sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Recordações


Não gosto de Boas-Festas,usuais cumprimentos sempre iguais nesta época. Detesto frases feitas,repetidas,frias,ditas e logo esquecidas.Mas é agora,porque dantes eu aguardava os cartões bonitos,entregues pelo correio,e com outros do mesmo teor eu agradecia pelo Ano Novo.Tudo me dava satisfação, até o facto de ir à loja de propósito para os comprar.Eram escolhidos de acordo com as pessoas a quem eram dirigidos,e todo aquele"ritual"fazia parte do meu Natal,do qual eu gostava tanto. Era naquele dia que eu tinha uns sapatos para estrear,comprados em Coimbra,ia à missa e ver o presépio,e de tarde passear e ver o presépio do hospital que era iluminado,e à noite havia baile no Teatro.Quando calhava ser Natal à chuva,chuviam também os meus lamentos, pois assim já não estriava os sapatos; sapatos de camurça logo molhados "à nascença", impossível, nem pensar nisso era bom! Hoje reparo e sinto,como tudo está distante,e como eu estou dferente também...
Da infância ainda me recordo de aparecerem em cima do borralho,colocados pelo "Menino Jesus"(naquela época o Pai Natal ainda não tinha entrado ao serviço) uns brinquedos,que eram a minha alegria e a certeza da minha crença... mas um dia ao avizinhar-se o Natal,sem que a minha mãe desse por isso,eu vi uma caixa com umas pantufas,estava escondida,mas eu vi ; eram de fazenda aos quadradinhos,"ainda as vejo hoje "...
Na manhã do dia de Natal,como era costume, corri p’rá cosinha e lá estavam as pantufas que eu vira escondidas,mas agora já fora da caixa em cima do borralho. Devo ter feito um sorriso amarelo,(as crianças não fingem) e um tanto desapontada e má,comecei a repetir; a Ângela já me tinha dito,e eu dizia que não! - tinha dito o quê? perguntava a minha mãe; que não era o Menino Jesus que dava os presentes,eram as mães que compravam!
Foi impossível esconder a verdade,e manter aquela terna mentira, mas eu fiquei a perder, pois nunca mais apareceram presentes no borralho. Já não se justificavam porque eu já sabia,antigamente era assim.

1 comentário:

Anónimo disse...

Feliz de quem tem algo para recordar,e o escreve com gosto!