Há bastante tempo já, que no nosso país não há paz. Eu não estou a afirmar que estamos em guerra, Deus e todos os Santinhos nos livrem desse monstro hediondo a que se chama guerra. Temos um género de relativo socêgo que se parece e bem com uma paz pôdre... Mas não há paz de espirito, há descontentamento, receio do presente e do futuro, muitas pessoas em sofrimento por não conseguirem estabilizar os seus débitos, pobreza, muita tristeza escondida, e até suicídios de onde menos se espera. Eu nunca pensei que havia de assistir ao que nos é dado ver actualmente, dia após dia, principalmente depois dos portugueses terem conseguido atingir um nivel de vida razoávelmente satisfatório. E penso, será que tudo o vento levou? Esse lapso de vida melhorada foi só uma amostra? Se foi, aqui fica o meu lamento, porque o bem alheio também nos aníma. No silêncio da minha casa,agora meio escurecida para travar o calor do sol, dou por mim a pensar no passado: - As pessoas viviam tão pobres, pobres de tudo, digamos que " viviam amarradas..." Contudo não se sentiam infelizes, parecia que já tinham nascido com a conformação instalada em si mesmas. Estava errado tal sistema; "o mundo rola e avança" dizia o grande Gedeão, e assim é na verdade; mal vai se ficamos estáticos sem desejarmos um pouco mais, e sem tentarmos.
Continuando no mesmo raciocínio relativo ao passado,lembrei-me das excursões realisadas nos anos 50 e 60, a partir da minha terra. Era a unica forma das pessoas viajarem uma vez por ano. Sem comodidade nenhuma é certo, em autocarro desconfortável, barulhento e moroso; dormir com as estrelas como teto, em cima duma esteira e cobertores no chão. Os homens gostavam de dormir no tejadilho do autocarro, e tudo aquilo era uma alegria; partilhavam os farnéis, era uma confraternização saudável.Partiam num dia de manhã cedinho e regressavam no dia seguinte pela noitinha, ou mesmo já noite dentro. Eu nunca fui, mas tinha tanta pena quando via a camionete a iniciar a viagem... porém os meus pais nunca se entusiasmaram, aquilo era desconfortável, dizia a minha mãe e tinha razão.
Mas foi assim, a pagarem a viagem antecipadamente, semana a semana, durante quase um ano, que muitas Montemorences daquele tempo estiveram em Aveiro, no Porto, em Braga, em Viana do Castelo, no Gerês, na Serra da Estrela, nas Ermidas das Santinhas Milagrosas, etc, e claro em Fátima; mas esse era outro passeio diferente, único.
Até que foi inaugurada com grande festa a Barragem do Castelo de Bode. Aquilo era e é, uma obra fantástica, mas a maioria das pessoas não sabia ao certo do que se tratava. Nesse ano o promotor da excursão que era sempre o mesmo (homem sério muito respeitado, e estimado) ao programar o itenerário, desta vez para outra zona do paíz, incluiu também uma visita à Barragem do Castelo de Bode. E lá foram contentes e ansiosos... Ao regressarem vinham satisfeitos como sempre acontecia, e a totalidade das pessoas gostou do passeio, mas em relação a mais esta aliciante visita, não esconderam a decepção, e na sua simplicidade explicavam que a camionete parou lá no sitio, mas que embora procurássem não tinham visto nenhum Castelo, nem tão pouco nenhum Bode...
São estórias, mas verdadeiras.
2 comentários:
Querida Dilita
Que texto interessante!
Concordo totalmente consigo, amiga.
As pessoas tinham uma vida dura, difícil... mas apresentavam ânimo e nunca se queixavam.
Hoje, "trouxeram-nos" até aqui...
É o que prepararam para nós e para os nossos filhos. Para os netos...ainda será pior.
Sabe que hoje dei de caras com este pensamento:
"Se acaso não conseguires fechar a porta do teu coração á tristeza...não permitas que ela se debruce no teu rosto."
Acho que é uma boa sugestão.
O meu abraço, para si, amiga e também para o Olímpio.
Um bom Domingo
Viviana
Querida Viviana!
Que bonita frase, que belo conselho!
Seria bom não o esquecermos nunca.
Em relação aquele passado distante, no tempo em que eu era jovem,eu recordo a calma, a entreajuda e a amizade entre as pessoas, apesar das limitações que eram muitas.
Obrigada e um beijinho.
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