Hoje lembrei-me dela, nem sei porquê. Da professora de quem fui aluna durante pouco tempo, na então Instrução Primária, na minha infância.
E recordei-me não com saudade. Saudade tenho sim da D. Lourdes, a professora que me aturou nos 4 anos dos primeiros estudos,que ensinava e acarinhava todas as crianças nas suas aulas.
Recordei-me daquela professora, ainda consigo vê-la de bata cor de rosa, e sapatos de camurça prêta. Era de baixa estatura e um pouco forte. Nas aulas usava óculos, uns óculos redondos. E do lado direito na secretária também um objecto que ela usava diáriamente, uma régua grossa.
Nesta época as aulas começavam a 7 de Outubro e a idade escolar era aos 7 anos.
Como eu já sabia as letras, e já lia, entrei com 6 anos, favor da D. Lurdes, só para andar na escola, mas no fim do ano lectivo passei de classe e no seguinte passei de novo,e fui frequentar a 3ª classe com a tal professora da bata rosa. Já sabia que não faria exame no fim do ano,(não tinha idade) poderia, se pagásse uma licença de vários escudos, mas o meu pai não quis.
Ficaria dois anos na terceira classe, era novinha, não fazia mal. Todas nós alunas tinhamos de fazer diáriamente uma cópia em casa, e todas nós faziamos erros na dita. Aquilo irritava sobremaneira a professora, uma vez que nos ditados tal não acontecia. Ela marcava a lápis todos os erros, e eram muitos, contava-os... e então quando pouco faltava para acabar a aula chamava-nos uma a uma, e fazia a contabilidade com a régua nas nossas duas mãos. Assim, duas ou tres reguadas por cada erro, o que somava sempre para cima de vinte. Apesar da distância, eu ainda hoje me lembro muito bem como ficavam as mãos, e eu nunca apanhei muitas.
Chegou o dia de quinta-feira da Ascenção, o dia da Espiga. Era dia Santo, mas ela não deu feriado, disse que havia escola de manhã, só para marcar passo no átrio, e cantar.
Este dia era muito respeitado na época, até se dizia - SE OS PASSARINHOS SOUBESSEM QUANDO ERA DIA DA ASCENÇÃO,NÃO TIRAVAM PÉ DO NINHO PRA PÔR O BICO NO CHÃO -
Era costume a minha mãe e eu, irmos à missa das 11, e fomos. (não fui à escola).
Como eu iria andar dois anos na 3ª classe, não tinha importância faltar.
De tarde fui com as minhas amigas apanhar o ramo da Espiga, o ramo da Hora como então se dizia.
Tudo bonito até ao dia seguinte, à hora de ir à escola. Eu que sempre fui de boa vontade, desta vez sabendo o que me esperava não queria ir, e dizia porquê. Então a minha mãe foi comigo,ficou cá fora e disse para eu dizer à Sra. que queria falar com ela. Também agora eu a estou a ver, encostada à secretária do lado de fora, braços cruzados à espera que chegássem todas as alunas faltosas, para depois distribuir as reguadas da praxe. Estarrecida, não dei o recado, foi outra menina que chegou daí a pouco que disse à professora que a minha mãe estava à espera.
Ela encaminhou-se calmamente para a porta, enquanto eu fiquei com o coração apertado. Mas a falar é que as pessoas se entendem, não é? Às vezes nem tanto, mas aqui entenderam-se, e naquele dia não ouve reguadas para ninguém.
Passado algum tempo,esta Sra. sofreu uma perda irreparável,um desgosto terrivel, e deixou o ensino.
Entretanto eu voltei prá D. Lurdes.
E recordei-me não com saudade. Saudade tenho sim da D. Lourdes, a professora que me aturou nos 4 anos dos primeiros estudos,que ensinava e acarinhava todas as crianças nas suas aulas.
Recordei-me daquela professora, ainda consigo vê-la de bata cor de rosa, e sapatos de camurça prêta. Era de baixa estatura e um pouco forte. Nas aulas usava óculos, uns óculos redondos. E do lado direito na secretária também um objecto que ela usava diáriamente, uma régua grossa.
Nesta época as aulas começavam a 7 de Outubro e a idade escolar era aos 7 anos.
Como eu já sabia as letras, e já lia, entrei com 6 anos, favor da D. Lurdes, só para andar na escola, mas no fim do ano lectivo passei de classe e no seguinte passei de novo,e fui frequentar a 3ª classe com a tal professora da bata rosa. Já sabia que não faria exame no fim do ano,(não tinha idade) poderia, se pagásse uma licença de vários escudos, mas o meu pai não quis.
Ficaria dois anos na terceira classe, era novinha, não fazia mal. Todas nós alunas tinhamos de fazer diáriamente uma cópia em casa, e todas nós faziamos erros na dita. Aquilo irritava sobremaneira a professora, uma vez que nos ditados tal não acontecia. Ela marcava a lápis todos os erros, e eram muitos, contava-os... e então quando pouco faltava para acabar a aula chamava-nos uma a uma, e fazia a contabilidade com a régua nas nossas duas mãos. Assim, duas ou tres reguadas por cada erro, o que somava sempre para cima de vinte. Apesar da distância, eu ainda hoje me lembro muito bem como ficavam as mãos, e eu nunca apanhei muitas.
Chegou o dia de quinta-feira da Ascenção, o dia da Espiga. Era dia Santo, mas ela não deu feriado, disse que havia escola de manhã, só para marcar passo no átrio, e cantar.
Este dia era muito respeitado na época, até se dizia - SE OS PASSARINHOS SOUBESSEM QUANDO ERA DIA DA ASCENÇÃO,NÃO TIRAVAM PÉ DO NINHO PRA PÔR O BICO NO CHÃO -
Era costume a minha mãe e eu, irmos à missa das 11, e fomos. (não fui à escola).
Como eu iria andar dois anos na 3ª classe, não tinha importância faltar.
De tarde fui com as minhas amigas apanhar o ramo da Espiga, o ramo da Hora como então se dizia.
Tudo bonito até ao dia seguinte, à hora de ir à escola. Eu que sempre fui de boa vontade, desta vez sabendo o que me esperava não queria ir, e dizia porquê. Então a minha mãe foi comigo,ficou cá fora e disse para eu dizer à Sra. que queria falar com ela. Também agora eu a estou a ver, encostada à secretária do lado de fora, braços cruzados à espera que chegássem todas as alunas faltosas, para depois distribuir as reguadas da praxe. Estarrecida, não dei o recado, foi outra menina que chegou daí a pouco que disse à professora que a minha mãe estava à espera.
Ela encaminhou-se calmamente para a porta, enquanto eu fiquei com o coração apertado. Mas a falar é que as pessoas se entendem, não é? Às vezes nem tanto, mas aqui entenderam-se, e naquele dia não ouve reguadas para ninguém.
Passado algum tempo,esta Sra. sofreu uma perda irreparável,um desgosto terrivel, e deixou o ensino.
Entretanto eu voltei prá D. Lurdes.
5 comentários:
Querida Dilita...naqueles tempos, nossa, costumava-se aplicar castigos corporais...ai...tremo só de pensar...Hoje, as coisas estão mudadas...
Que bonita lembrança de tua infância, apesar de dolorida!!Beijinhos
obrigado por seus comentarios em meu blog, prazer em conhece-la. gostei do texto, recordar é viver.
um abraço
Olá, Dilita
Também eu teria muita coisa para contar acerca da minha professora da instrução primária: Dª Maria Angélica da Conceição Lopes Alves Rodrigues...
Ela, para além ga grossa régua usava a cana da India, torcia as orelhas e dava murros na cabeça das crianças.
Tão má que era!
Creio que já deve ter ido dar contas a Deus.
Um anraço
viviana
O trbalho escolar dantes era obtido à custa do medo.
O sucesso vinha mais tarde a dar razão aos castigos e como que a perdoar todos os que tinham sido mais severos...
Hoje não há castigos corporarais, não há medo, pode respirar-se nas salas de aula e as faltas não contam para nada...Se não se tivesse dado a falência dos valores e se as famílias se tivessem mantido, se a base económica desse razão ao sucesso escolar e o valorizasse...estaríamos no Paraíso...por agora,parece que aida temos de andar no Purgatório...
belo texto! Gostei! Vê-se e sente-se a simplicidade das crianças e a aura de poder da professora.
Vilma
Dilita, recordar é viver.. Gostei muito das coisas que vi por aqui, dos assuntos variados , textos informativos, saudosistas.
Também me instalei por aqui, pois identifiquei com essa renda de birra!
Parabéns, um abraço carinhoso do Brasil!
Enviar um comentário