sábado, 6 de abril de 2013

Recordar, pode ser amargo e doce

Sou conservadora e tenho uma tendência enorme para guardar; guardo as amizades, mas também os papéis. Refiro-me a recortes de jornais onde mora a poesia, ou assunto que me prenda a atenção, e que por isso eu guardo para voltar a ler quando calhar. Com este modo de proceder desde sempre, enchi gavetas, eu até lhes chamo o meu museu, mas para ser franca tenho de confessar, que poucas foram as ocasiões em que ali voltei para ler de novo algo do que tinha gostado antes. Ontem precisei de fazer umas arrumações, e lembrei-me daqueles espaços. Decidida, abri uma das gavetas no propósito de a esvasiar, e mandar para a reciclagem a maior parte daqueles papéis. A intenção falhou, porque comecei a ler, e acabei enternecida, e até bastante comovida... Entre os vários recortes de papel com poesia, ali encontrei lindas e carinhosas palavras de felicitações, escritas em postais escolhidos a preceito, e a mim dirijidas, por amigas que eu perdi porque já partiram para o Além, e de quem eu sinto tanta falta, e tantas saudades... Ao segurar nas mãos aquelas mensagens que o tempo não destruiu, e que eu agora relí uma após outra, senti como é errada aquela afirmação de que "recordar é viver..." Poder recordar, é sinónimo de ter vivido mais para além de determinada data, ou datas, é certo, e gratificante. Porém este recordar, trouxe-me tristeza,foi um amargo e doce em simultâneo de que não consegui alhear-me.
Agrupei todos os postais por ordem e em massinhos, e quase religiosamente coloquei tudo de novo arrumadinho na gaveta.
Apenas uma folha branca permanece ainda na minha frente, e nela, numa caligrafia muito certinha, estas sugestões tão importantes...

Filosofando

Provado está que a vida é curta e bela...
E que se morre um pouco em cada dia,
Não queira "sem querer" dar cabo dela,
Não se irrite. - Sorria!

Queira ser indulgente e confiante;
Seja a própria justiça quem o guie.
E quando vir errar seu semelhante,
Não critique. - Auxilie!

Seja calmo, sereno, recto e bom!
Faça do amar a base, o alicerce;
Tente da voz não alterar o tom:
Não grite. - Converse.

Ponha o "caso " em si sempre que possa,
Deixe falar quem fala... nem repare,
E ouvindo a consciência, amiga nossa:
Não acuse. - Ampare.

Estes conselhos tão sensatos foram-me enviados por uma grande amiga, juntamente com a sua amizade, que vincou na respectiva dedicatória. Não são
da sua autoria, mas tinham o seu apreço.
Se o Céu existe, lá estará esta querida amiga, a Sra. D. Isaura Carvalho.

2 comentários:

Unknown disse...

Vou arrumar na minha gaveta (pc)posso.

Beijo e bom fim de semana.

dilita disse...

Olá caro Sr. Marques.

Grata pela visita.

Claro que pode arrumar.
Também gostou do "Filosofando."

Retribuo os cumprimentos.