domingo, 1 de abril de 2012

Poesia de António Gedeão

Olá amigos que amávelmente me visitam. Desculpem-me, porque eu dei ouvidos á perguiça,e não voltei a colocar nada neste meu birras. Tem sido assim uma espécie de birra sem motivo, que está a querer ser mais forte do que eu; mas vai passar.
Hoje saí, saímos,de casa cedinho de novo rumo ao norte, mais concretamente para Leça da Palmeira onde na Exponor estava a decorrer a Expocosmética, mais um Salão Internacional de Cosmética e Cabelo. Um evento extraordinário totalmente voltado para a beleza feminina e masculina.E entre as centenas de profissionais que ali acorreram, lá esteve o meu marido,como é habitual.
Ainda entrámos no Porto mas de passagem. A viagem foi boa, sem sol é certo, mas com tempo seco. Eu não gosto de viajar de carro com chuva, mas dado as circunstâncias da seca prolongada, hoje quando aparecia uma nuvem mais escurinha eu até desejava que logo começásse a chuver; mas tal não aconteceu. Por outro lado vi-me a braços com uma indisposição. Uma situação dolorosa mesmo, que me apoquentou durante bastante tempo. De modo que hoje não tenho história para contar, mas diz o velho ditado "quem não aparece, esquece", e como eu não quero que me esqueçam, apareci, e vou aqui colocar uma poesia que suponho não ter sido muito divulgada. É do poeta, escritor e pedagogo Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, mais conhecido pelo pseudónimo literário António Gedeão.Da sua autoria todos conhecemos A Pedra Filosofal, A Lágrima de Preta, poemas que foram musicados e aos quais, cantores portugueses deram voz. Assim escolhi este, talvez menos conhecido, ligado à pedra, à escultura, e ao trabalho dos artistas canteiros.

Poema da Pedra Lioz

Álvaro Gois
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Cantanhede,
pedreiros de profissão,
de sombrias cataduras
como bisontes lendários,
modelam ternas figuras
na brutidão dos calcários.

Ali no esconso recanto,
só o túmulo, e mais nada,
suspenso no roxo pranto
de uma fresta geminada.
Mas no silêncio da nave,
como um cinzel que batuca,
soa sempre um truca... truca...
lento, pausado, suave,
truca, truca, truca, truca,
sob a abóbada românica,
como um cinzel que batuca
numa insistência satânica:
truca, truca, truca, truca,
truca, truca, truca, truca.

Álvaro Gois,
RUI Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Cantanhede,
ambos vivos ali estão,
truca,truca, truca, truca,
vestidos de surrobeco
e acocorados no chão,
truca, truca, truca, truca.

No friso, largo de um palmo,
que dá volta a toda a arca,
um Cristo, de gesto calmo,
assiste ao chegar da barca.
Homens de vária função
barrigudos e contentes,
mostram,no riso dos dentes,
o gozo da salvação.
Anjinhos de longas vestes,
e cabelo aos caracóis,
tocam pífaros celestes,
entre cometas e sóis.
Mulheres e homens, sem paz,
esgazeados de remorsos,
desistem de fazer esforços,
entregam-se a Satanás.

Fixando a pedra, mirando-a
quanto mais o olhar se educa,
Mais se entende o truca... truca...
que enche a nave, transbordando-a,
truca, truca, truca, truca,
truca, truca, truca, truca.
No desmedido caixão,
grande senhor ali jaz.
Pupilo de Santanás ?
Alma pura, de eleição ?
Dom Afonso ou Dom João ?
Para o caso, tanto faz.



António Gedeão

2 comentários:

Tétisq disse...

Muito bonito, que bela escolha!
Espero que esteja tudo bem consigo.bjs*

Eloah disse...

Querida todas nós passamos por períodos assim.Paramos, damos um tempo e ficamos inativas, mas depois retornamos.Espero que estejas bem.Gostei do teu post!Poema de raiz.
Não deixe de nos encantar.Bjs Eloah