Hoje volto à poesia. Apenas um soneto que guardo há muitos anos,é um pequeno recorte de jornal.Presumo que seja do Jornal Républica,actualmente desaparecido (infelizmente) e penso assim porque a autora foi redatora deste Jornal entre 1942 e 1945. O meu pai recebia o Républica entregue por correio diáriamente, e foi ele que me levou o papelinho,acrescentando que o soneto era muito bonito.Os anos passaram,mas não danificaram este mimo,que aconchegado nas páginas dum livro de poesia de vários autores, esperava pela minha visita.É da autoria de Manuela de Azevedo, a primeira mulher jornalista em Portugal.Escreveu poesia,conto,ensaio,foi uma lutadora contra o antigo regime,e uma incançável estudiosa relativamente à biografia de Luis de Camões,e à reconstrução da casa (à altura em ruínas) que se situa na Vila de Constância, e que teria sido propriedade da família do grande Poeta.
Ao folhear uma revista,fiquei a saber que no dia 31 de Agosto próximo,somam 100 anos sobre a data do nascimento em Lisboa,desta senhora que eu muito admiro, mas tenho de me penitenciar pelo facto de não saber se ainda está entre nós. De qualquer modo,os grandes vultos são eternos, porque jamais esquecidos.
Excepções
Entre o ouro da lei, há falsidade;
E entre as estrelas de maior grandeza
Há vultos sem fulgôr e sem beleza,
Como, até nas mentiras, há verdade!...
Entre as brumas da noite, há claridade,
Como surge, no riso, a subtileza
De uma lágrima cheia de tristeza
E, na bonança,surge a tempestade...
No antro do pecado, há criminosos
E há, na virtude, um vício insatisfeito
Como, em deserto, há bosques milagrosos...
E como em toda a regra há excepções,
Entre os homens há feras de respeito
E, entre as feras, há grandes corações!
( Manuela de Azevedo)
1 comentário:
Dilita
Notas muito elucidativas para um Poema sublime e duma actualidade gritante.
Grande Senhora, esta D. Manuela de Azevedo.
Beijos
SOL
http://acordarsonhando.blogspot.com/
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