quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Os Reis Magos na Figueira da Foz

Quase sem eu dar por isso chegou o dia de Reis. Aqui na Figueira da Foz (minha terra adoptiva) ainda se recorda a chegada dos Reis Magos à cabana de Belém. Assim ano após ano um grupo de “resistentes”, e uso esta expressão porque a maioria das pessoas já perdeu a alegria e a paciência para actuar, e dar continuidade a uma tradição que tem valor e é de manter, mas que dá trabalho e faz perder tempo. Eu disse perder, mas está errado, com estas iniciativas não se perde tempo, gánha-se em realisação e convivio o que é bastante salutar.
Hoje a noite não estará talvez de feição, faz vento, o sol que já apareceu muito desmaiado,já se escondeu, secalhar a chuva voltará com o anoitecer, o que é de lamentar. Confesso que também desconheço o programa, mas recordo que há alguns anos atrás, valia a pena sair de casa e ir até à rua da Républica para ver passar o cortejo.Os reis vinham coroados, vestidos com trajes de cetim e veludo, capas longas pendendo dos ombros, montados em cavalos, e até o rei preto (que era branco) se sujeitava a uma maquilhagem forte para que o seu rosto e mãos ficássem de cor negra. Outros figurantes os acompanhavam, pastores com cordeiros ás costas, mulheres do povo trajando ao jeito daquela época, rapazes com archotes, e a filarmónica e gaiteiros. A assistência animada aplaudia com alegria. Depois de desfilarem pelas ruas, havia a representação dum auto dos Reis Magos. Hoje não sei como será, mas algo há-de haver. E depois, adeus até ao ano.

Perdoem, mas eu sou adepta de poesia, e neste fim de festas Natalicias, não podia deixar de incluir umas rimas (lindas). Se gostar de poesia for pecado, então eu sou uma pecadora, sem direito a perdão...
Mas para não “massar” muito, hoje escolhi um pequenino trecho dum grande poeta português, que até sofreu consigo próprio, mas não conseguiu ser crente. Porém a sua sensibilidade é por de mais evidente.

Último Natal (1990)

Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção,
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça.
Com ele me desobrigo e desengano
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.

(Miguel Torga)

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