quinta-feira, 25 de abril de 2013

A Cadeia, um triste lugar

Hoje na antena um, no programa da manhã, no espaço chamado Opinião Publica, porque é disso mesmo que se trata, os ouvintes foram convidados a falar sobre as Cadeias do nosso País. Não gostei da maior parte do que ouvi. Felismente, eu de Cadeias (ou Prisões) sei muito pouco e ainda bem, porque para mim aqueles edificios, alguns bonitos, o de Lisboa é um deles, foram sempre um local de expiação para alguém que num momento menos bom, prevaricou de modo grave. Este pensamento é antigo, vem dos tempos da minha juventude vivida em Montemor-o-Velho, uma vila histórica e pacata, onde até havia Cadeia, mas os motivos de ali ir parar, não eram crimes de sangue, resumiam-se a zaragatas e respectiva pancadaria, roubos nas eiras, ou ralhos entre visinhos com insultos, e pouco mais.
A cadeia era um edificio antigo, de rés do chão e primeiro andar, com uma escada larga em pedra; a cosinha enorme era igualmente pavimentada de lages de pedra polida pelo uso. O guarda (carcereiro) residia na própria cadeia com a familia.
Ele era um homem calmo, educado e bom, chamava-se Prudêncio; e a nora uma santa senhora, tinha o nome de Liberdade. Não deixa de ser curioso, estes nomes tão pouco adaptados ao local. Assim, quem fosse para a cadeia "encontrava ali a Liberdade..." As refeições dos presos estavam também a cargo desta familia.
Só uma vez entrei na cadeia própriamente dita, para ir visitar uma familiar. Era a minha comadre que na altura teria uns 40 anos e se envolvera numa cena de pancadaria. Não me recordo já o porquê da desavença, até porque eu não vi.
Mas,aquilo começou com duas pessoas, e no fim eram seis as envolvidas, arranhadas
e magoadas. Resultado:- processadas e julgamento; as duas fações no banco dos réus. O Dr. Juíz atribuiu pena a todas, mas remível a dinheiro. Declinaram; aí ouve unanimidade, não queriam gastar dinheiro, e escolheram ir prá cadeia. E foram! Como estavam de mal, e de mal continuaram, guardaram distância, um grupo dum lado da sala, as outras do outro lado, e assim se mantiveram.
Entrei, e disse adeus a todas, e percebi que estavam tristes, o que era natural.
Mas a minha comadre mostrava-se contente, ria-se, e dizia em voz alta de modo
que as outras ouvissem "- estou aqui muito bem! Eu até precisava de descançar... E enquanto aqui estou, estou a ganhar dinheiro..."
Mas a certa altura, quando as outras visitas falavam alto e estavam entretidas, ela chegou-se ao meu ouvido e baixinho segredou: - ai minha comadre, eu faço esta galhófa para elas não se gozarem de mim, mas sabe? no silêncio da noite eu farto-me de chorar... estes dias estão a ser os piores da minha vida.

Nesta altura eu era uma jovem, mas nunca mais me esqueci destas palavras.
Entretanto, desejei que não fosse necessário voltar mais a uma cadeia, mesmo só para uma simples visita. É sempre mau sinal.

Dizem que na cadeia e no hospital, todos temos um lugar...

Concordo. Mas será bom não o irmos ocupar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá amiga
Tem razão, as cadeias são aposentos que não desejamos ocupar.Mas infelismente cada vez se tornam mais necessárias.Parece que se evoluiu para pior.

Abraço da
Anita.

Anónimo disse...

Cadeia na rua da Cadeia Velha em Montemor-o-Velho.