, e aqui é que eu acho que as pessoas estão presas ao passado. Então é algum facto relevante ser simpático? Então não é hábito na praia saudar os vizinhos do chapéu do lado? Não conhecemos, mas ficâmos a conhecer por uns dias. Quanto a mim, todos nós portugueses, temos o dever de respeitar os Homens que estão à frente dos destinos do nosso País. Cultivo o respeito, mas regeito a subserviência. Entendo-a como fraqueza, ou ausência de valor próprio.

Entretanto, encontrei estes versos. ( gosto de poesia)

O Senhor Morgado

O senhor morgado
Vai no seu murzelo,
Todo empertigado,
É um gosto vê-lo,
Próspero, anafado,
Véstia alentejana,
Calça de riscado:
Homem duma cana!
Vai, todo se ufana
De ir tão bem montado
E ela na janela...
Seja Deus louvado!

O senhor morgado
Vai nas próprias pernas,
Todo bandeado;
Tem palavras ternas
Para cada lado.
Quando passa,sente
Que é temido e amado;
Fala a toda a gente,
Topa um influente:
«Sou um seu criado...»
Eleições à porta,
Seja Deus louvado!

O senhor morgado
Vai na sege rica
Todo repimpado:
Ai que bem lhe fica
O chapéu armado,
E a comenda ao peito
E o espadim ao lado!
Que homem tão perfeito!
Deputado eleito,
Muito bem votado,
Vai para o Te Deum,
Seja Deus louvado!

(Conde de Monsaraz)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Aniversário

Ontem foi o dia dos meus anos. Confesso que actualmente não ligo muito a esta data nem sinto vantagem para mim de a festejar, embora não rejeite um jantar simples com a familia reunida à mesma mesa.Objectos como prendas também não, mas doces, chocolates e livros, sou gulosa por todos e são bem vindos. Marido, filhas e netinho não se esquecem.
Com o passar do tempo muito se alterou, passei a festejar o aniversário do marido, depois o das filhas, e descurei o meu. Não o rejeitei, apenas lhe reduzi a importância com naturalidade, e quase sem dar por isso.
Guardo na memória a festa que era para mim fazer anos, quando era menina e depois na juventude. Era tudo tão pouco, tão modesto, e no entanto era enorme no meu conceito. Resumia-se ao jantar que nessa noite era na sala. E a comida era sempre igual ano após ano, canja, arroz escuro dos miudos do frango, e o dito cujo com batatinhas à volta, assado no forno. Como sobremesa arroz-doce. Prendas? Não me recordo. Apenas uns postais ilustrados enviados por algumas amigas. Mais tarde algumas prendas então,mas já com vista ao enxoval, jámais de carácter superfluo. Gosto de recordar, faz-me sorrir.
Foi há muitos anos, neste dia 5 de setembro. Fui a Coimbra, e viajei no autocarro da carreira. No regresso vinha "o meu autocarro" e mais outro igual que era o do desdobramento, este por acaso vinha à nossa frente. Numa curva travou bruscamente para evitar bater numa camioneta que lhe surgiu de frente,e como a estrada estava molhada,atravessou-se na via. O outro também parou e não ouve consequências,porém quando o motorista se dirijiu ao da camionete este começou a barafustar,e pregou-lhe uma bofetada. Os óculos voaram e claro partiram-se. Quando segundos depois ali chegámos não havia espaço para passármos. Com aquela atitude maluca, tornou-se necessário chamar a polícia, e sem telefone a demora era evidente. Ficámos ali retidos no meio dos campos. Então a alternativa era entrar numa azinhaga passar por uns pequenos povoados, para voltar à estrada um pouco mais adiante. E lá seguimos por caminhos tortuosos e estreitos de terra esbranquiçada, aos solavancos sobre o piso irregular. As pessoas surgiam ás portas admiradas porque ali não passavam carros. Iamos muito devagar pois a espaços curtos aparecia uma pedra enorme. Então o colega do motorista descia e ia tirar a pedra. Daí a pouco,de novo -" ó Fernando lá está outra, vai tirar". Nós riamo-nos, e parodiávamos o facto, chamavamos-lhe excurssão sem aumento no preço do bilhete.E mais pedras se sucederam e o Fernando sempre as foi retirar, até finalmente voltarmos à estrada normal.Apesar da boa disposição estavamos saturadas,todas cheias de pó, mesmo fechando as janelas,não foi possivel evitar, mas já nada nos preocupava, só chegar a casa depressa, pois passámos horas nesta aventura.
Em Montemor a noticia tinha corrido mas da pior forma, dizia-se que a camionete da carreira tinha sofrido um acidente, falava-se num choque ; eu tinha por hábito e gosto, ocupar o lugar da frente, por isso em minha casa foi o caos.Quando a camionete entrou na minha rua onde passava e não parava, eu vi logo um aglomerado considerável de pessoas à minha porta. Preocupadas esperavam, e acompanhavam a minha mãe que em lágrimas só pensava o pior.
Finalmente cheguei a casa, sã e salva! Pois, não nos tinha acontecido nada,mas neste dia de aniversário, o jantar que já tinha arrefecido,não soube como de costume.

sábado, 3 de setembro de 2011

O Ouro e a Peste

Duma forma geral, porque poucas serão as exceções, todos os castelos guardam as suas lendas, algumas muito interessantes, outras nem tanto, e o castelo de Montemor-o-Velho também as tem.
Recordo uma, a das arcas. A torre de menagem tem na base um reforço em cantaria algo aparelhada, um espaço saliente de grande dimensão. Diz a lenda que ali no seu interior estariam duas arcas enormes e numa delas estava um tesouro, e na outra, a peste. O povo acreditava, e todos queriam ir buscar aquela riqueza, o ouro, mas adivinhar qual a arca que o guardava? O medo da peste travava os impetos. No entanto, até à poucos anos ainda eram visiveis uns buracos, devido à falta de pedras que dali foram arrancadas por algum afoito que se aventurou,mas que não logrou atingir o interior.

O Conde de Monsaráz, passando por Montemor tomou conhecimento desta história, e decidiu contá-la em versos. É com muito gosto que a transcrevo.

A Lenda das Arcas

Entre escombros na rudeza
da vetusta fortaleza,
batidas do vento agreste,
empedernidas,cerradas,
há duas arcas pejadas
uma d'oiro,outra de peste.

Ninguém sabe ao certo qual
das duas arcas encerra
o fecundo manancial,
que fartará d'oiro a terra
mesquinha de Portugal,
ou qual,se mão imprudente
lhe erguer a tampa funérea,
vomitará de repente
a fome, a febre, a miséria,
que matarão toda a gente !

E nestas perplexidades
e eternas hesitações,
têm decorrido as idades,
têm passado as gerações;
nas guerras devastadoras,
nas lutas brutais e ardentes
entre as raças invasoras
e as povoações resistentes.

Nunca romanos nem godos,
nem árabes,nem cristãos,
duros na alma, e nos modos,
rudes no aspecto e no trato,
chegaram ao desacato
de lhe tocar com as mãos.

Sempre que o povo faminto,
maltrapilho ou miserando,
fosse ele cristão ou moiro
entrou no tôsco recinto
para salvar-se, arrombando
a arca pejada de oiro,

Quedou-se, os braços erguidos,
a olhar atónito e errante,
sem atinar de que lado
vinha morrer-lhe aos ouvidos
uma voz agonizante,
entre ameaças e gemidos:
- Ó povo de Montemor,
se estás mal, se és desgraçado
suspende, toma cuidado,
que podes ficar pior!

E nestas perplexidades,
e eternas hesitações,
hão-de passar as idades,
suceder-se as gerações,
e continuar na rudeza
da vetusta fortaleza,
batidas de vento agreste,
empedernidas,cerradas,
as duas arcas pejadas,
uma d'oiro outra de peste.


(Conde de Monsaraz)

    ( em 1902)




terça-feira, 30 de agosto de 2011

Castelo de Montemor-o-Velho - 1955




O castelo! A coroa da Vila! E pela encosta as casinhas de arquitetura simples, pequenas construções de pedra e cal, muito antigas.

Na foto superior, a rua principal do castelo dentro da cinta de muralhas. Várias torres, a maior e mais alta é a torre de menagem.

Na foto seguinte, uma entrada do castelo denominada Porta da Peste, sendo visivel de novo a torre de menagem.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Montemor-o-Velho na década de 50 - 8

Vala na Ponte Alagoa   

Como este arco e respectiva ponte existiam mais dois iguais sobre a vala, um curso de água que atravessava a Vila de norte a sul. Era interessante ver a água a correr encostada ás casas que a ladeavam,aos pequenos quintais que cultivados, dela recebiam a rega necessária, e até as lavadeiras que em locais adequados para o efeito ali lavavam as roupas. Hoje já nada disto existe, os arcos foram soterrados com a vala, dando lugar a mais uma rua, resta a fotografia.                                                     

Montemor-o-Velho na década de 50 - 7


Praça da República.
Esta era a sala de visitas de Montemor nos anos 50. No lado esquerdo o edificio dos Paços do Concelho (que a foto não mostra) conferia-lhe um ar de certa grandeza. Ainda hoje o respectivo estilo arquitetónico é digno de reparo. Porém esta praça que aqui pouco "diz", era bonita.Na foto superior,uma parede lateral dos Paços do Concelho numa rua de acésso ao Castelo.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 6

Ponte na Barca.

Esta ponte que atravessava o Mondego à entrada do Casal Novo do Rio,apesar de ter sido construida há muitos anos, e restaurada algumas vezes, na altura em que fiz a foto estava perfeitamente operacional.A sua estrutura era basicamente o ferro,e até os passeios laterais pedonais eram de ferro, com relevos para não se escorregar. Foi num dos seus passeios que eu me decidi a andar sósinha, era pouco mais que bébé, mas a minha mãe sempre fez questão de me repetir "o feito" ligado à ponte.
Há uns anos atrás uma inundação de enormes proporções, numa época em que mercê de grandes obras efectuadas, as cheias não existiam mais,surgiu este imprevisto que ninguém sequer sonhava. A água avançou monstruosa e rápida, levando tudo na sua força destruidora. Chamaram-lhe a cheia do século, nunca tinha havido nada assim. Para trás ficou um enorme rol de prejuísos e máguas. A ponte também desapareceu nesse dia. Parte dela no fundo do rio, enquanto o resto dos ferros torcidos, ainda presos aos pilares já tortos, baloiçavam ao sabor da corrente medonha como se de bóias se tratássem.
Passado algum tempo uma nova ponte foi inaugurada, construída sob técnicas modernas,uma obra virada para o futuro, mas usufruída no presente.
Da velha ponte resta apenas a recordação!

Montermor-o-Velho na década de 50 - 5


Ponte Alagoa
Este era o Largo Macedo Sotto Mayor. A Ponte de Alagoa ficava a dois passos,por isso a zona adotou também este nome. Mas na casa no lado esquerdo tem uma placa em pedra de feitio oval onde em letras talhadas em relevo o nome do dito Sr. identifica o Largo. Na outra foto uma ruela,umas casitas, um passado longinquo.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 4

As cheias do rio Mondego.

Este local coberto de água não era um rio ou lagoa,era sim fruto de mais uma cheia,facto repetido em todos os invernos.A zona baixa da Vila que era habitada, também ficava alagada. Só a parte situada na encosta do castelo era poupada. Nessa altura era bom morar no alto.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 3



Ladeira de S. Miguel e Largo dos Anjos

Montemor era terra de lavradores.De manhã seguiam para os campos tratar da lavoura com os animais que além do trabalho agrícola também puxavam o carro, rústico e forte, feito de madeira pelos carpinteiros residentes na Vila. Também o chafariz era importante.Tinha um tanque de pedra que duma bica recebia água,e sempre cheio era lugar de paragem para os animais sedentos.Há direita começava a ladeira de São Miguel,subida bastante acentuada até ao castelo.A foto de cima feita de sentido inverso,mostra as casinhas antigas,com respectivos degraus em pedra,património pouco valorisado na altura.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 2


Barcaça no rio Mondego.
Barcaça é um barco,é evidente. Porém este baseava-se num modelo antigo, que foi construido propositadamente para uma travessia, em que a passageira era sem mais nem menos uma raínha portuguesa, a rainha D. Maria I. Porém esta barcassa da foto, não transportava gente da realeza mas todos quantos iam trabalhar nos campos da outra margem. Iam as pessoas e os carros com os bois que os puxavam, as alfaias agricolas, e os produtos necessários.Era grande,chegava a levar tres carros. Era movido pela força de braços do barqueiro e da sua vara. Não tinha corda de segurança, e embora o rio tivesse um enorme caudal, perigoso por isso, nunca ouve acidente. Na foto de cima vê-se um carro e o gado já a passar no cais que era de madeira, e o lavrador à frente.Não muito longe da água, havia uma construção de pedras sobrepostas, um espaço reduzido, onde se recolhia o barqueiro, pois ali passava os dias e parte até das noites, ao serviço de quem o chamava duma ou doutra margem. Com a construção duma ponte sobre o rio, terminou este trabalho tão duro do barqueiro.E a barcaça também parou.

Montemor-o-Velho na década de 50 - 1


Fotografias tiradas por mim na década de 50. Rua Dr. José Galvão.

Esta era na altura a rua principal de Montemor. Também por aqui passava todo o transito automóvel. Esta foto mostra o lado esquerdo da rua. A outra o lado direito,no sentido norte. Nesta vê-se parte do lagar de azeite que então laborava e bem. Na outra a bomba (vê-se mal) onde se ia buscar a água.
Ao fundo a Igreja de Sta. Maria dos Anjos, monumento nacional, património valioso.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Ai caramba!




Veio da costa
Com o sorrir de quem chegava cedo
Trazia histórias
De baleias, de marés e medo
E aquela gente
Que nunca tinha visto o mar contado
Ouvia tudo
Como segredo que é revelado

E a filha do carpinteiro
Que era como uma sereia
Tão boa como água mansa
Fêmea como a lua cheia
De crescer água na boca
De sonhar a noite inteira
Ponham-me a pensar sozinho
Que ainda a deitava na areia

[Refrão]
Ai caramba!
Aquilo é que havia de ser caramba
Palavra de honra
Só me arrependia do que não fizesse
Ai se eu pudesse catraia
Levava-te a navegar
O teu lenço, a tua saia
Deitava os dois ao mar
E era o que Deus quisesse,
Ai catraia se eu pudesse...
E era o que Deus quisesse,
Ai catraia se eu pudesse...

Raio de moça
Que já me põe a falar sozinho
Ainda hei-de um dia
Aparecer-lhe à curva do caminho
Pode a nascente
Se levantar lá das terras da sorte
Hei-de dizer-lhe
Que é mais bravia que o vento norte

E um dia de manhazinha
O pescador perdeu o medo
Foi bater-lhe à porta e disse
Quero contar-te um segredo
E ela pior que as marés
Deu-lhe a resposta despachada
Vai mas é de volta ao mar
Que tu daqui não levas nada

[Refrão]

Ai se eu pudesse...

Ai caramba
Aquilo é que havia de ser caramba
Palavra de honra
Só me arrependia do que não fizesse

[Refrão]

Ai caramba!
Aquilo é que havia de ser caramba
Palavra de honra
Só me arrependia do que não fizesse
Ai se eu pudesse catraia
Levava-te a navegar
O teu lenço, a tua saia
Deitava os dois ao mar
E era o que Deus quisesse,
E era o que Deus quisesse,
Ai catraia se eu pudesse...

Um exemplo de música popular portuguesa. O grupo chama-se Quadrilha.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Portugal para descobrir!


Portugal mostrado pela TVE Espanhola

Um lindo documentário sobre Portugal. Está em espanhol mas a gente precebe.

domingo, 14 de agosto de 2011

Já era noite

Estavamos em Dezembro,altura em que a luminosidade do dia cede mais cedo o lugar ao escuro que antecede a noite. Não chuvia,mas também não se viam estrelas, só a iluminação pública permitia visibilidade a quem circulava a pé naquela avenida frente ao mar. Nós circulávamos de carro, não havia lugar a queixas.Tinha chegado ao fim mais um dia de trabalho e o meu marido e eu dirijiamo-nos para casa.Eu não sei já porque razão utilizámos aquela artéria,havia o caminho habitual que até era mais curto. Iamos devagar e o meu marido reparou num vulto que caminhava lento e com passo inseguro.Parou e perguntou: Quer vir Sr. Paulino? O homem acercou-se e respondeu: Mas por Deus!!!!! Quero, leva-me.Sabe onde moro? Bem,eu depois digo. Entrou no carro e lá foi repetindo o tal, "mas por Deus", que o caracterizava. Era um homem só,fazia uns trabalhitos,e como era educado e andava sempre asseado, toda a gente o estimava,apesar do seu gosto exagerado pela bebida.Quando regressava a casa alta noite cantava,elevava mesmo a voz,vinha sempre feliz. De carro depressa se chegou à azinhaga que dava acesso à casa do Paulino,e o meu marido aproximou o carro da berma e convidou-o a descer. Mas ele não quiz. Repetia, "mas por Deus", e continuava sentado, enquanto o meu marido argumentava que queria ir pra casa descançar,e insistia:"Vá lá, saia Sr.Paulino que já não é cedo".Mas ele queria lá saber!"Então Sr. Paulino, ora esta?! Eu meto-me em cada uma,"- já dizia o meu marido a meia voz -bem, tem de ser assim. Saiu do carro abriu a porta do lado dele, e puxou-lhe as pernas pra fora enquanto o aliciava com boas razões a sair do carro. Finalmente ele concordou,e lá caminhou para casa não sem antes agradecer a boleia, e repetir:"Mas por Deus!" E nós seguimos o nosso rumo algo sorridentes, convencidos de que não ia haver outra paragem. Convencidos,e errados!!! Uns metros adiante havia qualquer coisa na nossa faixa de rodagem,era um carro parado.Estavam também pessoas no passeio. Devagar aproximamo-nos,e quando o nosso carro parou sentimos algo a estilhaçar-se sob os pneus,e ouvimos também dispersos alguns insultos. Saímos do carro. À frente lá estava o carro avariado, mas isso era outra coisa, os insultos eram para nós, e agora mais intensos. Então o meu marido perguntou:"Mas o que é, homem,afinal o que é que eu tenho a ver com isto para ser assim tão mal tratado?" E o outro de imediato e com mau modo respondeu:"Então você partiu-me o triângulo e ainda está a perguntar-me o que é que fêz? Fez uma linda coisa! Não haja dúvida!"
Ainda não refeito da surpresa o meu marido como que falásse para si próprio, calmamente murmurou:"Ah,então foi isso..." O outro retorquiu:"Pois foi,foi! E agora estou sem triângulo a estas horas, e amanhã vou cedo para fora,acha bem,acha? Ora diga lá..." O meu marido respondeu:" Não, não acho,mas espere que se resolve já o assunto." E dito isto o meu marido abriu o porta-bagagem e tirou o triângulo do nosso carro,e acto continuo entregou-lho ao mesmo tempo que dizia em tom alegre:" Ora, se todas as guerras se pudessem resolver com esta facilidade,o mundo estaria melhor!" A assistência quase aplaudiu. Um dos presentes apanhou o triângulo partido e entregou-o ao meu marido,dizendo que mesmo partido ainda lhe podia vir a ser necessário... e até foi.
Aquilo acabou em sorrisos,ainda se trocaram cumprimentos e seguimos. Foi altura do meu marido desabafar em voz alta: "Depois dum dia inteiro a atender pessoas ainda me deu para trazer o Paulino alcoolisado,coitado, eu já me estava a aborrecer... depois livro-me dele e atropelo o triângulo..." Dizem que não há duas sem três, será que antes de chegar a casa ainda me envolvo noutro episódio?

(Felizmente tal não veio a suceder.)

Não existem só regras...Há também excepções!

Hoje volto à poesia. Apenas um soneto que guardo há muitos anos,é um pequeno recorte de jornal.Presumo que seja do Jornal Républica,actualmente desaparecido (infelizmente) e penso assim porque a autora foi redatora deste Jornal entre 1942 e 1945. O meu pai recebia o Républica entregue por correio diáriamente, e foi ele que me levou o papelinho,acrescentando que o soneto era muito bonito.Os anos passaram,mas não danificaram este mimo,que aconchegado nas páginas dum livro de poesia de vários autores, esperava pela minha visita.É da autoria de Manuela de Azevedo, a primeira mulher jornalista em Portugal.Escreveu poesia,conto,ensaio,foi uma lutadora contra o antigo regime,e uma incançável estudiosa relativamente à biografia de Luis de Camões,e à reconstrução da casa (à altura em ruínas) que se situa na Vila de Constância, e que teria sido propriedade da família do grande Poeta.
Ao folhear uma revista,fiquei a saber que no dia 31 de Agosto próximo,somam 100 anos sobre a data do nascimento em Lisboa,desta senhora que eu muito admiro, mas tenho de me penitenciar pelo facto de não saber se ainda está entre nós. De qualquer modo,os grandes vultos são eternos, porque jamais esquecidos.


Excepções


Entre o ouro da lei, há falsidade;
E entre as estrelas de maior grandeza
Há vultos sem fulgôr e sem beleza,
Como, até nas mentiras, há verdade!...


Entre as brumas da noite, há claridade,
Como surge, no riso, a subtileza
De uma lágrima cheia de tristeza
E, na bonança,surge a tempestade...


No antro do pecado, há criminosos
E há, na virtude, um vício insatisfeito
Como, em deserto, há bosques milagrosos...


E como em toda a regra há excepções,
Entre os homens há feras de respeito
E, entre as feras, há grandes corações!


( Manuela de Azevedo)

sábado, 13 de agosto de 2011

Num Domingo em Agosto

Por vezes dou comigo a reparar que situações que haviam sido postas de lado estão a ser novamente usadas, quase como novidade e decerto até são, porque o tempo passou e o passado, como o nome indica, é passado e não raro esquecido.
Vi num pequeno apontamento de reportagem, algo oferecido aos residentes duma terra alentejana; uma empresa disponibiliza aos Domingos um autocarro para que as pessoas possam ir à praia. São 40 lugares que são preenchidos entre adultos e crianças.Hora marcada, vão pela manhã, cedinho, e regressam ao fim do dia. Transporte directo,mesmo assim a viagem leva hora e meia. O custo do bilhete não fixei, prendi a atenção na satisfação que aquele grupo manifestava,e disse para mim própria "é preciso tão pouco para umas horas de felicidade."
Não são só as conversas que são como as cerejas, as recordações também se assemelham. E por isso cá estou a recordar.
Foi num Domingo de Agosto, época muito quente, e a praia da Figueira da Foz o lugar de eleição. Carro próprio era luxo de poucos, excepção apenas para quem o veículo era mesmo necessário.Assim, havia o autocarro, a carreira que aos Domingos se multiplicava para levar toda a gente que estivesse nas paragens à espera. A empresa tinha dois ou três autocarros novos, barulhentos que bastasse, e vários arrumados por velhice, mas aos Domingos vinha tudo para a estrada. Mesmo assim, não ficou para a história memória de acidente, mas também à velocidade a que seguiam nunca o perigo seria muito.
Eu com o meu pai,que ia para a pesca, e a minha mãe que me acompanhava, embarcámos em Montemor nossa terra,na primeira camionete, a tal mais nova,e connosco outros Montemorences,iamos todos para a praia. O autocarro ficou logo lotado, e, ao aproximar das paragens,o motorista afrouxava e com a mão fazia sinal aos passageiros que vinha outro autocarro a seguir. Só parámos para sair já na Figueira, encantadas com a rapidez da viagem. Até aqui tudo bem,na praia idem,enfim,um Domingo em beleza. O pior ainda estava para vir ao fim da tarde. Dirijimo-nos para o local da partida,era na rua, ainda não havia Terminal Rodoviário.Entretanto começavam a chegar os respectivos passageiros. Mas quais respectivos? Aquilo era um mar de gente que não parava de aparecer.Estava na hora de sair e a camionete  ainda não estava ali. Todos pensavam que não viria só uma mas várias. Puro engano, veio só uma, e das velhas...!Algumas pessoas precipitaram-se aos empurrões e entraram.O motorista fechou logo as portas e informou pela janela, que voltava depois de ir levar aqueles passageiros,e arrancou. Aborrecidas, as pessoas comentavam e manifestavam o desconforto. Já era noite fechada, não havia ali nenhum café,a borda do passeio servia de assento.Entretanto a camionete ia e vinha, ia e vinha, e os ânimos começaram a exaltar-se,e a certa altura num dos momentos de mais um embarque, ouvimos alguém que gritava "anda aqui bulha, andam à pancada dentro da camionete". Logo de seguida o motorista saiu e foi a correr chamar a polícia que ficava sediada ali perto.Regressou a calma e a resignação.
Não foram minutos,foram horas que ali estivemos à espera! Agora já falo de mim e dos meus,embarcámos era meia-noite na última camionete,já nem falávamos,nem sequer para nos lamentarmos ou recordarmos o bom da tarde.
Mas ficou a recordação deste regresso atribulado,que passado algum tempo já nos fazia sorrir!

domingo, 24 de julho de 2011

A beleza das mãos

Ao ver estas mãos transformadas em coisas tão bonitas,eu quis escrever algo sobre a habilidade do artista, mas depois de ler este soneto de Manuel Alegre,fiquei sem palavras,ele disse tudo.

As Mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

( Manuel Alegre)

sábado, 23 de julho de 2011

O mundo da publicidade






















Recebi por email e achei que era digno de ser partilhado!