Por vezes dou comigo a reparar que situações que haviam sido postas de lado estão a ser novamente usadas, quase como novidade e decerto até são, porque o tempo passou e o passado, como o nome indica, é passado e não raro esquecido.
Vi num pequeno apontamento de reportagem, algo oferecido aos residentes duma terra alentejana; uma empresa disponibiliza aos Domingos um autocarro para que as pessoas possam ir à praia. São 40 lugares que são preenchidos entre adultos e crianças.Hora marcada, vão pela manhã, cedinho, e regressam ao fim do dia. Transporte directo,mesmo assim a viagem leva hora e meia. O custo do bilhete não fixei, prendi a atenção na satisfação que aquele grupo manifestava,e disse para mim própria "é preciso tão pouco para umas horas de felicidade."
Não são só as conversas que são como as cerejas, as recordações também se assemelham. E por isso cá estou a recordar.
Foi num Domingo de Agosto, época muito quente, e a praia da Figueira da Foz o lugar de eleição. Carro próprio era luxo de poucos, excepção apenas para quem o veículo era mesmo necessário.Assim, havia o autocarro, a carreira que aos Domingos se multiplicava para levar toda a gente que estivesse nas paragens à espera. A empresa tinha dois ou três autocarros novos, barulhentos que bastasse, e vários arrumados por velhice, mas aos Domingos vinha tudo para a estrada. Mesmo assim, não ficou para a história memória de acidente, mas também à velocidade a que seguiam nunca o perigo seria muito.
Eu com o meu pai,que ia para a pesca, e a minha mãe que me acompanhava, embarcámos em Montemor nossa terra,na primeira camionete, a tal mais nova,e connosco outros Montemorences,iamos todos para a praia. O autocarro ficou logo lotado, e, ao aproximar das paragens,o motorista afrouxava e com a mão fazia sinal aos passageiros que vinha outro autocarro a seguir. Só parámos para sair já na Figueira, encantadas com a rapidez da viagem. Até aqui tudo bem,na praia idem,enfim,um Domingo em beleza. O pior ainda estava para vir ao fim da tarde. Dirijimo-nos para o local da partida,era na rua, ainda não havia Terminal Rodoviário.Entretanto começavam a chegar os respectivos passageiros. Mas quais respectivos? Aquilo era um mar de gente que não parava de aparecer.Estava na hora de sair e a camionete ainda não estava ali. Todos pensavam que não viria só uma mas várias. Puro engano, veio só uma, e das velhas...!Algumas pessoas precipitaram-se aos empurrões e entraram.O motorista fechou logo as portas e informou pela janela, que voltava depois de ir levar aqueles passageiros,e arrancou. Aborrecidas, as pessoas comentavam e manifestavam o desconforto. Já era noite fechada, não havia ali nenhum café,a borda do passeio servia de assento.Entretanto a camionete ia e vinha, ia e vinha, e os ânimos começaram a exaltar-se,e a certa altura num dos momentos de mais um embarque, ouvimos alguém que gritava "anda aqui bulha, andam à pancada dentro da camionete". Logo de seguida o motorista saiu e foi a correr chamar a polícia que ficava sediada ali perto.Regressou a calma e a resignação.
Não foram minutos,foram horas que ali estivemos à espera! Agora já falo de mim e dos meus,embarcámos era meia-noite na última camionete,já nem falávamos,nem sequer para nos lamentarmos ou recordarmos o bom da tarde.
Mas ficou a recordação deste regresso atribulado,que passado algum tempo já nos fazia sorrir!
1 comentário:
É querida o tempo não teria sentido se não fossem as lembranças! Gostei demais do teu Post.Como dissestes tão bem:"é preciso tão pouco para umas horas de felicidade." Basta viver com alegria e pegando com gosto o que para nós de direito foi reservado. Bom domingo, muito sol e muito amor.Forte abraço Eloah
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