Aquele pequeno Jornal foi como se fora um filho, nascido e criado por nós. Chamámos-lhe Terras de Montemor e Região Centro. E nasceu a 20 de Maio de 2002.
Era bonitinho...
Começou com uma festa no Restaurante Moagem, todo para nós naquela tarde, com um convivio e uma merenda onde não faltou sopa da pedra e churrásco.
Palavras de apresentação da nossa parte, palavras de incitamento de alguns dos convidados presentes, cumprimentos, abraços, (flores para mim) histórias pitorescas, anedotas, e fados de Coimbra.
O meu marido, quando fazia a apresentação do Jornal. É visível o seu entusiasmo... lamento mas não guardei o seu discurso; ou o guardei bem guardado e não sei onde.
E eu falei assim;
-Caros amigos,
Perdoem a familiaridade, mas a vossa presença vindo junto a nós comemorar este "nascimento" dá-me a natural ousadia. - Terras de Montemor, nasceu, um jornal criação do Olímpio... admiração? Nem por isso, não é o Olímpio um sonhador? E como sabem o Homem sonha, Deus quer, a Obra nasce... nasce por vezes imperfeita, mas nasce; e esse facto é já uma realização pessoal. Urge burilá-la e torná-la mais adequada a todos os gostos. Embora na sombra, também eu estou ligada a este jornal, como sempre estive a todas as iniciativas em que o Olímpio ao longo dos anos sempre se envolveu, referentes às Associações de Montemor, e tantas foram, culminando agora na maior de todas, a construção dum jornal embora pequeno; poderá chamar-se a isto arrôjo? leviandade? ou sonho demasiado, dado a sua conhecida limitação cultural ? Só o futuro o dirá... o futuro, e todos vós, porque o jornal não é nosso, é dos Montemorences. Por isso atrevo-me a fazer dois pedidos: o primeiro, é que o leiam... O segundo, que manifestem as vossas opiniões; sujiram, critiquem,digam o que considerarem menos bom ou mesmo errado, pois só assim poderemos melhorar.
Obrigada a todos pela atenção.
Depois das palmas o Dr. David Coutinho usou da palavra e respondeu-me... e eu ouvi com atenção, mas o meu marido sem dar por isso escondeu-me completamente; azar para quem é pequena, que sou eu.
Na sequência, muitos dos presentes usaram da palavra, e por fim (por vezes os ultimos serão os primeiros) falou o Dr. Luís Leal, Presidente da Câmara Municipal de Montemor (estava acompanhado por um Vereador ligado ao Pelouro da Cultura)
que entre palavras de estímulo, reafirmou o apoio Camarário préviamente prometido.
Os estômagos começavam a mostrar queixas, era altura de merendar; e assim aconteceu. A seguir foram as histórias, os fados, as guitarradas, as conversas, e a tarde a chegar ao fim.
Regressámos à Figueira, e entrámos em casa sobraçando as flores e a esperança, mas sentindo já o pêso das responsabilidades. A festa já ficara para trás...
Tinha havido um certo planeamento, a Câmara fizera promessas monetárias, que cumpriu com vista ao inicio do jornal, e iria comparticipar de futuro mensalmente; o meu marido arranjava publicidade, e por certo seria possível saldarmos as despezas inerentes. Tinhamos um grupo de amigos que escrevia as suas crónicas e noticias, a minha filha que práticamente fazia o jornal, eu administrava os dinheiros e os contactos escritos, e escrevia também umas croniquêlhas, e ninguém auferia qualquer vencimento.
Passaram dois meses, o Terras de Montemor era mensal, tinham saído dois e tinham agradado.
Mas, em tudo ou quase tudo há sempre "um mas..." - Numa reunião na Câmara naquelas em que se verificam despesas e contas, um funcionário que ali tinha assento nessa altura, manifestou-se calorosamente, afirmando que se havia dinheiro para este jornal, também tinha de haver para o dele que estava em preparação. Era um amigo nosso, de nome Victor, que eu tantas vezes peguei ao colo quando ele era pequenino, e tantas vezes mimei quando já era rapazinho; e até foi à festa do nosso jornal; - com amigos como este, não preciso de inimigos...
O resto adivinha-se, a Câmara não deu para o jornal dele, mas cortou imediatamente todo o apoio que nos tinha prometido. Ficámos entregues a nós próprios. Confesso que desejei desistir nesse momento. Perdi toda a força inicial, mas o meu marido não, e decidiu continuar. Mudou de tipografia para outra onde o trabalho de impressão e distribuição era mais barato, pediu mais publicidade, as assinaturas foram aumentando, e embora com dificuldades aguentámo-nos durante um ano. Não podémos ir mais além. Quando os assinantes pensavam renovar a assinatura, despedimo-nos. Costumo dizer que o Jornal Terras de Montemor, nasceu, viveu, e morreu com dignidade.
São 12 jornais que mandei encadernar e guardo como recordação, e junto com eles guardo também os meus agradecimentos e estima, a quem connosco colaborou, e assim tornou possível a realidade dum sonho, que foi curto é certo, mas bonito enquanto durou.
13 comentários:
Não importa o tempo que o sonho durou, mas o teres conseguido concretizá-lo!
Ficará eternamente no baú dos momentos marcante.
Parabéns!
Beijinhos.
Viva amiga Lisa!
Tem razão,foi mais uma realisação. E deixou boas recordações. Só não escrevi que muitas pessoas lamentaram que o jornal não continuásse a existir. Isso também algo nos disse.
Obrigada,e um abraço.
Olímpio é um homem de coragem e fibra.
O que mais importa é ter ido a luta e defendido seu ideal ao limite.
Parabéns a ambos!
Querida Dilita
Como eu gostei de ler este seu texto!
Parabéns, muitos parabéns, por o que ousaram fazer.
Foi pena não ter continuado, mas, na vida, as coisas são mesmo assim...
Se dependesse de nós?...
Um grande abraço
viviana
Eu também fui a esta vossa festa.
E também me fiz assinante do jornal.Foi uma pena não poderem ter continuado.
Na nossa terra sempre existiram ronhosos, prontos a fazerem asneiras. E este fê-las com fartura.Sei o que digo, sou de Montemor, e obviamente por isso,vou ficar em anónimo, mas quero afirmar aqui a minha estima por vós ambos.
Amiga Nouredini,
Dos fracos não reza a história...
Obrigada pelas saudações.
Beijinho
Querida Viviana,
Obrigada pelas suas palavras amigas.
-Não perdemos dinheiro, nem ganhámos nenhum, mas ganhámos experiência e mais conhecimentos.Foi pouco, mas mesmo assim valeu a pena.
Beijinho
Beijinho para si amiguinha.
Caro anónimo,
ou anónima de Montemor
Agradecida pela estima que nos promete.
Já tudo ficou para trás, mas eu ainda tenho boa memória...
Abraço, e volte sempre.
É o nosso país, há subsídios para futebol e outras coisas que tal, mas a cultura fica esquecida.
Cumpriram a vossa parte, estão orgulhosos, foi uma bela experiencia.
Agora é olhar em frente!
Começa amanhã, dia de Santo Antonio, a semana de Portugal na Bahia.
Teremos comida típica, bebidas, boa poesia e entrega da medalha Fernando Pessoa a autoridades locais.
Na segunda terá lugar a uma torcida organizada para seleção portuguesa que joga aqui.
O evento será sediado no hotel da rede Shereton - Grande Hotel da Bahia e foi anunciado pelo Consul português - Sr. Lomba.
Visitarei em nome dos meus amigos do além mar!
Querida amiga,
não fui a semana de Portugal conforme prometida. O trabalho e o expediente encurtado pelos jogos me deixaram a volta com prazos e entregas.
Não me goste menos por isso.
Beijos juninos
Obrigada Manuel pela visita e pelas palavras amáveis.
Já ficou para trás, já lá vai uma dúzia de anos, agora é só recordação.
Mas é certo o que diz.
E na Câmara houve dinheiro para "muita coisa..."e mais não digo. Agora está no rol das falídas.
Abraço.
Querida Nouredini
Nem sempre o que projectamos conseguimos efectivar.
Deve ter sido bonito, nomeadamente a sessão artística. Eu gosto muito desses momentos com poesia, e perpectuando Fernando Pessoa com entrega da sua medalha,sendo aí na Baía, eu gostava de ter assistido e na companhia da Nouredini.
Ficamos ambas com o gostarmos, e amigas sempre.
A nossa Selecção esteve mal, mal,foi balde de água fria para os entusiástas.
Hoje? Será igual? Ai, ai, ai.....
Beijinho.
Enviar um comentário