segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O Cinema em Tempos Idos

O cinema (os filmes)
Nesta época do ano esta arte é lembrada com mais assiduidade. Fala-se nos realizadores, nos atores, e nos filmes candidatos a óscares, e a césares, dão-se opiniões, fazem-se vaticinios, e na noite das entregas dos almejados troféus assiste-se à cerimónia, que vale a pena ver, até por razões de elegancia e luxo de indumentárias.
Comecei por  pensar nesta realidade actual, mas acabei  por me deter no passado,  num recuo de muitos anos, situando-me nas recordações de que faço as minhas histórias. E lembrei-me do cinema, no meu Montemor-o-Velho, e eu pequenita a assistir quando ainda não havia classificação especial em relação à idade dos espectadores. Eu teria talvez uns cinco anos, podia estar ao colo... mas o meu pai não queria, e comprava sempre um lugar para mim. A minha mãe levava um banquito que ela própria tinha tornado confortável, acoplando-lhe uma almofada de tecido colorido. Colocava-o no lugar marcado e aí estava eu instalada à altura dos adultos. Só havia cinema de mês a mês, mesmo mais tarde, quando eu já não precisava do banquito...
E era assim: com oito dias de antecedência aparecia nas poucas lojas da Vila a publicidade; um retangulo de papel de seda de côr garrida com a fotografia dum ou dois dos atores intervenientes, umas palavras chamativas, a data e a hora. Depois
no dia marcado, pelas quatro horas chegava a furgoneta com os apetrechos para a projeção, e logo, logo, instalavam na varanda do Teatro a aparelhagem sonora que transmitia em muito alta voz, fados, cançonetas, folclore, até à hora de jantar. O filme começava ás nove. Ir ao cinema em dia de semana era um prazer enorme. Eram filmes muito rodados, às vezes partiam, as pessoas lamentavam, mas ninguém refilava, era o que havia... Mas foi ali que vi o Vasco Santana, o António Silva, a Beatriz Costa,e mais grandes atores intervenientes nesses filmes portugueses, que ainda hoje vemos com agrado na TV Memória, ou que até guardamos na nossa estante.
Talvez por ter começado  muito cedo a ir ao cinema, mesmo tendo em conta que pouco devia perceber, a verdade é que ainda hoje gosto bastante, embora não de todos os filmes da actualidade. Recordo que em Lisboa iamos de vez em quando ao cinema, e em Braga onde vivemos onze anos, iamos muitas vezes, nessa altura era barato. Agora o cinema tornou-se caro, algumas salas são desconfortáveis, e embora o grande ecran seja uma tentação, optamos pela comodidade do sofá e bastamo-nos com a imagem reduzida; o filme vem ter a casa, e se não agrada escolhe-se outro ou simplesmente anula-se a transmissão.Tudo fácil.
Mas o encanto daqueles tempos, apesar do péssimo sonoro, roufenho tantas vezes, da fita que partia,do filme que por vezes não valia nada, deixou marcas, tanto assim que hoje o recordei.

8 comentários:

lenalima disse...

Adoro ler seus contos ...me identifico com alguns e tenho sdsss. Também adoro um cinema , mas já não vou tanto,aqui temos salas de cinema bem confortáveis o cine Max,
mas eu e marido já não temos muita disposição para sair por causa do transito..já q marido dirige muito para ir e voltar do trabalho, cansa!.mas de vez e outra nos aventuramos pelas telas da vida...muito bom!
bjss

Unknown disse...

A nostalgia das pequeninas coisas que antigamente faziam as nossas delicias, pois tínhamos tão pouco...
Fui - e ainda o sou - cinéfilo confesso e vou deixar no Arrozcatum umas fotos de homenagem a este seu post...
Saudações
Zito

Evaldo disse...

Conheci o cinema com quase oito anos de idade, quando meus pais mudaram-se do campo para a cidade. O fascínio pelas telas permanece até hoje, mas nada comparável à década de 60, quando o espírito infanto-juvenil maravilhava-se com tanto encanto.
De vez em quando eu me juntava aos colegas para fazer experiências com latas, lâmpadas, lentes e pequenos pedaços de filmes, recortes, que não era muito difícil encontrar. Então a brincadeira durava horas a fio, cada um de nós inventando o seu próprio teatro imaginário.
Foi bom recordar, Dilita.
Paz e Alegria!

dilita disse...

Querida Lenalima

Obrigada pelo seu comentário,e por gostar do que escrevo.
É tudo muito simples, sem pretensões. Gosto de escrever e de ler. E gosto de cinema...
Beijinho.

dilita disse...

Olá Zito

Tinhamos tão pouco, mas talvez por isso mesmo apreciavamos mais.

Fui ao Arrozcatum e lá encontrei as fotos dos artistas de cinema daqueles tempos. Já todos partiram...
gostei de ver e recordar.
Obrigada.
Abraço.

dilita disse...

Olá Evaldo!

É agradável recordar esse tempo em que a creatividade se evidenciava, pela "necessidade" de ter algo relativo ao cinema. Algo que pudesse projectar as imagens; ou fazer de conta...

Eu só guardava os bocaditos de filme que apareciam no chão na rua, depois de varrerem o Teatro.
Era lixo, mas não para mim.
Abraço, e volte sempre.
Obigada.

Viviana disse...

Olá Dilita

É um gosto ler os "registos" que o seu coração guarda.
É uma boa contadora de histórias vividas.
Continue a fazê-lo, porquanto nós, seus leitores, apreciamos e agradecemos.

Um grande abraço
Viviana

dilita disse...

Obrigada Viviana!
Isto só prova que eu gosto de falar... Mas a verdade é que só converso com a família mais chegada. Não se proporciona falar com outas pessoas além dos cumprimentos de boa vizinhança.
Em contrapartida falo para quem me lê, e estou agradecida por isso.
Beijinho.