Duma forma geral, porque poucas serão as exceções, todos os castelos guardam as suas lendas, algumas muito interessantes, outras nem tanto, e o castelo de Montemor-o-Velho também as tem.
Recordo uma, a das arcas. A torre de menagem tem na base um reforço em cantaria algo aparelhada, um espaço saliente de grande dimensão. Diz a lenda que ali no seu interior estariam duas arcas enormes e numa delas estava um tesouro, e na outra, a peste. O povo acreditava, e todos queriam ir buscar aquela riqueza, o ouro, mas adivinhar qual a arca que o guardava? O medo da peste travava os impetos. No entanto, até à poucos anos ainda eram visiveis uns buracos, devido à falta de pedras que dali foram arrancadas por algum afoito que se aventurou,mas que não logrou atingir o interior.
O Conde de Monsaráz, passando por Montemor tomou conhecimento desta história, e decidiu contá-la em versos. É com muito gosto que a transcrevo.
A Lenda das Arcas
Entre escombros na rudeza
da vetusta fortaleza,
batidas do vento agreste,
empedernidas,cerradas,
há duas arcas pejadas
uma d'oiro,outra de peste.
Ninguém sabe ao certo qual
das duas arcas encerra
o fecundo manancial,
que fartará d'oiro a terra
mesquinha de Portugal,
ou qual,se mão imprudente
lhe erguer a tampa funérea,
vomitará de repente
a fome, a febre, a miséria,
que matarão toda a gente !
E nestas perplexidades
e eternas hesitações,
têm decorrido as idades,
têm passado as gerações;
nas guerras devastadoras,
nas lutas brutais e ardentes
entre as raças invasoras
e as povoações resistentes.
Nunca romanos nem godos,
nem árabes,nem cristãos,
duros na alma, e nos modos,
rudes no aspecto e no trato,
chegaram ao desacato
de lhe tocar com as mãos.
Sempre que o povo faminto,
maltrapilho ou miserando,
fosse ele cristão ou moiro
entrou no tôsco recinto
para salvar-se, arrombando
a arca pejada de oiro,
Quedou-se, os braços erguidos,
a olhar atónito e errante,
sem atinar de que lado
vinha morrer-lhe aos ouvidos
uma voz agonizante,
entre ameaças e gemidos:
- Ó povo de Montemor,
se estás mal, se és desgraçado
suspende, toma cuidado,
que podes ficar pior!
E nestas perplexidades,
e eternas hesitações,
hão-de passar as idades,
suceder-se as gerações,
e continuar na rudeza
da vetusta fortaleza,
batidas de vento agreste,
empedernidas,cerradas,
as duas arcas pejadas,
uma d'oiro outra de peste.
(Conde de Monsaraz)
( em 1902)
2 comentários:
Querida, que linda esta tua forma preservar a cultura da tua terra .Foi Através de contos lendas que o povo antigo deixou de herança um pouco da sua história e crenças.Gostei muito do teu post.Parabéns! Que tua semana seja de muita luz, serenidade e amor.Bjs no coração Eloah
Parabens!! Estou Amando ler suas postagens e a inteligencia que voce descreve os eventos atuais e antigos é maravilhoso. Também sou Mãe e Avó e hoje estudo as energias internas do ser humano, pensamentos, sentimentos, desejos, sensibilidades, consciencia etc.
Também pratico a espiritualidade em todos os eventos da vida.Que as forças Superiores do Universo circule em voce com muita Luz, Paz e Amor. Abraços Heudes.
Enviar um comentário