terça-feira, 11 de junho de 2013

Recordando

Não sei desde quando eu reparei na poesia (decerto nos bancos da escola) e comecei a gostar de a ler, para mim, naturalmente. Confesso que de tanto a apreciar, quando apareceram as rádios pirata, e eu, e o meu marido, nos tornámos "rádialistas à pressa" aos sábados à noite durante três horas, eu tratei logo de lançar no meu espaço uma rubrica de poesia. Chamei-lhe O Cantinho do Poeta! Eu não sabia declamar poesia, limitava-me por isso, a lêr o melhor que podia, e com persistência consegui até melhorar um pouquinho. Ai, como eu gostei de recordar os poetas portugueses, nunca repeti nenhum, era mesmo necessário ser surpreza. Em casa fazia um curto texto sobre a biografia, e escolhia um soneto, ou umas quadras, conforme o poeta a recordar e sua obra, e lá ao microfone, depois de ler o texto primeiro, e a poesia a seguir, fazia a pergunta:-"estimados ouvintes, como se chama este poeta?..." Quando o telefone começava a tocar do lado de lá do vidro, e o camaramen me fazia sinal que ia colocar o ouvinte "no ar" para eu atender, o mundo lá fora podia parar, porque o meu mundo estava ali... Aquela hora era minha, as restantes eram de nós os dois, mas essa produção era do meu marido, apenas a musica era da minha escolha, derresto eu levava sempre dos meus discos, de casa. E nestas andanças permaneci perto de tres anos. O meu marido um pouco mais. A rádio prende, hoje recordo e tenho saudades de tudo, dos companheiros que já partiram, das conversas e risadas entre todos com o microfone fechado, das atenções dos ouvintes, até do nervoso que por vezes era dificil de evitar.
Também tenho uma história, e vou contar.

- Tinha terminado o meu espaço de poesia, quando o director de programas me chamou, para me dizer que aquele ouvinte de Coimbra (disse o nome) lhe tinha perguntado se eu sabia uma poesia do Conde de Monsaráz, intitulada A Lenda das Arcas; ele respondeu que decerto eu sabia, mas se me queria perguntar, eu podia ir atender o telefone, e ele queria de facto perguntar-me. Lá fui ao telefone atender o ouvinte, que era delicado, e gostava de poesia, gostava do programa, e lá me falou da tal poesia das Arcas, que ele conhecia e eu também, e eu ainda o informei, de que na Figueira da Foz existia um palacete, onde o autor desse poema teria nascido... A conversa até estava aparentemente para durar, quando ele me perguntou " o Sr. Olímpio é seu pai, não é? " Com a maior das naturalidades, respondi com a verdade, que era meu marido, e já há muitos anos.
Um tanto atrapalhado pediu desculpas, que eu lhe disse desnecessárias, pois não se tratou de nenhuma ofensa. " No intimo até achei graça, mas não lhe disse..."
A conversa acabou logo; disse adeus, e nunca mais voltou a telefonar para responder no programa de poesia, do qual ele era habitual.

E  quem foi  a culpada  disto tudo ? A Poesia !

 

2 comentários:

Viviana disse...

Querida Dilita

Então? Que linda e interessante surpresa!
Um programa de poesia?

Deve ter sido fantástico!

Quanto á "história" do senhor que telefonou, que julgava que o Olímpio era seu pai, creio que ficou um tanto envergonhado com a "gafe", não acha?

Que tudo corra bem por aí.
Um grande abraço
Viviana

dilita disse...

Benvinda até ao meu cantinho.

Sim, foi isso,sentiu-se desconfortável...

Precipitou-se na forma como fez a pergunta; podia ser assim:- o Sr. Olímpio é seu familiar? Ficava tudo salvaguardado.

Achei graça, mas não censurei,e hoje recordo com um sorriso e até simpatia. "Bons tempos..."