domingo, 17 de março de 2019

Foi há cinquenta anos...



Foi na madrugada de 28 de fevereiro de 1969 que aconteceu em Portugal um dos grandes sismos de que há memória. São passados cinquenta anos, porém ainda não esqueci o grande susto que me deixou apavorada por largos meses e receosa para sempre, pois é fenómeno que não avisa quando se manifesta.


Eram quase quatro horas da manhã, e (nós) eu, dormia tranquilamente, mas a sonhar que a terra tremia enquanto eu tentava colocar os chinelos de quarto debaixo da mesa de cabeceira. Acordei e a terra tremia mesmo,sucedeu-se o alvoroço entre nós e a expectativa, pois a calma aconteceu, para logo logo depois, tremer a valer acompanhado dum ruído surdo que parecia paralisar-nos de terror. Apressadamente a minha mãe pegou ao colo a nossa filha bébé de dois anos, e precipitou-se a correr para o pequeno jardim tentando ultrapassar o pequeno muro que o separava dum espaço amplo de terra de semeadura paralelo à estrada. Nós corremos em sentido inverso e saímos pela porta principal achando-nos na rua aonde parte da vizinhança se juntou num ápice. Era em Braga num lugar chamado Ponte dos Falcões um subúrbio da cidade. Uma única rua de chão mal calcetado, mas de casas novas, lindas, pintadas de verde.Todas de rés do chão e primeiro andar com jardim nas traseiras. Mesmo com pressa de sairmos, ainda batemos violentamente á porta dos nossos senhorios que viviam no andar superior, receando, sei lá, que a casa caísse e eles adormecidos lá ficássem. Nem toda a gente teve presença de espírito para vestir um robe ou roupão, a maioria saiu como estava, de modo que se não fôsse a aflição instalada em que ninguém reparava em ninguém, aquilo até seria hilariante... Os minutos pareciam anos e os vizinhos de cima não desciam. Repetição de pancadas na porta, e eles falaram - já vai! E daí a mais um bocado lá apareceram então. Ainda os estou a ver... E como dizem os crentes" não os estou a chamar cá pra mal." Ouviu-se o som da chave e do trinco da porta e apareceram os dois na maior calma, impecávelmente vestidos e calçados como se fôssem para a cidade ás compras. Ela de vestido e casaco, e ele de fato inteiro camisa e gravata.


Apesar do mêdo reparei, e sorri. E pensei, que mesmo no meio do perigo há sempre quem seja forte e esteja para além...

2 comentários:

Ana Bailune disse...

Nossa... acho que se eu morasse em local propício a terremotos, sempre dormiria vestida.
Ótimo texto!

dilita disse...

Olá Ana Bailune!

Muito grata pela visita.
Deitei-me vestida nos dias que se seguiram ao sismo,e não dormia antes das 4 da manhã.
Foi um susto inesquecível.
Portugal é atravessado por uma linha de fractura é essa a causa dos tremores que salvo este, têm sido de pouca intensidade. Mas os estudiosos da matéria afirmam que "está previsto" (sem data) um sismo identico aos grandes do passado. Admitem que acontecerá e será catastrófico.

Só nos resta esperar, e desejar que ele retarde ao máximo.
Beijinhos