terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Recordar Ary dos Santos

Passei na avenida e vi o mar, grandioso e bonito,mas enfurecido, pronto a tornar-se
cruel, e lembrei-me dos pescadores. Heróis todos os dias, e nunca medalhados.
Ainda envolvida por estes pensamentos, hoje vou colocar aqui uma poesia.

A Pesca

O bafio o safio a enguia o atum
Um para todos todos para um
Mas nenhum por todos
E todos por nenhum.
Ai a raia ai a raiva
De pescar em jejum.

Amadores da fala das marés
Cicatrizes da faina amadises da gala
Duma cauda de renda duma onda de espuma
Este mar aprendiz da vossa força
Aprende a ser o vosso
Ou de coisa nenhuma.

Obrigai-o a dar-vos o que a vós
Deve em suor e choro.
Quando dizeis em coro
À uma à uma à uma
Se não for vosso o barco
Há-de ser vossa a voz
Ou de coisa nenhuma.

Uma lua uma vela uma lula uma estrela
Que lindo e mole é tudo
Mas quem dará por elas
Mais do que um pão de silêncio uma pedra de vinho.
Ah não!
Deveis vencê-las
Às vagas que vos saem ao caminho.

Garanhões das correntes
Campeões
Dos músculos da água
Ide
Ide e voltai contentes
Com vossas redes cheias dos latentes
Peixes da nossa mágoa.
Trazei monstros marinhos e ancestrais
Piranhas tubarões moreias e serpentes
Mas sobretudo os peixes canibais
Que se nutrem de gente.
Despejai-os na lota como ao ódio
Escamado que vos cobre:

Durante a luta
Haveis de ver quem morre.


(José Carlos Ary dos Santos)