
Passaram há dias 44 anos sobre esta foto,e naturalmente sobre o que ela representa especialmente para mim.
Foi um acontecimento na minha terra,como era sempre com todos os casamentos que se realisavam naquela época.Ainda hoje eu retenho na memória a imagem duma multidão postada à entrada da Igreja à minha espera; e eu muito vaidosa (nesse dia) não contive a exclamação ”eia tanta gente! “ Ao que o Sr.Panão que me conduzia no táxi respondeu,então não queria que viessem? Isso até seria um pecado não a virem ver... Outros tempos aqueles ; se eram melhores,se eram piores não dou opinião.Sei porque vivi naquela época, que havia um grande sentido de responsabilidade,respeito pelos pais,mêdo da opinião publica,havia até uma frase muito divulgada que era : ”temos de dar satisfações ao mundo” ... A palavra namorar não tinha o significado que tem agora. Ter namorado (ou conversado), aceitar namoro,era digamos uma promessa mútua com vista a casar; o tempo de namoro antecedia o noivado,(dia do pedido) em que então se marcava o casamento.Mas não havia “estreia antecipada”,e quando o lume ao pé da estôpa vinha o diabo e assoprava,”o tal mundo”, manifestava-se sem dó nem piedade,instalava-se o falatório chuviam as criticas e até más palavras. Em casa era o desanimo; ralhos, tareia,lágrimas,chamavam-lhe mesmo desgosto os pais entristecidos; e casamento seria na missa das 7 da manhã,só com os padrinhos e sem festa.Em circunstâncias “ditas normais”, um casamento era sempre um acontecimento de alegria,e até alguma vaidade entre familiares. E era assim: Sacramento do Matrimónio na Igreja,depois a bôda durante horas, e finalmente então o “enfim-sós”.
Os anos passaram,e muitos! E é com saudade que recordo esse dia único, o do nosso casamento;ainda me vejo vestida de renda, e véu (de metros) a arrastar pelo chão;a cerimónia na Igreja com o Padre paramentado especialmente para o acto,com capa adamascada;o almoço prolongado com os convidados,a viagem para Lisboa em 1ªclasse,no combóio-rápido,tudo já tão distante... Costumamos ano após ano, sempre comemorar indo jantar sózinhos.Este ano queriamos fugir ao habitual,projectámos um fim de semana fora,a data caía nele,e até havia o facto da capicúa,possivelmente seria a ultima,mas o tempo demasiado invernoso mandou que ficássemos em casa,segredando-nos baixinho que já temos idade para ter juíso... e ficámos!