quarta-feira, 11 de maio de 2011

O Prato do Sr. Dr.

Hoje ao verificar se havia pó em dois pratos que guardo como se dum tesouro se tratasse, apenas pelo facto de terem pertencido à minha avó, e eu ser conservadora,retornei ao passado e ao meu Montemor. Montemor-o-Velho,que naquela altura era mesmo velhinho,e pobresinho. Sistema de saúde ainda não tinha nascido, havia um hospital e um médico. Era o médico municipal pois a Câmara custeava o seu vencimento. Chamavam ao médico que ocupava este cargo o Médico dos Pobres,pelo facto deles não pagarem consulta,e os menos pobres pagavam uma vez por ano umas medidas de milho. Recordo-me de ele ir com um pseudo-enfermeiro à escola-primária vacinar-nos contra a varíola; nós em fila,aterradas,e ele a falar grosso,mas com bom modo. Ainda o vejo sentado no automóvel pequeno,com a bengala nas mãos,e o Sr José ao lado a conduzir devagarinho,se calhar a alguns 30 km à hora a caminho do hospital onde ia diáriamente. Quando o chamavam das freguesias limítrofes cujo acesso eram caminhos de lama,ele aceitava a oferta dum burro e cavalgava até à casa do doente. Este Senhor embora fosse de boa compleição fisica,cedo perdeu a saúde; algo no coração funcionava mal,e começou a ser-lhe difícil ir a casas na encosta do castelo,e onde tivesse de subir escadas ou ladeiras; também o frio lhe era prejudicial,de modo que alguns doentes passaram a ter uma assistência diminuta.Em terras pequenas os pensamentos voam, e um dia surgiu um médico jovem,saudável e decidido a estabelecer os seus serviços em Montemor. Foi o primeiro médico particular. Chegou cheio de esperança e de ideais, instalou radioscopia (que era novidade),e logo que teve o seu consultório pronto,foi cumprimentar o Colega veterano como mandam os preceitos de boa vizinhança. Este como cavalheiro que era, recebeu-o bem e apreciou o gesto,mas à despedida não deixou de mostrar um pouquinho de azedume encoberto,ao dizer que não lhe augurava um futuro promissor em Montemor.O outro não ligou à profecia,despediu-se alegre como chegou, e daí a alguns dias iniciou o seu trabalho,e em boa hora o fez.Há um tempo para tudo, e o novo Dr.estava no auge,de tal modo que não tardou que a inimizade se instalásse entre os dois. Ali não eram os lucros que imperavam,era o amor próprio do "velho" Dr. que não aceitava o facto de ser ultrapassado.
Estava a Vila em festa em Setembro por ocasião da feira-anual, e numa das noites em que actuavam ranchos folclóricos,e havia baile e muita gente estava a assistir,procedeu-se a um leilão de ofertas; e chegou a vez de leiloar um prato que nem era bonito,mas era antigo (genuino) . Oferta do Sr. Dr. (mais velho), que apreciador de arte e objectos antigos os adquiria a qualquer preço. Assim ofereceu este para a festa, mas com o intuito de o comprar e de novo o guardar. Só que o novo Dr. quis arreliá-lo,e vai de licitar. Foi hilariante! Um e outro alternando, subiram o valor do prato para uma soma enorme,uma exorbitância mesmo! Até onde chegou a guerrilha, e à vista de todos... E o novo Dr.conseguiu a arrelia completa,pois foi ele que levou o prato para casa!

2 comentários:

JAC disse...

Prezada Dilita, recentemente você deixou um comentário muito simpático após o poema "Resignação",do poeta açoriano Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva e agora constato que o mesmo foi apagado. Não sei se em decorrência de um problema que aconteceu com o provedor Blogger, que esteve inativo entre quinta e sexta-feira.
Lamento, o ocorrido,
Abraço,
Zealberto

João Maria Ludugero disse...

Querida Dilita,
Boa noite!
Obrigado pelos carinhosos comentários lá no meu blog. Que bom que gostou do que escrevo. Isso para mim é de grande incentivo. Estimula-me, pois a escrever mais e mais. Agradeço por também ter me adicionado. Volte sempre, pois a casa é toda sua. Deixo aqui meu abraço iluminado e votos de bastante saúde e alegrias duradouras. Mega abraço.
João Ludugero,poeta.
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