Eu não estive no funeral deste grande português. Mas se o espirito vôa e permanece nalgum lugar, então eu estive lá.
Quando pela televisão vi a saida do funeral, da linda Igreja de Setúbal, eu emocionei-me ao ver os filhos carregando a urna. Soaram também os aplausos do povo; o povo esse sim estava de luto, um luto que se sentia e não se exteriorisava em farpelas, ou óculos negros. Porém das altas esferas do nosso País, eu não vi ninguém... Apenas o Sr. General Ramalho Eanes, com a sua Espôsa a sra. Dra. Manuela.E também o Sr. Professor Rebelo de Sousa. Pensei, que Presidência e Governo ali estariam, e nem só por um momento admiti a ausência, deduzi por isso que possivelmente essas altas individualidades teriam ficado para trás, talvez ainda na Igreja. A T.V. também não "perdeu" muito tempo, para mudar de imagem...
Porém,qual não foi o meu espanto no dia seguinte, quando li no jornal isto :
-"Presidência e Governo não estiveram presentes no funeral."
Fiquei surpreendida pela negativa. Eu nem tenho palavras para exprimir o que penso. Porquê esta exclusão? Por o Professor ter trabalhado para o Estado Novo?
Só posso chamar a isso mentalidade tacanha. Então o Sr. não tinha de trabalhar?
Fez os estudos e não foram poucos (duas formaturas) e depois ficava em casa a olhar o céu... Claro trabalhou onde havia trabalho à altura do seu saber e categoria.
Defendia o Presidente da Républica, pois claro. As pessoas esquecem-se que há 45 anos atrás, não estavamos em Democracia, e que a ninguém era permitido censurar o Governo nem o Presidente
da Républica. Eram intocáveis, aprendiamos isso logo na instrução primária, e era para cumprir. E cumpria-se. Estava mal? Talvez, mas era assim. Entretanto depois do 25 de Abril já todos eram patriotas... mesmo quem nem duas palavras sabia alinhavar, botava palavra; dizer mal é muito fácil. Mesmo entre a maioria dos instruidos, não havia um sentimento de avaliação; no seu conceito quem vinha da Ditadura não tinha mérito. E actualmente as coisas não mudaram muito, constatei o facto aqui mesmo nalguns blogues. Pessoas que se atrevem a reevindicar por situações passadas, que alguns nem conheciam, porque eram creanças na altura, e outros mais crescidos nem as noticias liam, e também porque a censura só deixava vir nos jornais o que entendia. Estes que agora tentam beliscar, nem aos calcanhares do Ministro da Educação Hermano Saraiva hão-de chegar, ainda que vivam mais de cem anos.Nem vale a pena pormenorizar, está à vista...
Mas é muito triste assistir de animo leve,ao desinteresse manifestado pelos actuais governantes e afins, para com os grandes vultos portugueses. Quando faleceu o nosso Nobél, o Presidente da Républica estava nos Açôres em férias, e não quis vir ao funeral.
Que diabo não temos assim prémios Nobél com fartura... mas mesmo assim, o Homem que recebeu este galardão (uma honra para Portugal) o José Saramago, não mereceu a presença do Presidente da Républica no seu funeral. (porque este estava em férias.)
Lamentávelmente, Ontem, como Hoje....
5 comentários:
Olá, amiga!
Apreciei o seu texto - tanto - que "o levei" e publiquei no meu blogue.
Espero que não se importe...
Um beijo e um bom dia
Viviana
Concordo consigo, em pleno, é infame o que o dito poder político de Portugal fez em relação ao Prof. Herman Saraiva, na altura da sua morte.
Deixar passar esta data sem a marca da representatividade oficial ao mais alto nível, é intolerável.
Louvem-se as atitudes do general Ramalho Eanes e o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.
Ainda que os atuais detentores dos mais altos cargos públicos pudessem ser apontados como exemplos de conduta irrepreensível!
Tenha uma boa semana, amiga Dilita.
Olá Viviana!
Obrigada pela visita, e muito também por ter levado o texto.
Eu disse o que sentia,revolto-me por ver tantas atenções para uns, e outros são simplesmente votados ao abandono. E está sempre à vista o dito popular "meus senhores já hoje em dia,quem mais faz, menos merece..." Já não entendo quais são os valores reconhecidos actualmente.....
Beijinhos.
Amigo Sr. Nunes
Gostei das suas palavras, e da visita, obrigada.
O poder politico não valorisou quem tem valor,nomeadamente quem se dedicou a uma vida inteira de estudo e mérito.E estudos em campos opostos.
Preferem antes as licenciaturas "à Lá Minute"... Está tudo dito.
Saudações.
Mas desde quando é que os vultos da cultura interessam ao Governo? Este Governo nem tem orçamento para a Cultura! E o Saraiva até nem era muito académico, até era contestado em termos de conhecimento histórico, há quem diga que muito do que ensinava, a forma como encarava a história, estava ultrapassado. Mas acho que os seus programas eram, dentro do género, bastante aceitáveis e agora que acabaram não vai haver quem faça, é menos um estorvo, pois assuntos destes não são bons para vender publicidade na TV!! Mas tanto faz,a verdade é que se fosse um fdp qualquer de um futebolista decerto que estaria lá alguém a fazer as honras...Belinha Fernandes
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