quarta-feira, 12 de junho de 2013

Santo António de Lisboa

Amanhã é dia de Santo António. Comemora-se na Liturgia, mas também com festas ruidosas, danças, marchas populares, e foguetes.
Eu sempre respeitei muito este Santo, é o nosso Santo português, que até nos é disputado por Pádua. Já aqui tenho confessado,e com lamentos, a minha falta de fé, ou antes a respectiva perda gradual, pois tempos existiram em que eu era crente em absoluto, e creiam que actualmente até sinto mágoa pela alteração do meu pensamento. Várias vezes pedi proteção a Santo António, e sempre me "ouviu"... Comprei a sua imagem de marfinite, em Braga, e está connosco há mais de trinta anos.
No entanto, esta dualidade em que me debato, esta dificuldade em assumir sem dúvidas, vive em mim e é mais forte do que eu. 


Mas não é por isto que deixo de respeitar, e admirar o nosso Santo António,franciscano,missionário, mestre de teologia em Bolonha, Montpellier e Tolouse, grande pregador e póstumamente Doutor da Igreja. Antes de ser Santo ele foi um Homem de extraordinária inteligência,e dedicação aos seus semelhantes, sobretudo aos mais carenciados. Foi um Homem diferente, daí estar nos altares.

Não resisto a colocar aqui uma poesia alusiva a Santo António. Ela é por de mais conhecida, mas é tão bonita....

O Passeio de Santo António

Saíra Santo António do convento,
A dar o seu passeio costumado
E a decorar, num  tom rezado e lento,
Um cândido sermão sobre o pecado

Andando, andando sempre, repetia
O divino sermão piedoso e brando,
E nem notou que a tarde esmorecia,
Que vinha a noite plácida baixando...

E andando, andando, viu-se num outeiro,
Com árvores e casas espalhadas,
Que ficava distante do mosteiro
Uma légua das fartas, das puxadas.

Surpreendido por se ver tão longe,
E fraco por haver andado tanto,
Sentou-se a descansar o bom do monge,
Com a resignação de quem é santo...

O luar, um luar claríssimo nasceu.
E num raio dessa linda claridade,
O Menino Jesus baixou do céu,
Pôs-se a brincar com o capuz do frade.

Perto, uma bica d'água murmurante
Juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Os rouxinóis ouviam-se distante
O luar, mais alto, iluminava mais.

De braço dado, para a fonte, vinha
Um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha,
Ele trazia... o coração no peito.

Sem suspeitarem de que alguém os visse,
Trocaram beijos ao luar tranquilo.
O Menino, porém, ouviu e disse:
- Ó Frei António, o que foi aquilo?...

O Santo, erguendo a manga de burel
Para tapar o noivo e a namorada,
Mentiu numa voz doce como o mel:
- Não sei o que fôsse. Eu cá não ouvi nada...

Uma risada límpida, sonora,
Vibrou em notas de oiro no caminho.
- Ouviste, Frei António, ouviste agora?
- Ouvi, Senhor, ouvi. É um passarinho...

- Tu não estás com a cabeça boa...
Um passarinho a cantar assim!...
E o pobre Santo António de Lisboa
Calou-se embaraçado, mas por fim,

Corado como as vestes dos cardeais,
Achou esta saída redentora:
- Se o Menino Jesus pergunta mais,
... Queixo-me à sua mãe Nossa Senhora!

Voltando-lhe a carinha contra a luz
E contra aquele amor sem casamento,
Pegou-lhe ao colo e acrescentou: Jesus,
São horas... E abalaram pró convento.

(Augusto Gil)


2 comentários:

Eloah disse...

Querida que linda a imagem de Santo Antônio que conservas durante mais de 30 anos.Isto se chama fé.Temos todos ,nossos momentos de dualidade, mas isto não modifica o que arraigado possuímos e que dorme no silêncio da alma.Aqui, no Brasil, temos festas alusivas a data e muita reza para glorificar este Santo tão amado.
Bjs no coração Eloah

dilita disse...

Querida Eloah

Já tinha saudades de a "ver" por aqui.
Muito obrigada pelas palavras tão bonitas que escreveu para mim.

Continuo a visitar o seu blog,e a gostar muito dele,porém enviar comentário não consigo. Há qualquer impedimento,será vírus?
(mas vou insistindo,porque espero que o mal passe)
Beijinho.