Volto a falar das férias. Agora já são passado, mas que importa, só o passado se pode recordar...E foi assim; naquela manhã de setembro deixámos Almeirim e retomámos a viagem cujo destino era Armação de Pêra. Embora fazendo algumas breves paragens, e respeitando os limites de velocidade, cêdo chegámos ao Algarve. Decidimos almoçar em São Bartolomeu de Messines. Parece-me que se trata duma Vila e não duma cidade, mas se estou errada que me perdoem os Messinences, porque não estou a menospresar a localidade, de maneira nenhuma. Ela é linda, limpa e branquinha, atributos comuns das terras algarvias, sobretudo daquelas que não têm praia. Logo encontrámos estacionamento, e a dois passos um restaurante. Não procurámos mais; entrámos e não nos arrependêmos. No fim do almoço fomos passear a pé, e deparámos com uma estátua grandiosa de mármore branco, dedicada a um ilustre filho da terra, o Poeta e Pedagogo João de Deus. Recuei à minha infância e lembrei-me de quando estudei na instrução primária (assim chamada na altura) a Professora ter ensinado que João de Deus era o Poeta das crianças, o Poeta da ternura, da bondade, dos versos lindos, que eu e as outras meninas entendiamos e gostávamos. Com o passar do tempo vim a saber que João de Deus era muito mais, do que só o Poeta terno e bom. Era também o autor da cartilha maternal que o celebrisou em 1876, e por onde tantas crianças aprenderam a juntar as primeiras letras, sem o sofrimento que era aprender por livros inadequados para tal. Também era formado em Direito; foi Deputado às Cortes pelo Concelho de Silves e ganhou; foi escritor,tradutor e Poeta de grande mérito. Hoje toda a gente sabe quem foi João de Deus, pelo que me abstenho de escrever em pormenor sobre o seu percurso literário e não só, apenas quero referir que foi homenageado em 1895, uma grande homenagem a que se associou o rei D. Carlos. Foi-lhe proposto um titulo nobiliárquico,que ele recusou. A Academia das Ciências proclamou-o Sócio de Honra. Estudantes de todo o País também o homenagearam: organizaram-se e nesse sentido dirigiram-se em cortejo até á sua residência,em Lisboa.
O Sr. Dr. João de Deus, da sua varanda agradeceu, e rimando, disse de improviso.
Estas honras e este culto
Bem se podiam prestar
A homens de grande vulto.
Mas a mim, poeta inculto,
Espontâneo, popular...
É deveras singular!
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"Só que ele não era inculto..."
Mas os grandes Homens,são sempre modestos.
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