terça-feira, 29 de novembro de 2011

A planta que viajou de avião

Foi há mais ou menos quatro anos. Num dia em que eu estava particularmente deprimida por um luto que me fazia sofrer muito. O correio trouxe-me uma revista da qual eu era assinante, e que na maior parte das vezes eu folheava quase a êsmo.
Mas desta vez fui lendo com algum interesse,e encontrei um apelo duma senhora que pedia correspondencia de alguém. Residia na Ilha da Madeira, vivia muito só, e uma cartinha com uma palavra simpática ia fazer-lhe bem (dizia ela). Como disse, eu estava muito triste e decidi, vou escrever, talvez me faça bem a mim também. Recordo que escrevi pouco, e fui franca disse-lhe que não estava nada animada, e que por isso talvez nem fosse a pessoa indicada para lhe minimisar com as minhas palavras a sua solidão. Mas eu estava errada, porque sem nunca nos vermos, até já somos amigas. O nome dela é Ana, mas como tem menos 10 anos do que eu, para mim é a Anita. E a Anita ainda não perdeu a esperança de nos ver na Madeira, e impossível não é, só que ainda não se proporcionou. Ela é muito doente, já passou por intervenções cirurgicas, e actualmente prefere medicamentos naturais, para lhe acalmar o sofrimento que não raro a atormenta. Nós contactamos por mensagens e telefone. Numa das conversas habituais, fiquei a saber que o medicamento de que ela mais precisava, não estava à venda na farmácia de lá. Eu disse que ia procurar aqui e que mandava. Ela aceitou, claro, as amigas são para as ocasiões digo eu, e assim aconteceu, a própria firma o enviou para a Madeira. Fiquei contente, eu penso que aquele que oferece algo, é o primeiro a sentir alegria. O que recebe já está em segundo lugar.
Hoje, logo de manhã o correio trouxe-me uma encomendinha. De onde vinha? Da Anita, da Madeira. Curiosa abri, e o que tinha? Bolinhos regionais, e um outro maravilhoso, o tradicional bolo da Madeira. Mas ainda não é tudo, num saquinho aconchegadas 3 plantinhas da Ilha. Valentes, viajaram de avião, e chegaram em boas condições. Logo,logo, a minha filha foi tratar da plantação, e como nada acontece por acaso, até havia na marquise um vaso com terra, pronto a acolhê-las.
E que dizer mais? Que gostei! Gostei de tudo, ( eu até sou gulosa por estes doces da bela Ilha). E sobremaneira gostei do gesto simpático e amigo da Anita.

3 comentários:

Francisco Domingues disse...

Muito bonitas as atitudes de ambas! Mas sempre me fez espécie aquela frase de Jesus a quem chamaram de Cristo: "Amai os vossos inimigos pois se amais só os vossos amigos que méritos tereis?" Claro, Lilita, que iso não é uma crítica, é só para pensar! Aliás, até que ponto devemos/podemos amar estes nossos inimigos que destroem e roubam o país e o mundo?!!!

Tétisq disse...

E, vingou viçosa a planta, certamente como a amizade plantada com uma sementinha desinteressada...*

Eloah disse...

Que belo gesto, o teu e o dela.
Sentimento seja de amizade, solidão, solidariedade, carinho e outros tantos mais são de imenso valor e tocam a alma de quem oferece e de quem recebe.
Querida que tuas plantinhas cresçam assim como esta amizade que nasceu e cresceu de um momento solidário.
Dias encantados.bjs Eloah