quarta-feira, 4 de junho de 2014

Foi há 12 anos

Aquele pequeno Jornal foi como se fora um filho, nascido e criado por nós. Chamámos-lhe Terras de Montemor e Região Centro. E nasceu a 20 de Maio de 2002.
Era bonitinho...



Começou com uma festa no Restaurante Moagem, todo para nós naquela tarde, com um convivio e uma merenda onde não faltou sopa da pedra e churrásco.
Palavras de apresentação da nossa parte, palavras de incitamento de alguns dos convidados presentes, cumprimentos, abraços, (flores para mim) histórias pitorescas, anedotas, e fados de Coimbra.

O meu marido, quando fazia a apresentação do Jornal. É visível o seu entusiasmo... lamento mas não guardei o seu discurso; ou o guardei bem guardado e não sei onde.

 E eu falei assim;
-Caros amigos,
Perdoem a familiaridade, mas a vossa presença vindo junto a nós comemorar este "nascimento" dá-me a natural ousadia. - Terras de Montemor, nasceu, um jornal criação do Olímpio... admiração? Nem por isso, não é o Olímpio um sonhador? E como sabem o Homem sonha, Deus quer, a Obra nasce...  nasce  por vezes imperfeita, mas nasce; e esse facto é já uma realização pessoal. Urge burilá-la e torná-la mais adequada a todos os gostos. Embora na sombra, também eu estou ligada a este jornal, como sempre estive a todas as iniciativas em que o Olímpio ao longo dos anos sempre se envolveu, referentes às Associações de Montemor, e tantas foram, culminando agora na maior de todas, a construção dum jornal embora pequeno; poderá chamar-se a isto arrôjo? leviandade? ou sonho demasiado, dado a sua conhecida limitação cultural ? Só o futuro o dirá... o futuro, e todos vós, porque o jornal não é nosso, é dos Montemorences. Por isso atrevo-me a fazer dois pedidos: o primeiro, é que o leiam... O segundo, que manifestem as vossas opiniões; sujiram, critiquem,digam o que considerarem menos bom ou mesmo errado, pois só assim poderemos melhorar.
Obrigada a todos pela atenção.

Depois das palmas o Dr. David Coutinho usou da palavra e respondeu-me... e eu ouvi com atenção, mas o meu marido sem dar por isso escondeu-me completamente; azar para quem é pequena, que sou eu.

Na sequência, muitos dos presentes usaram da palavra, e por fim (por vezes os ultimos serão os primeiros) falou o Dr. Luís Leal, Presidente da Câmara Municipal de Montemor (estava acompanhado por um Vereador ligado ao Pelouro da Cultura)
que entre palavras de estímulo, reafirmou o apoio Camarário préviamente prometido.

Os estômagos começavam a mostrar queixas, era altura de merendar; e assim aconteceu. A seguir foram as histórias, os fados, as guitarradas, as conversas, e a tarde a chegar ao fim.
Regressámos à Figueira, e entrámos em casa sobraçando as flores e a esperança, mas sentindo já o pêso das responsabilidades. A festa já ficara para trás...

Tinha havido um certo planeamento, a Câmara fizera promessas monetárias, que cumpriu com vista ao inicio do jornal, e iria comparticipar de futuro mensalmente; o meu marido arranjava publicidade, e por certo seria possível saldarmos as despezas inerentes. Tinhamos um grupo de amigos que escrevia as suas crónicas e noticias, a minha filha que práticamente fazia o jornal, eu administrava os dinheiros e os contactos escritos, e escrevia também umas croniquêlhas, e ninguém auferia qualquer vencimento.
Passaram dois meses, o Terras de Montemor era mensal, tinham saído dois e tinham agradado.
Mas, em tudo ou quase tudo há sempre "um mas..." - Numa reunião na Câmara naquelas em que se verificam despesas e contas, um funcionário que ali tinha assento nessa altura, manifestou-se calorosamente, afirmando que se havia dinheiro para este jornal, também tinha de haver para o dele que estava em preparação. Era um amigo nosso, de nome Victor, que eu tantas vezes peguei ao colo quando ele era pequenino, e tantas vezes mimei quando já era rapazinho; e até foi à festa do nosso jornal; - com amigos como este, não preciso de inimigos...
O resto adivinha-se, a Câmara não deu para o jornal dele, mas cortou imediatamente todo o apoio que nos tinha prometido. Ficámos entregues a nós próprios. Confesso que desejei desistir nesse momento. Perdi toda a força inicial, mas o meu marido não, e decidiu continuar. Mudou de tipografia para outra onde o trabalho de impressão e distribuição era  mais barato, pediu mais publicidade, as assinaturas foram aumentando, e embora com dificuldades aguentámo-nos durante um ano. Não podémos ir mais além.  Quando os assinantes pensavam renovar a assinatura, despedimo-nos. Costumo dizer que o Jornal Terras de Montemor, nasceu, viveu, e morreu com dignidade.
São 12 jornais que mandei encadernar e guardo como recordação, e junto com eles guardo também os meus agradecimentos e estima, a quem connosco colaborou, e assim tornou possível a realidade dum sonho, que foi curto é certo, mas bonito enquanto durou.


13 comentários:

Mona Lisa disse...

Não importa o tempo que o sonho durou, mas o teres conseguido concretizá-lo!
Ficará eternamente no baú dos momentos marcante.

Parabéns!

Beijinhos.

dilita disse...

Viva amiga Lisa!

Tem razão,foi mais uma realisação. E deixou boas recordações. Só não escrevi que muitas pessoas lamentaram que o jornal não continuásse a existir. Isso também algo nos disse.

Obrigada,e um abraço.

Nouredini.'. disse...

Olímpio é um homem de coragem e fibra.
O que mais importa é ter ido a luta e defendido seu ideal ao limite.
Parabéns a ambos!

Viviana disse...

Querida Dilita

Como eu gostei de ler este seu texto!

Parabéns, muitos parabéns, por o que ousaram fazer.

Foi pena não ter continuado, mas, na vida, as coisas são mesmo assim...
Se dependesse de nós?...

Um grande abraço
viviana

Anónimo disse...

Eu também fui a esta vossa festa.
E também me fiz assinante do jornal.Foi uma pena não poderem ter continuado.
Na nossa terra sempre existiram ronhosos, prontos a fazerem asneiras. E este fê-las com fartura.Sei o que digo, sou de Montemor, e obviamente por isso,vou ficar em anónimo, mas quero afirmar aqui a minha estima por vós ambos.

dilita disse...

Amiga Nouredini,

Dos fracos não reza a história...

Obrigada pelas saudações.
Beijinho

dilita disse...

Querida Viviana,

Obrigada pelas suas palavras amigas.
-Não perdemos dinheiro, nem ganhámos nenhum, mas ganhámos experiência e mais conhecimentos.Foi pouco, mas mesmo assim valeu a pena.
Beijinho


Beijinho para si amiguinha.

dilita disse...

Caro anónimo,
ou anónima de Montemor

Agradecida pela estima que nos promete.

Já tudo ficou para trás, mas eu ainda tenho boa memória...

Abraço, e volte sempre.

Manuel disse...

É o nosso país, há subsídios para futebol e outras coisas que tal, mas a cultura fica esquecida.
Cumpriram a vossa parte, estão orgulhosos, foi uma bela experiencia.
Agora é olhar em frente!

Nouredini.'. Heide Oliveira disse...

Começa amanhã, dia de Santo Antonio, a semana de Portugal na Bahia.
Teremos comida típica, bebidas, boa poesia e entrega da medalha Fernando Pessoa a autoridades locais.
Na segunda terá lugar a uma torcida organizada para seleção portuguesa que joga aqui.
O evento será sediado no hotel da rede Shereton - Grande Hotel da Bahia e foi anunciado pelo Consul português - Sr. Lomba.
Visitarei em nome dos meus amigos do além mar!

Nouredini.'. Heide Oliveira disse...

Querida amiga,
não fui a semana de Portugal conforme prometida. O trabalho e o expediente encurtado pelos jogos me deixaram a volta com prazos e entregas.
Não me goste menos por isso.
Beijos juninos

dilita disse...

Obrigada Manuel pela visita e pelas palavras amáveis.

Já ficou para trás, já lá vai uma dúzia de anos, agora é só recordação.

Mas é certo o que diz.
E na Câmara houve dinheiro para "muita coisa..."e mais não digo. Agora está no rol das falídas.

Abraço.

dilita disse...

Querida Nouredini

Nem sempre o que projectamos conseguimos efectivar.
Deve ter sido bonito, nomeadamente a sessão artística. Eu gosto muito desses momentos com poesia, e perpectuando Fernando Pessoa com entrega da sua medalha,sendo aí na Baía, eu gostava de ter assistido e na companhia da Nouredini.
Ficamos ambas com o gostarmos, e amigas sempre.

A nossa Selecção esteve mal, mal,foi balde de água fria para os entusiástas.
Hoje? Será igual? Ai, ai, ai.....
Beijinho.