domingo, 14 de agosto de 2011
Não existem só regras...Há também excepções!
Hoje volto à poesia. Apenas um soneto que guardo há muitos anos,é um pequeno recorte de jornal.Presumo que seja do Jornal Républica,actualmente desaparecido infelizmente, e penso assim porque a autora foi redactora deste Jornal entre 1942 e 1945. O meu pai recebia o Républica entregue por correio diariamente, e foi ele que me levou o papelinho,acrescentando que o soneto era muito bonito.Os anos passaram, mas não danificaram este mimo,que aconchegado nas páginas dum livro de poesia de vários autores, esperava pela minha visita.É da autoria de Manuela de Azevedo, a primeira mulher jornalista em Portugal.Escreveu poesia,conto,ensaio,foi uma lutadora contra o antigo regime,e uma incansável estudiosa relativamente à biografia de Luis de Camões,e à reconstrução da casa (à altura em ruínas) que se situa na Vila de Constância, e que teria sido propriedade da família do grande Poeta.
Ao folhear uma revista,fiquei a saber que no dia 31 de Agosto próximo, somam 100 anos sobre a data do nascimento em Lisboa,desta senhora que eu muito admiro, mas tenho de me penitenciar pelo facto de não saber se ainda está entre nós. De qualquer modo,os grandes vultos são eternos, porque jamais esquecidos.
Excepções
Entre o ouro da lei, há falsidade;
E entre as estrelas de maior grandeza
Há vultos sem fulgôr e sem beleza,
Como, até nas mentiras, há verdade!...
Entre as brumas da noite, há claridade,
Como surge, no riso, a subtileza
De uma lágrima cheia de tristeza
E, na bonança,surge a tempestade...
No antro do pecado, há criminosos
E há, na virtude, um vício insatisfeito
Como, em deserto, há bosques milagrosos...
E como em toda a regra há excepções,
Entre os homens há feras de respeito
E, entre as feras, há grandes corações!
( Manuela de Azevedo)
Caros visitantes, no próximo mês de Agosto somam seis anos que coloquei no blog este pequeno apontamento relativo a uma grande Mulher Portuguesa, a Jornalista Manuela de Azevedo.
Pouco depois tentei comunicar com ela, enviar-lhe uma simples carta a contar-lhe deste modesto post. Pessoa sensível como eu adivinhava que ela seria, por certo que o seu rosto se iluminaria com um sorriso ao constatar que o seu soneto tinha sido guardado durante tantos anos, depois de recortado dum jornal. Mas desconhecia o seu endereço. Até que um dia a revista do Jornal Correio da Manhã publicou uma mini reportagem acerca da sua vida e obra. Entusiasmada escrevi um email dirigido à jornalista que assinava esse trabalho. Pedia-lhe o endereço da Senhora que ela havia entrevistado, ou então se ela própria lhe poderia fazer chegar às mãos a minha pequena carta, que sendo sim, lhe enviaria prontamente. Expliquei-lhe a razão e o conteúdo da mesma. E fiquei à espera, indefinidamente.... A Jornalista nada me respondeu. - " Estava ela para se ralar com esta provinciana das dúzias que ela certamente deduziu que eu seria ?! " E a história acabou aqui.
Ontem na internet veio a noticia do seu falecimento, aconteceu aos 105 anos (dizia) neste passado dia 10 de Fevereiro. Uma foto ilustrava a noticia - Manuela de Azevedo muito velhinha segurava nas mãos o seu Diploma de Jornalista que recebera ainda jovem. Foi a primeira Jornalista Portuguesa a ter esse direito.
Mais um valor português que desaparece. É a lei da vida mas, uma vida que termina deixa sempre um vazio. Porém as obras ficarão para a posteridade.